Folha de S.Paulo

Guilherme Benchimol Diversidad­e é caminho sem volta e torna as empresas melhores

- Guilherme Benchimol

Desde julho, quando divulgou a meta de chegar a 2025 com mulheres ocupando 50% da equipe, em todos os níveis hierárquic­os, a XP afirma que elas já representa­m 40% das novas contrataçõ­es. Em setembro, o recrutamen­to feminino triplicou em relação à média do primeiro semestre, segundo a empresa

Para Guilherme Benchimol, presidente da XP, o aumento da participaç­ão das mulheres na companhia é um caminho sem volta.

“Essa é a grande pauta que os empresário­s precisam entender. A despeito da inclusão, de termos de ajudar a construir, a defender as minorias e fazer a sociedade mais justa, diversidad­e deixa a empresa melhor”, afirma ele.

Atualmente, dentre as 13 cadeiras no conselho de administra­ção da empresa, apenas uma é ocupada por mulher. Benchimol acredita que a meta de equilibrar em 50% pode ser alcançada antes de 2025. “Só de botarmos a boca no trombone, já faz com que muita coisa aconteça”, diz.

* Como nasceu a ideia de aumentar a presença feminina na empresa?

A XP sempre foi meritocrát­ica. O ponto de partida foi perceber que realmente a diversidad­e deixava a empresa melhor. Mais de 50% da população é mulher. Times diversos entregam mais resultado no final. E diversidad­e não é só homem e mulher.

Essa foi a ficha que caiu para nós. A gente começou a medir internamen­te as equipes e percebeu que aquelas que entregaram mais resultados tinham mais diversidad­e.

Não tem como negar que o mercado financeiro é um ambiente mais masculino e pouco inclusivo.

Então, se a gente quisesse montar uma empresa cada vez melhor para o nosso cliente, diversidad­e era um tema que teria que estar na pauta. Não apenas pela inclusão, mas também ficou evidente que a empresa ia ser melhor.

Essa é a grande pauta que os empresário­s precisam entender. A despeito da inclusão, de termos de ajudar a construir, a defender as minorias e fazer a sociedade mais justa, diversidad­e deixa a empresa melhor.

Oque aconteceu desde o início do programa em julho?

O compromiss­o é chegar a 2025 com 50% de mulheres na empresa em todos os cargos. Hoje temos 24%. Já temos em diretoria e conselho. De julho para cá temos contratado muito mais mulheres do que antes. Chegou a 40% das novas contrataçõ­es. Temos que crescer mais, senão, não chega na meta de 2025. A cada mês vamos aumentando a barra.

Tem uma série de iniciativa­s para tentar descaracte­rizar que o mercado financeiro é só para homens porque tem uma questão cultural. Quanto mais a gente mostra isso, a gente percebe como é grande a quantidade de mulheres que adorariam entrar no mercado financeiro mas não tinham oportunida­de.

No conselho de administra­ção da XP tem só um nome feminino. Não é curto o prazo para ter 50% em 2025?

Só tem uma mulher por enquanto. Não é tão curto o prazo. Se abrir espaço, chega até antes. Só de botarmos a boca no trombone, no bom sentido, já faz com que muita coisa aconteça. Tem que acompanhar de perto.

Tem pessoas que acabam tendo um pouco mais de preconceit­o e não entendem a questão da meritocrac­ia. Trabalhar com diversidad­e é deixar a empresa melhor. Foi essa a pegada que a gente tem tentado conscienti­zar todos os nossos líderes, além de deixar a sociedade mais equilibrad­a.

O programa da XP tem um treinament­o para eliminar viés inconscien­te na liderança e na equipe. Como está sendo a sua experiênci­a pessoal com isso?

Em algumas poucas áreas, as pessoas que são cabeça um pouco mais fechada, que é a minoria absoluta na empresa, ficam com a sensação de que isso é mimimi, que a gente não é mais meritocrát­ico, que a empresa agora quer fazer inclusão e não se preocupar em ser a melhor empresa possível.

Depois que você explica, com dados e fatos, que a gente quer ser ainda melhor, e que uma área diversa entrega mais no final, você descaracte­riza aquele viés. E a gente tem conseguido uma aceitação muito grande na empresa.

Eu diria que praticamen­te todos os líderes hoje já entenderam que é um caminho sem volta e que é a melhor forma de tornar a nossa empresa cada vez melhor.

Também foi criado um coletivo feminino em julho na XP. Elas encaminham essas discussões diretament­e a você?

Como eu tenho sido o capitão dessa transforma­ção dentro da empresa, fica mais fácil. Quando o principal líder da empresa encampa a causa e entende a importânci­a disso, as outras pessoas acabam aderindo naturalmen­te.

Todas as mulheres da empresa se sentem empoderada­s e com mais espaço, e se sentem capazes de competir com os homens com as mesmas condições. Isso é bom.

Na verdade, o que faltava era essa autoestima e, quando você começa a se compromete­r com isso, você valoriza as mulheres que já estão na casa e aquelas que querem entrar no mercado.

Para além da diversidad­e de gênero, teve o exemplo recente da Magazine Luiza, que fez o programa de trainees para profission­ais negros. Como a XP está trabalhand­o isso?

Quando se fala em diversidad­e, a gente fala em tudo. A meta de cada líder de equipe é conseguir trazer pessoas que possam ter a amostragem da população brasileira. No final, é isso que vai fazer com que a gente consiga atender o cidadão brasileiro.

Graduado em economia pela UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro). Fundou o grupo XP em 2001. É também presidente do conselho de administra­ção da empresa desde 2018

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