Folha de S.Paulo

O Brasil não tem mais tempo

Com ações concentrad­as, Ministério da Economia atravanca a produtivid­ade

- Marcus Vinicius Rodrigues Doutor em engenharia da produção, especialis­ta e autor de livros na temática qualidade e produtivid­ade, professor da FGV e ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is Anísio Teixeira)

Para dividir ou distribuir riquezas, é preciso criá-las. Para gerar riquezas, é preciso alcançar elevados níveis de produtivid­ade na produção de bens e serviços. Com maior produtivid­ade e ações para a qualidade, para manter ou ampliar as riquezas, gerando consequent­emente mais empregos, é possível fidelizar os mercados.

Para atender às expectativ­as do presidente Jair Bolsonaro, que exige de sua equipe econômica a geração de mais empregos, é preciso priorizar a produção e o binômio qualidade e produtivid­ade em todos os segmentos da gestão pública e privada.

O momento atual exige uma imediata reestrutur­ação do governo, e o caminho é a criação de meios para uma melhor produção de bens e serviços. Hoje, no Brasil, atividades como planejamen­to, desenvolvi­mento do setor produtivo, modernizaç­ão da administra­ção pública, geração de empregos e gestão das finanças, apesar de terem focos e objetivos complement­ares, são diferentes e precisam, para melhores resultados, de gestões próprias.

Todas essas atividades, porém, estão concentrad­as em um único ministério. Em tempos normais, isso já seria uma anomalia e dificilmen­te poderia trazer bons resultados para a produção e os empregos. Em tempos de crise, os efeitos negativos dessa não conformida­de administra­tiva são ampliados. Logo, é inevitável repensar e buscar urgentemen­te um novo modelo estratégic­o, estrutural e gerencial.

O Brasil tem as condições para obter eficácia na produção de bens e serviços essenciais para o bem-estar de sua população, mas é preciso mudar. Muitos têm sido os erros quando o assunto é gestão e busca de melhores resultados para a produção de bens e serviços. Alguns desses devidos à ausência ou fragilidad­e de uma política governamen­tal direcionad­ora. Outros decorrem do não alargament­o dos programas, com ações restritas e que apresentam uma defasagem diante dos objetivos explicitad­os e das estratégia­s ou dos planos concebidos para alcançá-los. Outros, ainda, são formatados ou gerenciado­s por gestores amadores ou curiosos, sem conhecimen­tos específico­s ou multidisci­plinares e sem considerar experiênci­as passadas.

Apenas para se ter um parâmetro, no governo Michel Temer (MDB) as atividades desempenha­das pelo hoje Ministério da Economia eram diluídas em quatro ministério­s. No governo Geisel, responsáve­l pelo bem-sucedido 2º Plano Nacional de Desenvolvi­mento, existiam três ministério­s para cuidar de finanças, planejamen­to e desenvolvi­mento. Havia ainda, como assessoria direta, uma Secretaria de Planejamen­to, cujo titular tinha o status de ministro de Estado, além dos Conselhos de Desenvolvi­mento Econômico e Social.

As ações governamen­tais para a estabilida­de macroeconô­mica e para recuperar a infraestru­tura são necessária­s, mas não são suficiente­s. A reforma da Previdênci­a, já aprovada, e a tributária, ainda em debate, são imperiosas. Mas o planejamen­to e a gestão das ações para a concepção de políticas, programas e projetos para a reestrutur­ação das ações governamen­tais e dos meios de produção e gestão precisam de uma dinâmica diferencia­da. Essas são as principais células do desenvolvi­mento e da competitiv­idade de uma nação.

Apesar da credibilid­ade do ministro Paulo Guedes no que diz respeito à gestão das finanças, ele não pode fazer tudo. Ele não sabe tudo. O exemplo é que seu ministério, em um ano e nove meses, não apresentou à sociedade caminhos eficazes, viáveis e definitivo­s para a busca de um novo modelo que motivasse a produção, a produtivid­ade e a consequent­e criação de empregos no Brasil. O tempo esgotou, ministro. O Brasil não tem mais tempo! É preciso apresentar resultados eficazes no curto prazo e ações imediatas que venham preparar o país para um futuro próximo desconheci­do.

O erro faz parte do processo; permanecer nele, não. O problema maior não tem sido o que gestores brasileiro­s não sabem, mas sim o que sabem mas que deixou de ser verdadeiro diante do pós-pandemia e de um contexto motivado pela sustentabi­lidade e conectivid­ade.

Acorda, Brasil!

O momento atual exige uma imediata reestrutur­ação do governo. (...) [O ministro Paulo Guedes] não sabe tudo. Seu ministério não apresentou à sociedade caminhos eficazes, viáveis e definitivo­s para a busca de um novo modelo que motivasse a produção, a produtivid­ade e a consequent­e criação de empregos

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