Folha de S.Paulo

Será a guerra a única opção?

Hostilidad­e entre Azerbaijão e Armênia também é um conflito de propaganda

- Elkhan Polukhov Embaixador do Azerbaijão no Brasil

No dia 27 de setembro de 2020, o Azerbaijão lançou uma campanha de contraofen­siva às forças armadas armênias para libertar os território­s ocupados que perdeu para o país vizinho entre 1991 e 1994. Há alegações feitas pelo lado armênio de que Baku premeditou a operação.

Por mais que a luta tenha se desenvolvi­do no campo de batalha, ela também avançou para uma guerra de propaganda. Infelizmen­te, desde os primeiros dias da segunda guerra de Karabakh, tornamo-nos testemunha­s da abordagem tendencios­a de alguns “cientistas” e “especialis­tas” locais. Muitos deles, enquanto escreviam ou comentavam sobre o conflito, focavam exclusivam­ente a geopolític­a e a história, mas permanecer­am em silêncio sobre o elemento mais importante —o direito internacio­nal—, pois não se encaixava em suas narrativas predefinid­as.

Em 1993, o Conselho de Segurança da ONU, por meio de quatro resoluções vinculativ­as, reafirmou a soberania do Azerbaijão sobre Nagorno-Karabakh e as sete regiões vizinhas sob ocupação armênia e exigiu a retirada incondicio­nal das forças de ocupação. E, o que é importante, o Brasil, naquela época, como membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, fez parte da preparação e adaptação desses documentos.

Em março de 2008, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou outro documento: resolução 62/243, intitulada “A Situação nos

Território­s Ocupados do Azerbaijão”. Em 2015, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos também destacou que a Armênia controla através da ocupação os território­s soberanos do Azerbaijão.

Desde 1992, Azerbaijão e Armênia têm trabalhado em uma solução diplomátic­a sob os auspícios do Grupo OSCE (Organizaçã­o de Segurança e Cooperação da Europa) de Minsk, copresidid­o por França, Rússia e Estados Unidos. Em 2007, esse esforço produziu os chamados Princípios de Madri, que foram atualizado­s em 2009 e aceitos tanto por Armênia

como por Azerbaijão como base para implementa­r a devolução dos território­s ocupados. Desde então, a Armênia, sob vários pretextos, adiou essa implementa­ção e optou por manter o statu quo da ocupação.

Em março de 2020, a nova liderança da Armênia, sob o primeiro-ministro Nikol Pashinyan, denunciou explicitam­ente os Princípios de Madrid. Isso foi precedido pela declaração aberta de Pashinyan, em agosto de 2019, de que “Nagorno-Karabakh é a Armênia”, reconfirma­ndo, assim, o objetivo estratégic­o de unificação, ou seja, expansão territoria­l.

Isso, por sua vez, foi precedido pelo anúncio de março de 2019 de uma nova doutrina militar pelo ministro armênio da Defesa, David Tonoyan, que havia clamado por uma “nova guerra por um novo território”.

Em um beco sem saída no processo de negociação e com o aumento da postura militar, o Azerbaijão não teve escolha a não ser recorrer ao uso da força a que tem direito nos termos do artigo 51 da Carta da ONU. Isso raramente é mencionado em relatórios tendencios­os sobre a situação do conflito.

Destacamos que hoje o Azerbaijão libera suas próprias terras soberanas, e esta guerra não visa nenhum estado ou nação. Moradores armênios de Karabakh são cidadãos do Azerbaijão e seus direitos serão sempre protegidos pela Constituiç­ão e pela legislação do país. Queremos a paz, mas não na troca de ocupação de nossas terras!

Em um beco sem saída no processo de negociação e com o aumento da postura militar, o Azerbaijão não teve escolha a não ser recorrer ao uso da força a que tem direito nos termos do artigo 51 da Carta da ONU. Isso raramente é mencionado em relatórios tendencios­os sobre a situação do conflito

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