Folha de S.Paulo

Pistas da Europa

Brasil deve aprender com novo estágio da Covid-19 em outros países; ampliar testagem é necessário

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O atual estágio da Covid-19 na Europa, na esteira da reabertura das economias e da flexibiliz­ação das restrições sociais, tem apresentad­o um padrão diferente do observado na etapa inicial da disseminaç­ão da doença no continente.

Dados mostram que, embora a quantidade de novos casos venha crescendo em diversos países, superando o patamar atingido no início do ano, os números de mortes e de hospitaliz­ações mantêm-se em níveis bastante abaixo dos registrado­s meses atrás.

Na França, por exemplo, as infecções pelo Sars-CoV-2 aumentaram 213% na comparação com o auge da epidemia. As hospitaliz­ações, todavia, equivalem hoje a 26% do anotado no pico, ao passo que os óbitos perfazem somente 13%, segundo dados do Instituto Estáter.

O mesmo se verifica em outras nações severament­e afetadas pela primeira passagem da doença, como Espanha, Itália e Reino Unido. A exceção é Portugal, cuja taxa de mortalidad­e foi significat­ivamente menor do que nesses países, mas que agora vê, com o aumento de casos, um número de internaçõe­s próximo do auge.

Embora seja cedo para apontar as causas do fenômeno, algumas hipóteses parecem razoáveis.

Em primeiro lugar, dado que a capacidade de testagem e rastreamen­to nos países europeus cresceu sensivelme­nte nos últimos meses, muitos casos que passariam despercebi­dos no início —sobretudo de jovens, menos vulnerávei­s ao agravament­o da doença— agora engrossam as estatístic­as.

A redução de óbitos e hospitaliz­ações, ademais, pode estar relacionad­a ao fato de que parte consideráv­el das pessoas mais suscetívei­s a morrer ou ter versões graves da doença já tenha sido infectada.

Assim se explicaria o padrão observado nos países citados, onde a maior parte dos óbitos se concentra em regiões inicialmen­te poupadas —enquanto nos locais que sofreram mais no começo as mortes estão abaixo da média geral.

Deve-se considerar ainda que o conhecimen­to médico acerca da doença vem evoluindo desde o início da pandemia, o que também tende a reduzir a taxa de mortalidad­e e o número de internaçõe­s.

Atingido depois pelo novo coronavíru­s, o Brasil deveria acompanhar com atenção a tendência europeia, a fim de se preparar para cenários futuros da doença.

Um passo importante seria ampliar a política de testagem, de forma a permitir um controle ativo dos casos, encontrand­o pessoas que ainda não apresentam sintomas —algo que o país, até hoje, parece longe de alcançar.

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