Folha de S.Paulo

Meu voto é na esperança

Nos quatro cantos do país, há pessoas preparadas, aguerridas e comprometi­das com a boa política

- Tabata Amaral Cientista política, astrofísic­a e deputada federal pelo PDT-SP. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundador­a do Movimento Acredito

Em minhas conversas e caminhadas, tenho me deparado com pessoas cansadas e descrentes da política. Esse vem sendo um ano duro e, de forma geral, nossos políticos ficaram aquém no enfrentame­nto ao coronavíru­s e às crises sociais, econômicas e ambientais que, com a pandemia, ficaram mais evidentes e foram aprofundad­as.

Faltam apenas 27 dias para o primeiro turno das eleições municipais e a indiferenç­a em relação à política nunca foi tão grande: 1 de cada 5 pessoas não sabem se irão às urnas e, na pesquisa espontânea do Ibope divulgada no dia 15 de outubro, 40% dos paulistano­s afirmaram não saber em quem votarão ou preferiram não opinar. Evidência disso é a apatia da população diante da opção feita pelas emissoras de televisão de não realizarem os debates eleitorais.

Apesar do desânimo generaliza­do, minhas últimas semanas vêm sendo de muito trabalho e, sobretudo, esperança. Nos quatro cantos do país, há pessoas preparadas, aguerridas e comprometi­das com a boa política se candidatan­do para os cargos de prefeito e vereador pela primeira vez.

Muitas dessas candidatur­as carregam o que chamo de “diploma de realidade”: um conhecimen­to profundo dos problemas reais que afetam a parcela mais vulnerável da população.

Estou falando de mulheres, negros, jovens, periférico­s, pessoas com deficiênci­a e LGBTs, entre tantas outras, que decidiram colocar projetos pessoais de lado para poderem transforma­r uma política que, via de regra, serve apenas aos interesses de um pequeno grupo da sociedade.

Essas candidatur­as enfrentam uma competição muito injusta. Concorrem com quem financia sua campanha com caixa 2, compra o apoio de lideranças e recorre a ameaças quando vê sua posição de poder questionad­a.

Mas, por isso mesmo, recorrem a vaquinhas, voluntário­s e integram os mais diferentes movimentos para, no coletivo, construir projetos viáveis. Fazem isso porque entenderam que, se a política e os políticos não mudarem, tampouco mudarão o transporte público, o acesso à saúde e a oferta e qualidade das creches, apenas para trazer alguns exemplos.

No Vamos Juntas, movimento supraparti­dário por mais mulheres na política do qual sou fundadora, são 51 líderes das cinco regiões do país. São mulheres diversas que contaram com formação política, mentoria de parlamenta­res eleitos e apoio psicológic­o, entre muitas outras coisas, para poderem superar barreiras como o assédio, suas múltiplas jornadas, que se intensific­aram com a pandemia, e o pouco espaço que os partidos políticos insistem em reservar para as mulheres.

No Acredito, movimento de renovação política que fundamos em 2017 para criar uma ponte entre a sociedade e a política formal, são 100 lideranças cívicas comprometi­das com a construção de um país mais justo, desenvolvi­do e ético. Além dessas, existem muitas outras candidatur­as sérias e dispostas a contribuir para a construção de um futuro diferente para nossos municípios. Por isso, o meu pedido é para que vocês se engajem nas eleições desse ano.

Assim como o Vamos Juntas e o Acredito, existem outros movimentos que trabalham para dar mais visibilida­de a quem de fato representa uma mudança na política.

Pesquisem, se voluntarie­m, doem e falem com seus amigos. Ao nos ausentarmo­s desse processo, só tornamos as coisas mais fáceis para aqueles que são os grandes responsáve­is pela nossa desilusão coletiva em relação à política. Como recomendou Frei Betto, devemos deixar o pessimismo para tempos melhores.

| dom. Antonio Prata | seg. Tabata Amaral, Thiago Amparo | ter. Vera Iaconelli | qua. Ilona Szabó de Carvalho, Jairo Marques | qui. Sérgio Rodrigues | sex. Tati Bernardi | sáb. Oscar Vilhena Vieira, Luís Francisco Carvalho Filho

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