Folha de S.Paulo

‘Magnatas do Crime’ é um noir bobo com elenco mal aproveitad­o

Filme de Guy Ritchie tem direção meio burocrátic­a à inglesa, mas ainda atrai com as suas cenas cheias de violência

- Inácio Araujo

CINEMA Magnatas do Crime *****

EUA, 2019. Direção: Guy Ritchie. Elenco: Matthew McConaughe­y, Charlie Hunnam e Michelle Dockery. 16 anos. Em cartaz nos cinemas.

“Magnatas do Crime” começa com o lance original da história e uma suave chantagem. Fletcher, papel de Hugh Grant, é um detetive que acredita ter uma história tão boa na mão que já escreveu o roteiro.

Fletcher é também um detetive particular. Ele foi contratado por £ 150 mil para investigar um possível negócio, mas agora exige a bagatela de £ 20 milhões para não vender essa história para um senhor do crime inimigo.

A história que veremos em seguida é, em linhas gerais, aquela que se encontra no roteiro de Fletcher, a da venda do enorme comércio de maconha de Michael Pearson, personagem vivido por Matthew McConaughe­y, para outro senhor do crime, Matthew, papel de Jeremy Strong.

Essa história será entrecorta­da pelas intervençõ­es de Fletcher, o que é um certo entrave. Mas ela enfim se justificar­á por uma surpresa final —então, tudo bem.

Entre os dois grandes senhores do crime se intercalam inúmeros senhores intermediá­rios que, ninguém se engane, também têm pretensões a passar a perna em pelo menos um dos dois “big shots”.

Tudo se encaminha para o que poderia ser um filme noir à inglesa, se não fosse o fato de o detetive da história ser chantagist­a, além de escritor. E se não fosse o fato de o cerebral do filme noir se alternar com uma violência mais caracterís­tica do cinema de ação contemporâ­neo.

No entanto, a trama escrita por Guy Ritchie não faria vergonha alguma a uma intriga clássica. O problema é, além da interferên­cia constante do roteirista, o fato de a direção de Ritchie ser trivialmen­te britânica. Isto é, junta um bando de bons atores (além dos já mencionado­s, há Eddie Marsan e Colin Farrell, entre outros) e uma direção burocrátic­a. Sem invenção, sem ao menos brilhareco­s.

Temos então uma intriga sobreposta a outra —a história da venda do negócio, em que Matthews, o comprador, faz de tudo para desvaloriz­ar o produto de Michael, o vendedor, que por sua vez está em conflito com um poderoso editor de jornais sensaciona­listas, e a chantagem de Fletcher, que também está a serviço de outros, sem contar um magnata russo que entra meio de gaiato na história.

Em poucas palavras, a intriga principal já teria a quantidade de elementos suficiente para, pelo menos, manter o espectador desperto. Ela é a garantia do filme, além da boa direção de atores.

O ritmo é entrecorta­do pela intriga de metacinema —a chantagem—, o que atravanca um tanto o todo. Se o espectador se contentar com a direção-padrão de Ritchie pode até encontrar alguma diversão nesses “Magnatas do Crime”. Não muito mais do que isso.

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Divulgação Colin Farrell e Charlie Hunnam em cena de ‘Magnatas do Crime’, que está em cartaz nos cinemas

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