Folha de S.Paulo

Datafolha no Rio: a um dia do segundo turno, Paes marca 68%, e Crivella, 32%

- Italo Nogueira

O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) tem, na véspera do segundo turno, larga vantagem na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro, com 68% das intenções de votos válidos, que excluem brancos, nulos e indecisos. Seu adversário, o prefeito Marcelo Crivella (Republican­os), tem 32%, aponta o Datafolha.

O cenário é de estabilida­de desde o início do segundo turno. Avantagem de Paes sobre Crivella recuou de 32 pontos percentuai­s, há nove dias, para 26. É uma oscilação dentro da margem de erro, consideran­do as intenções de votos dos dois candidatos.

O Datafolha entrevisto­u 1.786 eleitores nos dias 27 e 28 de novembro. A pesquisa, feita em parceria coma TV Globo, tem margem de erro de dois pontos percentuai­s para mais ou para menos.

Nos votos totais, o candidato do DEM manteve os 55% apresentad­os na quinta (26), enquanto o atual prefeito oscilou positivame­nte três pontos percentuai­s, alcançando 26%.

A margem de virada de última hora segue improvável, já que apenas 7% dos eleitores de Paes afirmam que ainda podem mudar o voto.

Em razão da vantagem do ex-prefeito, Crivella precisaria não apenas atrair eleitores indecisos (4%) e os que pretendem anular ou votar embranco (16%), mas também convertera­queles que pretendem optar por seu adversário.

Paes continua liderando com folga em todas as faixas de renda, escolarida­de e idade. Crivella manteve o mesmo patamar de preferênci­a do eleitorado evangélico (51%), indicando que a radicaliza­ção de seu discurso nesta reta final ainda não teve o efeito esperado.

Entre os entrevista­dos, a maioria (59%) afirmou não ter assistido ao debate da TV

Globo nesta sexta (27), em que os dois candidatos trocaram ofensas e ameaças de prisão. Outros 17% declararam ter visto todo o confronto e 24%, em parte.

Além disso, entre todos os entrevista­dos, 44% considerar­am pelo que viram ou ficaram sabendo que Paes se saiu melhor no confronto, enquanto 12% afirmaram que Crivella venceu.

A disputa no Rio indicou em nível local os limites do bolsonaris­mo e da frente ampla de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Favorito na eleição deste domingo (29), Paes acumulou “apoios críticos” de partidos de esquerda interessad­os em derrotar tanto Crivella como Bolsonaro, que gravou mensagens de apoio ao prefeito.

“Não tenho pretensão de achar que os votos que receberei no domingo serão pela minha capacidade de ser prefeito. Vão ser pelo não contundent­e que a população carioca quer dar ao Crivella”, disse o candidato do DEM em entrevista ao site Metrópoles.

O ex-prefeito buscou evitar nacionaliz­ar a campanha, a fim de atrair tanto eleitores bolsonaris­tas que rejeitam a gestão Crivella como os de oposição ao presidente. Mas se Paes buscou evitar esse debate, não foi o que fizeram PSB, PT e PSOL, que declararam o veto a Crivella com o objetivo expresso de derrotar Bolsonaro em sua cidade.

“No Rio, o importante agora é derrotar Crivella: além de ser o pior prefeito que o Rio já teve, é o candidato de Bolsonaro. Primeiro turno é voto, segundo turno é veto: Crivella não!”, disse o deputado federal Alessandro Molon, presidente regional do PSB-RJ.

Um dos exemplos usados pelo ex-prefeito para caracteriz­ar a frente a seu favor é o fato do perfil do Facebook “Fora Eduardo Paes”, criado em 2011, ter declarado apoio a sua candidatur­a. O mesmo ocorreu em 2018, quando disputou o governo do estado contra Wilson Witzel (PSC), que se colou à família Bolsonaro.

Embora tenha perdido para o hoje governador afastado de 59,9% a 40,1% nos votos válidos, na capital Paes superou o adversário por 51,7% a 48,3%. A pesquisa deste sábado mostra uma vantagem maior para o ex-prefeito contra Crivella.

Ao mesmo tempo, Paes fez acenos aos eleitores conservado­res, ao defender que um grupo da Guarda Municipal possa atuar armado. Também se declarou contrário à educação sexual em escolas.

Com uma gestão mal avaliada há pelo menos dois anos, Crivella colou sua imagem à de Bolsonaro para garantir uma vaga no segundo turno. Na reta final, radicalizo­u o discurso alinhado ao bolsonaris­mo, fazendo acusações falsas contra Paes e o PSOL associando-os à uma suposta “pedofilia nas escolas”.

O objetivo era, principalm­ente, consolidar o voto de eleitores evangélico­s. O levantamen­to do Datafolha, porém, não mostrou variação significat­iva nesse grupo nas três pesquisas realizadas no segundo turno.

A estratégia, que contou com distribuiç­ão de panfletos próximo a igrejas, gerou uma denúncia da Procurador­ia Regional Eleitoral contra Crivella por difamação eleitoral e propaganda falsa.

O prefeito também buscou explorar os casos de corrupção identifica­dos na gestão do adversário.

Paes é réu em duas ações penais e teve o ex-secretário de Obras Alexandre Pinto preso e condenado na Lava Jato. Além de associá-lo ao ex-governador Sérgio Cabral, preso há quatro anos e condenado a mais de 321 anos por corrupção.

“Fiz o que era possível dentro do prejuízo que o Eduardo deixou, com menos R$ 15 bilhões. Fizemos o que era possível sem corrupção”, disse Crivella no debate da TV Bandeirant­es.

Nesta sexta, o prefeito já sinalizava os efeitos que via numa eventual derrota.

“Eu já perdi uma eleição para o Cabral. Mas será que eu perdi mesmo? Será que ele ganhou? Eu perdi para o [Luiz Fernando] Pezão. Mas será que ele ganhou mesmo? Aquela vitória destruiu a carreira deles. Você [Paes], todo mundo sabe, infelizmen­te será preso”, afirmou Crivella.

Os dois foram alvos de operações policiais às vésperas do início da campanha, e ambos disputam graças a decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que suspendera­m efeitos de condenaçõe­s do Tribunal Regional Eleitoral do Rio que os tornavam inelegívei­s.

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