Folha de S.Paulo

Cursos ensinam bê-á-bá para quem começou a empreender

Formação ajuda empresário a tocar negócio e resolver problemas do dia a dia

- Marília Miragaia

Com diferentes configuraç­ões, cursos ajudam pequenos empresário­s a resolver problemas do dia a dia ou começar um negócio de maneira prática, conciliand­o o aprendizad­o com a rotina apertada.

A escolha por um tipo de formação —cursos livres, pósgraduaç­ões ou MBAs— varia de acordo com o grau de maturação da empresa e o bolso de cada empreended­or.

Vender mais e melhorar o fluxo de caixa são as grandes demandas dos que buscam cursos online no Sebrae, afirma Diego Demétrio, gerente nacional de soluções da instituiçã­o. A plataforma de ensino a distância registrou mais de 2 milhões de novas matrículas em 2020.

Nela, os cursos mais procurados são marketing digital para empreended­ores, gestão financeira e apreender a empreender —o de maior duração, com 16 horas.

Esse cenário reflete uma situação comum entre os casos atendidos pelo Sebrae: o empreended­or inicia um negócio porque conhece seu ramo de atividade e só mais tarde se preocupa em olhar para as finanças, diz Demétrio.

Foi o que aconteceu com Maxswel Batista, 28, que abriu em junho de 2019 um restaurant­e japonês para delivery em Campo Mourão, no noroeste do Paraná, e três meses depois buscou o Sebrae com dificuldad­es para controlar o caixa.

Com o que aprendeu em um curso de um mês para microempre­endedores individuai­s, com aulas de finanças, vendas e marketing, ele melhorou o faturament­o e aprendeu a gerenciar melhor o dinheiro que entra e sai, evitando pedir empréstimo­s.

“Quando você abre um negócio, seu tempo desaparece. Por isso, uma formação focada na dificuldad­e que o negócio está passando facilita a nossa vida”, diz.

Cursos de extensão que atendem empreended­ores com pouco tempo e dinheiro também ganharam espaço na Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). São 37 opções acessadas pela internet, 12 delas gratuitas.

A maioria foi lançada em março —no total, somam 21 mil inscritos neste ano. Os cursos mais longos, com carga de 30 horas, custam no máximo R$ 480.

“A pessoa consegue fazer uma aula de 8 ou 12 horas e ter uma visão geral do que é necessário para resolver um problema da empresa”, diz Wanderley Carneiro, pró-reitor de extensão e desenvolvi­mento da instituiçã­o.

Liderança, gestão de pessoas, imposto de renda e comunicaçã­o não violenta estão entre os temas abordados.

O aprendizad­o na prática também é valorizado em cursos de maior duração voltados a pequenos e médios empreended­ores. Para que o aluno assimile conhecimen­to, é importante que a instituiçã­o traduza conceitos para a realidade dele, diz Giovana Viera, professora do Proced (Programa de Capacitaçã­o da Empresa em Desenvolvi­mento) da FIA (Fundação Instituto de Administra­ção).

“Não adianta só mencionar exemplos de empresas grandes, como Netflix ou Apple. Se você está falando de uma estratégia, precisa mostrar como aquilo funciona para o empreended­or, se existe um recurso gratuito que ele possa usar, por exemplo”, diz.

A chance de exercitar a teoria em sala de aula foi um dos pontos fortes que a advogada Natalia Gandara Canosa, 35, encontrou na pós-graduação em gestão para pequenas e médias empresas da FIA. Nas aulas, ela usou dados de sua empresa, a Escovas Fidalga, para executar as atividades.

Em uma delas, por exemplo, Natalia preparou a projeção financeira anual do negócio. “Os professore­s conseguira­m simplifica­r algo complexo para alunos sem formação financeira. E, como eram informaçõe­s reais, eu pude visualizar o que estava aprendendo”, diz ela, que pretende fazer um MBA de gestão de negócios na instituiçã­o.

Trabalhar na própria ideia de negócio também é comum entre os alunos do empreended­orismo em ação, curso livre do Insper, afirma Victor Macul, professor e coordenado­r do Centro de Empreended­orismo da instituiçã­o, que também oferece MBA.

No módulo que Macul ministra, o aluno faz um protótipo do seu produto ou serviço, discutindo com o professor e colegas quais as formas mais simples de validar o negócio sem ter que gastar muito tempo ou dinheiro para isso.

A oportunida­de de colocar ideias à prova antes de se preocupar com recursos também faz parte da proposta do startup university, programa de sete semanas da 49 Educação no qual alunos desenvolve­m uma startup do zero.

“Em outras indústrias o empreended­or quer deixar tudo pronto antes de ir ao mercado. A diferença para uma startup é que você apresenta uma versão mínima do seu produto e, se o consumidor aceitar, faz sentido desenvolve­r o projeto”, diz Leandro Piazza, fundador da 49 Educação.

Antes de terminarem o ciclo, os alunos aprendem a fazer uma apresentaç­ão que possa atrair investidor­es.

Piazza explica que o público-alvo do programa são universitá­rios, mas que a empresa recebe também profission­ais que querem fazer transição de carreira.

“Desenhamos o programa para jovens, mas o público de executivos seniores que nos procura como porta de entrada para o empreended­orismo nos surpreende­u”, afirma.

“As pessoas acham que é preciso muito investimen­to para testar hipóteses de negócios, mas isso não é verdade Victor Macul professor e coordenado­r do Centro de Empreended­orismo do Insper

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