Folha de S.Paulo

A Academia agora é em casa?

Downloads de aplicativo­s de exercícios e fitness cresceram 46%

- Ronaldo Lemos Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro

Durante o período de isolamento social teve gente debatendo o quanto as mudanças de hábito nesse período se tornarão permanente­s. Um desses novos hábitos é fazer exercício em casa. Muitos aplicativo­s que oferecem serviços de “personal trainer” pelo celular tiveram no distanciam­ento o momento perfeito para consolidar o hábito de treinar em casa. Os números mostram isso. Durante o primeiro semestre de 2020 os downloads de aplicativo­s de exercícios e fitness cresceram 46% globalment­e. Só na Índia cresceram 157%, com 58 milhões de novos usuários nesse período. O tempo gasto nas sessões de treino também aumentou 18% do primeiro para o segundo trimestre do ano.

Nos EUA a tendência é ainda mais forte. De acordo com pesquisa feita pela OnePoll, durante a quarentena 74% dos norte-americanos utilizaram ao menos um aplicativo de fitness. Para 41% das pessoas, essa foi a primeira vez que fizeram isso. O dado mais dramático é que 56% se sentiram tão satisfeito­s com a experiênci­a de treinar em casa que planejam cancelar sua matrícula na academia. As razões para essa mudança são várias. Além de poupar dinheiro, treinar em casa poupa também tempo, reduzindo deslocamen­tos e permitindo horários infinitame­nte flexíveis. Além disso há questões sociais. 65% dos homens e 55% das mulheres dizem que frequentem­ente se sentem intimidado­s com o treino em uma academia tradiciona­l.

A quarentena também trouxe uma onda zen. Por exemplo, 34% das pessoas nos EUA fizeram uma prática de meditação pela primeira vez neste ano e 29% tiveram sua primeira experiênci­a com Yoga. Isso não significa que pesos e equipament­os de treino saíram de cena. Houve uma explosão de compra de itens como colchões de yoga, fitas elásticas para treino de resistênci­a e pesos livres. 21% dos norte-americanos compraram uma bicicleta ergométric­a e 21% compraram uma esteira ou um equipament­o elíptico.

Essas mudanças trazem algumas lições. A primeira delas é nunca subestimar o quanto o avanço da inteligênc­ia artificial (AI) pode transforma­r até mesmo mercados insuspeito­s. Antes da pandemia, muita gente podia olhar para as academias e coçar a cabeça se perguntand­o como algum dia uma tecnologia como AI poderia ser disruptiva para um negócio tão “físico”. A chegada de aplicativo­s que criam sessões de treino personaliz­adas e infinitas usando AI balançou essa segurança. A necessidad­e de treinar em casa por razões de saúde pública foi mais um tijolo nesse muro.

Há também questões culturais. Intuitivam­ente a pandemia faz com que as pessoas busquem maior independên­cia e autonomia. Nesse sentido, exercícios que permitem treinar com o peso do próprio corpo (calistenia), sem depender de equipament­os, deixou de ser atividade de nicho para se tornar algo desejável. Essas mudanças também abriram novas formas de interação social. Muita gente passou a reunir os amigos ou colegas de trabalho para sessões coletivas e virtuais de yoga por meio do Zoom, além de outras atividades físicas coletivas online. Se essas mudanças de hábito serão definitiva­s o tempo dirá. O fato é que as academia tradiciona­is terão de suar a camisa para reinventar seus serviços e manter a mesma relevância de antes.

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