Entre raridades, recordes e maldições, veja peculiaridades desta eleição em SP
Disputa paulistana tem seca de debates, tucanos unidos comandando a máquina e PT fragilizado
são paulo Cada eleição é única, diz uma velha máxima política. Mas a atual eleição para a Prefeitura de São Paulo caprichou em ineditismos.
Às situações atípicas —como o fato de o PSDB, com Bruno Covas, disputar estando no controle da máquina— se somam as candidaturas que tentam quebrar maldições —caso de Celso Russomanno (Republicanos), que tenta se sustentar na dianteira das pesquisas e ganhar, algo incomum.
Mais peculiaridades: o PT nunca entrou tão fragilizado em uma eleição na capital, o PSDB raras vezes teve cenário interno tão pacificado e os debates na TV evaporaram.
Para este levantamento, a Folha considerou os pleitos disputados desde 1985, quando São Paulo voltou a escolher seu prefeito pelo voto direto.
PSDB NA MÁQUINA
Com Bruno Covas [foto ],é a primeira vez que o PSDB disputa uma eleição na capital estando no controle da máquina municipal. É diferente do que ocorre no governo estadual, onde o partido acumula sete vitórias seguidas e hegemonia desde 1995, com intervalos em que vices de outras legendas assumiram o posto.
Primeiro prefeito do PSDB na cidade, José Serra tomou posse em 2005 e renunciou em 2006 para concorrer a governador. O hoje senador deixou a cadeira para o vice Gilberto Kassab (à época no DEM), que depois tentou a reeleição. O segundo prefeito tucano foi João Doria, que ficou no cargo entre 2017 e 2018, também abandonou o cargo para disputar o governo estadual e foi substituído por Covas.
REELEIÇÃO É EXCEÇÃO
Gilberto Kassab [hoje no PSB e, na foto, com José Serra após
vitória em 2008] foi o único prefeito que tentou um novo mandato e foi reconduzido depois da lei que permitiu a reeleição, de 1998. Os outros dois que buscaram repetir o feito —pelo PT, Marta Suplicy em 2004 e Fernando Haddad em 2016— saíram derrotados. Hoje em segundo nas pesquisas, Covas tenta quebrar a escrita.
Para os aliados mais supersticiosos, um sinal de esperança é a coincidência de que, assim como Kassab, o atual prefeito também herdou a cadeira com a renúncia do titular
LÍDER NA ARRANCADA PERDE
Na terceira candidatura consecutiva, Celso Russomanno (Republicanos) tenta desconstruir tabu para o qual ele mesmo contribuiu nos dois pleitos anteriores.
PSDB UNIFICADO
Habituado a rixas na escolha de seus postulantes a prefeito e a governador em São Paulo, o PSDB formou consenso em torno da candidatura à reeleição de Covas.
O atual prefeito conta com o endosso de diferentes alas do tucanato e não foi vítima, até aqui, de fogo amigo. Ele é apoiado por João Doria [na foto, na convenção municipal
tucana de 2016], que tem tido uma participação discreta na campanha em razão dos altos níveis de rejeição a seu nome na capital. Em 2008, por exemplo, o então governador José Serra trabalhou nos bastidores pela reeleição de Kassab (DEM), seu ex-vice. O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, foi largado na estrada. Em 2016, as prévias que culminaram com a escolha de Doria para concorrer a prefeito foram tumultuadas. Preterido pelo então governador Alckmin, Andrea Matarazzo se desfiliou da legenda e migrou para o PSD. Ele também é candidato neste ano.
Serra e Alckmin, que foram candidatos ou tiveram papel relevante nas campanhas do partido na capital em todas as eleições desde 1996, desta vez estão distantes. Ambos foram tragados por denúncias na Lava Jato.
QUEM É O CANDIDATO DO PRESIDENTE?
Se em outros anos bastava ver qual era o candidato do partido do presidente da República para saber o nome apoiado por ele, desta vez a coisa é um pouco mais complicada. Começa pelo fato de que Bolsonaro [foto] está sem filiação a um partido político desde novembro de 2019, quando deixou o PSL. Candidatos de partidos da base do governo em Brasília tentaram associar seus nomes ao do presidente no início da corrida, quando uma declaração de apoio dele ainda era uma incógnita. Postulantes como Joice Hasselmann (PSL) e
Levy Fidelix (PRTB) aprofundaram o flerte com bolsonaristas na capital, mas o presidente acabou embarcando na candidatura de Russomanno. Apesar do respaldo, o candidato do Republicanos não goza de unanimidade entre os admiradores do presidente.
ÀS URNAS SEM DEBATES
Uma tradição na disputa municipal, com brigas que se tornaram históricas, os debates na TV sumiram. Só o da Band ocorreu até agora, e deve ficar por isso mesmo. Todas as outras emissoras que planejavam eventos do tipo (Globo, SBT, Record, RedeTV! e CNN Brasil) cancelaram seus encontros. Há previsão de que aconteçam no segundo turno. A pandemia e o número excessivo de candidatos
(14) foram apontadas como justificativa. Candidaturas rivais do líder nas pesquisas, Celso Russomanno [foto], levantaram a hipótese de que parte dos programas foi suspensa para beneficiálo. Os canais negam.
Em 2008, só a Band chegou a promover dois debates no primeiro turno.
A VETERANA
Vice de Guilherme Boulos (PSOL), Luiza Erundina [foto] é a postulante mais idosa a participar da sucessão municipal nos últimos tempos. A ex-prefeita pelo
PT e deputada federal pelo PSOL tem 85 anos. Quando foi candidato a vice na chapa de Marta Suplicy, no pleito de 2000, o advogado Hélio Bicudo tinha 78 anos. Ele morreu em 2018, aos 96 anos. Erundina é também notória veterana das campanhas: das últimas dez eleições na cidade, participou diretamente de sete, como candidata a prefeita ou vice. Nunca antes ela tinha tido a companhia de tantas mulheres na disputa. Entre candidatas a prefeita e vice, elas totalizam oito neste ano. O recorde anterior era de 2000, quando foram sete as postulantes.
Outro nome assíduo nos pleitos paulistanos é o do candidato a prefeito pelo PRTB, Levy Fidelix. Incluindo a deste ano, ele esteve em quatro eleições para a prefeitura desde 1996 e uma para a Câmara Municipal. Nunca foi eleito.
PT FRAGILIZADO
Historicamente forte na cidade, o Partido dos Trabalhadores perdeu o protagonismo nesta eleição e vê seu candidato, Jilmar Tatto [na foto, em campanha
na zona leste], estagnado nas pesquisas. Ele teve 2% no levantamento do Datafolha em setembro e oscilou para 1% no da semana passada. A legenda, que por três vezes elegeu o prefeito da capital (Luiza Erundina, em 1988, Marta Suplicy, em 2000, e Fernando Haddad, em 2012), chegou a todos os segundos turnos que foram disputados desde 1992.
Desta vez, com o candidato escolhido após um tumultuado processo de prévias, a sigla do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece na lanterninha das intenções de voto.
Além disso, o PT disputa sozinho, sem nenhum partido coligado, o que antes só tinha acontecido em 1985.