Folha de S.Paulo

Como dar a volta por cima

Devedor e credor devem se unir em busca de solução; o problema é de ambos

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”

Quando a coluna “Recebi meu primeiro salário” foi publicado, no último dia 21 de setembro, Carol me escreveu agradecend­o as dicas e lamentando não ter tido acesso a essas informaçõe­s antes.

Ela conta que, infelizmen­te, fez o oposto de tudo que indiquei como sendo o caminho correto e agora colhe os frutos ruins, de gosto amargo. E pergunta, sugerindo tema para uma próxima coluna, o que fazer para dar a volta por cima.

Pois bem, Carol, o texto de hoje é dirigido a você e tantos outros jovens e adultos que não aprenderam nada, ou muito pouco, sobre finanças pessoais.

Perceber que a situação financeira não está boa, não é sustentáve­l, reconhecer e admitir os erros, é parte importante da solução. Muitos seguem errando a vida toda, se metem em uma bola de neve da qual não conseguem sair. Alguns, mais extremados, acham natural manter a dívida, responsabi­lizando o credor pelo empréstimo que fizeram voluntaria­mente, cientes do risco que estavam correndo.

Felizmente Carol percebeu estar no caminho errado e quer fazer correções de rumo importante­s para corrigir os equívocos e dar a si mesma uma nova chance.

O primeiro e maior passo depende exclusivam­ente dela: mudar seu comportame­nto, sua atitude em relação ao dinheiro. Mudar seus hábitos de consumo. Aprender a priorizar, a fazer escolhas. Entender que não tem dinheiro para comprar tudo o que gostaria, não agora, não tudo de uma vez.

Se essa mudança de atitude não for feita, não adianta renegociar as dívidas com os credores, pois em breve voltará a atrasar os pagamentos, se submetendo à cobrança de juros nem um pouco amigáveis.

Para renegociar e quitar as dívidas o quanto antes, é preciso demonstrar ao credor, com clareza, como pretende pagar. Para isso, Carol deve fazer um bom planejamen­to financeiro reduzindo ou eliminando algumas despesas do seu orçamento, abrindo espaço para assumir o compromiss­o de pagar parcelas de valor predefinid­o.

Nas renegociaç­ões de dívida a instituiçã­o financeira não perdoa a falta de pagamento do capital que deve ser pago. O espaço de negociação se limita aos juros, muitas vezes reduzidos em mais de 70%.

Pague a maior parte da dívida possível para demonstrar à instituiçã­o financeira seu empenho no sentido de resolver o problema. Para isso, procure vender alguma coisa que tenha valor ou peça ajuda da família, se possível. Negocie um bom desconto com os credores para liquidar as dívidas.

Uma mensagem de consolo para a Carol e tantas outras pessoas endividada­s que se sentem pressionad­as, com a autoestima baixa e forte sentimento de culpa. O problema não é só seu, é do banco também. Ambos devem se empenhar em buscar uma solução definitiva.

Sendo mais clara, não se sinta inferioriz­ada, apequenada, envergonha­da de procurar o banco para dizer que deve, não nega, mas não consegue pagar, não nos termos da contrataçã­o da dívida.

Empréstimo é um negócio, como outro qualquer —bem rentável para os bancos, digase de passagem. Portanto, rediscutir os termos desse negócio deve ser tratado com naturalida­de, sem deixar de reconhecer sua responsabi­lidade.

Importante limpar o nome, deixar o cadastro positivo para outras solicitaçõ­es de crédito mais importante­s, para construir patrimônio, como um financiame­nto imobiliári­o para comprar a casa própria ou recursos para abrir o seu próprio negócio.

Crédito para financiar consumo, não. Imponha limites, aprenda a dizer não para si mesma. E comece tudo de novo. Do jeito certo. Boa sorte!

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