Bolsonaro não planeja Mourão como vice em 2022
Nomes do centrão são avaliados, assim como Damares e Tereza Cristina; militares defendem que general dispute governo estadual ou Senado
O presidente Jair Bolsonaro não pretende disputar a reeleição com Hamilton Mourão (PRTB) ao seu lado como candidato a vice em 2022. Nomes do centrão e de ministras como Damares Alves e Tereza Cristina são avaliados.
Militares defendem como saída honrosa para o general se lançar a governador ou a senador pelo Rio Grande do Sul.
brasília O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não pretende disputar a reeleição em 2022 com o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB) como candidato a vice. A intenção foi verbalizada pelo presidente a três aliados, que relataram o conteúdo dessas conversas reservadas com o presidente à Folha.
Segundo esses aliados, Bolsonaro disse que quer escolher outro nome para a sua chapa eleitoral, ressaltando que não conseguiu estabelecer uma relação de completa confiança com o militar.
Nas palavras de um dos aliados, Bolsonaro afirmou que é preciso encontrar uma solução para o posto de vice-presidente —e acrescentou que Mourão de novo “não dá”, segundo os relatos.
Nas três conversas, Bolsonaro lembrou que o general da reserva foi escolhido em 2018 devido a uma dificuldade, na época, para encontrar um nome para sua chapa eleitoral.
Antes do anúncio de Mourão, a hoje deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) foi convidada para o posto, mas recusou.
Assim, em nome de uma aliança com o PRTB e na tentativa de fidelizar apoios nas Forças Armadas, Bolsonaro escolheu o general da reserva.
Na época, aliados do hoje presidente reconheciam que Mourão era uma boa saída para Bolsonaro. Na opinião deles, o fato de o general não ser político de carreira desestimularia a abertura de eventual processo de impeachment pelo Poder Legislativo.
A intenção de Bolsonaro de escolher outro nome para a chapa eleitoral já foi informada a integrantes das Forças Armadas, que passaram a avaliar uma espécie de saída honrosa para o general.
Eles defendem que o militar, que acumulou capital político no cargo, siga na vida pública e dispute, em 2022, um mandato de senador ou de governador no Rio Grande do Sul, estado em que chefiou o Comando Militar do Sul.
Para militares do governo, uma candidatura de Mourão no Rio Grande do Sul poderia até mesmo, se bem articulada, ter o apoio de Bolsonaro, que contaria assim com um palanque forte em um importante colégio eleitoral.
A relação de Bolsonaro e Mourão passa por idas e vindas desde o início do governo. Nos primeiros meses de mandato, o presidente já manifestava incômodo com o espaço que o general ganhou junto à opinião pública.
Na época, em mais de uma oportunidade, o vice-presidente concedeu declarações que faziam um contraponto a posturas manifestadas pelo presidente —o que, de acordo com assessores palacianos, incomodava o presidente.
A avaliação que mais irritava Bolsonaro, segundo auxiliares do governo, era a de que o general é mais preparado que ele para conduzir a Presidência da República, opinião manifestada nos bastidores por deputados e senadores.
Com o aumento do desconforto do presidente, Mourão chegou a adotar um período de submersão. Recentemente, no entanto, o militar voltou a conceder declarações diárias à imprensa, o que irritou novamente o presidente.
No início de setembro, por exemplo, Bolsonaro orientou uma youtuber de dez anos a fazer uma pergunta a Mourão durante uma reunião ministerial. “Você quer ser presidente?”, questionou a garota. “Em hipótese alguma”, respondeu o general.
O episódio foi visto por assessores presidenciais como um recado de Bolsonaro a Mourão, depois que o presidente se incomodou com uma fala do militar sobre o futuro leilão da telefonia 5G no país.
Em entrevista à agência de notícias oficial do governo chinês, Mourão disse que o Brasil não distingue as empresas que participam do processo pelo seu país de origem.
A multinacional chinesa Huawei é uma das principais interessadas no certame, mas o governo Trump pressiona seus aliados em todo o mundo a excluí-la dessas disputas.
Um dia após a divulgação da entrevista, Bolsonaro deixou claro, em live nas redes sociais, que quem decidirá o processo de escolha é ele.
“Vou deixar bem claro. Quem vai decidir 5G sou eu. Não é terceiro. Ninguém dando palpite por aí, não. Eu vou decidir o 5G”, ressaltou.
Além do problema pessoal com Mourão, deputados governistas avaliam que uma mudança do candidato a vice é estratégica para que o presidente arregimente apoios importantes à sua reeleição.
O diagnóstico é que, em quase dois anos de mandato, Bolsonaro conseguiu consolidar uma aliança permanente com setores estratégicos das Forças Armadas, sobretudo ao nomear 10 ministros com formação militar de um total de 23 na Esplanada dos Ministérios.
Procurado pela Folha, Mourão não se manifestou até a conclusão desta reportagem.
Caso consiga viabilizar o partido Aliança pelo Brasil, Bolsonaro avalia ter um candidato a vice-presidente de uma sigla do centrão, de preferência evangélico.
A ideia é, assim, fidelizar o voto do eleitorado religioso e contar com palanques regionais de um partido grande.
A legenda mais cobiçada pelo presidente, de acordo com deputados bolsonaristas, é o Republicanos, partido a que estão filiados dois de seus filhos: o senador Flávio e o vereador Carlos.
O nome mais lembrado na sigla para o posto é o do deputado federal Marco Feliciano (SP), mas a chance de o pastor evangélico ser escolhido é considerada remota por aliados do presidente.
Bolsonaro tem demonstrado simpatia por uma chapa com uma das ministras de seu próprio governo.
Uma das mais populares da Esplanada dos Ministérios, como mostrou pesquisa Datafolha, é a ministra da Mulher, Damares Alves, que é evangélica e se desfilou recentemente do Progressistas. Ela ainda não definiu se irá se filiar a outra.
Já a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é considerada um nome estratégico por aliados do presidente. Além de ajudar a fidelizar o apoio do setor do agronegócio, sua indicação atrairia o apoio do DEM, partido a que ela é filiada. Mas, por ora, no partido há forte resistência a um eventual apoio à reeleição de Bolsonaro, sobretudo na cúpula da sigla.
Além de a ideia não contar com o respaldo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta é considerado pré-candidato à sucessão presidencial de 2022.
Vou deixar bem claro. Quem vai decidir [sobre o futuro leilão da telefonia] 5G sou eu. Não é terceiro. Ninguém dando palpite por aí, não. Eu vou decidir o 5G Jair Bolsonaro em setembro, desautorizando fala de Hamilton Mourão na véspera