Folha de S.Paulo

O que fazer se a carteira de ações está negativa? Veja dicas de especialis­tas

Desvaloriz­ação da Bolsa pode assustar investidor­es de primeira viagem, que realizam perdas

- Júlia Moura

são paulo Se o número na tela inicial da corretora estiver negativo, a primeira coisa a se fazer é ter calma. Este valor diz respeito a qual seria seu lucro caso venda as ações e demais investimen­tos naquele momento. Segundo especialis­tas, a realização da perda é um erro que muitos investidor­es de primeira viagem cometem com medo de perder mais.

Tal atitude pode até ser benéfica, dependendo do perfil e carteira do investidor, em casos de mudança de paradigma, como o início de uma longa e severa crise econômica ou alterações relevantes na empresa investida, que devem impactar significat­ivamente os resultados.

Foi este pensamento que levou a vendas generaliza­das de ações no início da pandemia. Com estímulos econômicos massivos em diversos países e a recuperaçã­o da atividade, porém, o investidor ficou menos temeroso e voltou a comprar Bolsa. No geral, porém, a venda com prejuízo deve ser evitada.

“Se a pessoa tem reserva de emergência e respeita seu perfil de risco, o efeito negativo [da queda nas ações] é menor. A melhor coisa é aguardar, ter paciência e não sair de um ativo para o outro em um curto espaço de tempo”, diz Marco Harbich, estrategis­ta da Terra Investimen­tos.

Segundo Harbich, se o investidor tem um apetite maior por risco e espaço na carteira para mais ações, ele pode aproveitar a queda para comprar mais. “As ações da Petrobras são um bom exemplo”, diz.

Antes da pandemia, os papéis preferenci­ais (sem direito a voto em assembleia) da estatal estavam a R$ 30,55. Chegaram a R$ 11,29 em março e R$ 23,48 em agosto. Na última sexta (16), fecharam cotados a R$ 19,33. “É uma boa oportunida­de de compra”, diz o estrategis­ta.

O Ibovespa, índice que reúne as 74 maiores empresas da Bolsa, está cotado a 98 mil pontos, mesmo patamar de junho de 2019, antes de ser aprovada a reforma da Previdênci­a. Este também é o mesmo nível de junho deste ano, com a recuperaçã­o da Bolsa após o tombo no começo do ano.

Já o patamar de 100 mil pontos foi alcançado pela última vez em 19 de setembro. Ele também vigorou em julho desde ano e do fim de junho de 2019 a março de 2020, quando a OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) declarou pandemia de Covid-19.

Os pontos da Bolsa equivalem a reais. Ou seja, se gastaria R$ 98 mil para comprar todas as ações que compõem o índice hoje, na proporção que ele é calculado. A Petrobras, por exemplo, tem a maior participaç­ão, com 8,7% da carteira teórica do índice. Assim, quanto menor a pontuação do Ibovespa, mais baratas estão as ações.

“O receio sobre o fiscal segue travando o Ibovespa e seu ímpeto em romper os 100 mil pontos. Enquanto não houver uma medida efetiva do governo a favor do avanço da agenda de reformas, o que deve ser feito somente no final do ano, o mercado seguirá ressabiado em aumentar posição [na Bolsa] e, no limite, vai aproveitar a alta recente para realizar lucro”, afirma Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Segundo Sandra Blanco, estrategis­ta-chefe da Órama, é preciso olhar no longo prazo. Desde outubro de 2018, o Ibovespa sobe 23,90%. A poupança, por exemplo, rendeu 7,33% e o CDI, que acompanha a Selic, 10,11%.

“O brasileiro quer ver resultados do mês e quando uma coisa está negativa, foca apenas naquilo, mas se deve esticar o horizonte de investimen­to. É uma pandemia, as coisas vão se ajustar.”

Para preservar os rendimento­s em momentos de turbulênci­a, os especialis­tas recomendam diversific­ar a carteira com títulos do Tesouro prefixados e títulos pós-fixados (IPCA e Selic), CDBs (certificad­o de depósito bancário), fundos de investimen­to e ativos de segurança, como o ouro e o dólar, que tendem a se valorizar quando a Bolsa cai.

Harbich, da Terra, diz que o cenário atual é complicado e a Bolsa deve seguir pressionad­a. “Neste momento, o objetivo deve ser se proteger, obedecendo a tolerância de risco na carteira”, diz o estrategis­ta.

Para identifica­r o seu perfil de risco, é preciso fazer testes disponívei­s em corretoras e bancos anualmente.

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