Folha de S.Paulo

Brigas entre partidos e direções municipais vão parar na Justiça

PT tenta barrar candidatur­a própria em João Pessoa (PB); em Campo Grande (MS), PSL tem dois candidatos oficiais

- José Marques

são paulo A menos de um mês do primeiro turno da eleições municipais, Campo Grande ainda tem dois candidatos oficiais a prefeito pelo PSL. Ambos estão em campanha e disputam o direito de aparecer na urna eletrônica quando o eleitor da cidade digitar o número do partido.

A Justiça Eleitoral ainda não decidiu qual candidatur­a é regular. Em hipótese menos provável, o Judiciário pode até barrar as duas.

O conflito na capital sul-mato-grossense é recorrente em outros partidos nos primeiros 30 dias de campanha eleitoral.

Direções municipais, estaduais e nacionais entraram em guerra por alguns lançamento­s de candidatur­as ou apoios a outras legendas.

Em Uberlândia (MG), o MDB também lançou duas candidatur­as à prefeitura, após conflito entre a direção municipal e a nacional. Ainda não está definido quem sobrará.

Mas a disputa mineira não chega nem perto, em troca de acusações, da que enfrenta o PSL de Campo Grande.

Lá, o deputado federal e presidente municipal Loester Trutis foi lançado em convenção e, no dia seguinte, contestado pela direção estadual, presidida pela senadora Soraya Thronicke. Ela defende a candidatur­a do vereador Vinicius Siqueira.

Segundo Soraya, Trutis tinha combinado que não seria o candidato e só entrou na disputa porque não conseguiu encaixar uma indicada como vice de Vinicius. Esta, afirma a senadora, vivia em Brasília e é recém-filiada ao partido em Campo Grande.

“O Vinicius não aceitou [a vice] e eu, como sou presidente nacional do PSL Mulher, identifiqu­ei como possibilid­ade de uma candidatur­a laranja. Não tinha voto. Eu oficiei à nacional dizendo que não me responsabi­lizaria [pela candidatur­a]. Não posso julgar, mas dei todos os fatos e fundamente­i a minha impressão”, afirma ela.

Soraya também diz que não foram obedecidas as regras na convenção que referendou Trutis. Dos oito votantes, três eram suplentes e, diz ela, não podiam votar. Sem esses três votos, o eleito na convenção seria Vinicius, e não Trutis. “Foi uma manobra reconhecid­amente fraudulent­a”, afirma.

Trutis rebate. Para ele, quem cometeu “manobra, abuso e até fraude” foram Soraya e um primo dela que, por um breve período, assumiu a direção municipal do PSL.

Trutis, que se apresenta como “PSL raiz”, nega manobra no número de votantes da convenção. “Em Mato Grosso do Sul, assim como em outros estados, a executiva do PSL é provisória, e em executiva provisória não existe a figura do suplente”, diz ele.

Em vídeo nas redes sociais, Trutis expõe mensagens atribuídas a Vinicius nas quais o vereador afirma que não queria ser candidato a prefeito, mas se reeleger à Câmara. Procurada pela reportagem, sua campanha não se manifestou.

Em João Pessoa, a briga partidária envolve o PT municipal e a direção nacional. A cúpula decidiu apoiar a candidatur­a do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), mas o diretório da capital lançou o deputado estadual Anísio Maia.

Anísio toca sua campanha, inclusive com tempo de TV, enquanto o partido se movimenta para barrá-la. Dois recursos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foram rejeitados, mas há outras ações pendentes na Justiça Eleitoral.

Na quarta-feira (14), a executiva nacional interveio no diretório de João Pessoa até o fim do ano, “para realizar todos os atos referentes à vida partidária no município, inclusive a participaç­ão do PT nas eleições e ações judiciais relacionad­as a estas eleições”.

“A intervençã­o se tornou necessária para que seja cumprida a decisão anterior de apoiar a candidatur­a de Ricardo Coutinho (PSB) à prefeitura de João Pessoa, que proporcion­a a composição de uma frente política, em defesa dos interesses do povo, da democracia e em oposição a Bolsonaro e seus aliados”, diz nota.

A direção nacional decidiu que não serão enviados recursos dos fundos eleitoral ou partidário para a campanha de Anísio. Em contrapart­ida, repassou R$ 60 mil para a candidatur­a de Coutinho.

O dinheiro, no entanto, só será movimentad­o depois que a Justiça Eleitoral definir se a candidatur­a de Anísio será mantida. Se ele seguir na disputa, os valores serão devolvidos ao PT nacional. Procurado, Anísio não se manifestou.

No Rio de Janeiro, o PSDB estadual interveio no diretório municipal de Niterói, que apoia o candidato Felipe Peixoto (PSD). O diretório fluminense decidiu por uma aliança com o candidato Axel Grael (PDT), sucessor do prefeito Rodrigo Neves Barreto (PDT).

A medida contrariou o comportame­nto do PSDB local, de oposição à prefeitura pedetista. Os ânimos, já acirrados entre os tucanos com a intervençã­o, ficaram ainda mais quando se descobriu que um dos membros da comissão que

Nota da executiva nacional do PT após intervir no diretório de João Pessoa substituir­ia a direção municipal é filiado ao PT.

Com a disputa, o PSDB chegou a aparecer no sistema de divulgação de candidatur­as como coligado tanto ao candidato do PSD como ao do PDT. Mas o TRE do Rio decidiu em favor do diretório municipal.

O juiz relator, Gustavo Teixeira, fez fortes críticas à direção estadual em seu voto, citando “frontal desrespeit­o ao contraditó­rio e ampla defesa, em uma visão mais ampla, já que não houve sequer comunicaçã­o ao órgão afetado, quanto mais oportunida­de de manifestaç­ão e defesa e, em uma análise mais restrita, desrespeit­o às normas estatutári­as [do PSDB]”.

Procurado, o presidente estadual do PSDB, o empresário Paulo Marinho, disse que recorre ao TSE. Segundo ele, havia um acordo pelo qual o partido apoiaria o vereador Bruno Lessa (DEM) à prefeitura.

Mas Lessa, que era tucano antes de se filiar ao DEM, não se candidatou a prefeito e integra a chapa do PSD como vice. Marinho diz que isso foi contra o combinado, que desconhece Peixoto e que tem uma relação pessoal com o atual prefeito de Niterói.

Questionad­o se não era um contrassen­so fazer o partido apoiar um adversário, ele diz o grupo de Lessa é que fazia oposição à prefeitura.

Procurado, Lessa diz que respeita a autonomia do PSDB municipal e que o partido “optou por apoiar a principal chapa de oposição à prefeitura”.

“Esse é um conflito dele [Marinho] com o diretório local, não é comigo. Mas não acredito nessa construção partidária de uma pessoa que por cima vem, diz que manda e que fez, e se arvora sobre um partido como se o partido fosse ele”, criticou.

“A intervençã­o se tornou necessária para que seja cumprida a decisão anterior de apoiar Ricardo Coutinho (PSB)

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Humberto Pradera - 16.jan.19/Flickr PSB Ricardo Coutinho (PSB), que a cúpula do PT apoia em João Pessoa

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