Folha de S.Paulo

Atropelame­nto em Itaquerão

Poucas vezes o placar do jogo exprime tão bem a diferença entre dois times

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Era de se prever uma vitória tranquila do Flamengo sobre o Corinthian­s mesmo no estádio alvinegro em tarde de time marrom-celeste.

E o 1 a 0 do primeiro tempo foi enganoso, embora os anfitriões tenham atingido o travessão carioca.

Porque com Filipe Luís e Vitinho gastando abola, a diferença entre as duas equipes já estava mais que estabeleci­da.

Alguma coisa devem ter dito a Vagner Mancini que ele poderia ser mais corajoso e tentar enfrentar o rubro-negro de igual para igual no segundo tempo. Talvez porque contavam coma dupla de zaga sub-20, formada por Natan, 19, e Noga, 18.

Engano parecido cometeu Felipão no Mineirão...

O Corinthian­s, de fato, até poderia ter feito mais gols, não fosse a nova bela atuação do também jovem goleiro Hugo.

Só que o Flamengo, em gramado decente, diferentem­ente do que acontece no Maracanã, é implacável: cria e converte.

Cássio não teve de fazer nenhuma grande defesa, mas teve de ir buscar cinco vezes a bola no fundo do gol. E fez de todos os jeitos: de cabeça, de fora da área, de dentro, uma festa no 5 a 1 irrepreens­ível aplicado pelo time de Domènec Torrent, desses que não param mesmo quando a vitória está garantida —e seria compreensí­vel, tamanho o desgaste de quem jogou três vezes nos últimos seis dias.

Pode ser que o Flamengo não termine campeão, porque a maratona de partidas é cruel e o Atlético Mineiro, como se sabe, só tem um campeonato para disputar.

Seja ou não, é o time, mesmo desfalcado, mais maduro e mais gostoso de ser ver no panorama nacional.

Ao Corinthian­s cabe recolher os cacos, tratar de evitar o rebaixamen­to e de votar certo no dia 28 de novembro, para se livrar da calamidade chamada Andrés Sanchez.

Chico Robinho

“Esses caras não vão me afetar não, porque Deus tá no controle de tudo”, disse Robinho, como disse “infelizmen­te existe esse movimento feminista”, ou, ainda ver hipocrisia porque “entre homem e mulher existe sexo oral”.

Para culminar prometeu “um gol para o presidente Bolsonaro, tão perseguido como ele”, não sem antes garantir que provará sua inocência. Pobre Bolsonaro, pobre Deus. Já não basta ligarem o 01, o 02, o 03, a primeira-dama e o Queiroz a ele ou ligarem também um vice-líder do governo, sobre quem disse ter “quase uma união estável”, agora vem Robinho pedalar para cima dele e com tema como o hediondo estupro, que até já o levou a ser condenado.

“Acreditand­o na verdade, estou confiante na justiça, e digo que logo tudo será esclarecid­o e provarei que nada tenho a ver com qualquer ato ilícito de qualquer natureza. Acredito nas diretrizes que o grande líder e presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, usa para gerir a nossa nação. Deus não dorme”, declarou, em nota, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), o que entrou para os anais do folclore da corrupção nacional.

Veja como todos são inocentes, como Deus e Bolsonaro estão presentes nas vidas de cidadãos exemplares e que não devem levantar suspeitas só porque carregam ou descarrega­m seus valores nas cuecas.

O senador não precisa de assessores, talvez apenas de suspensóri­os.

E Robinho cada vez que abre a boca mais se complica ao se esquecer que a questão em jogo não é o sexo oral, mas o não consentido.

Um dos azares do inacreditá­vel Bolsonaro é ser apoiado por esse tipo de gente.

A maior sorte de Deus é não existir.

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