Folha de S.Paulo

Homenagem dos All Blacks gera críticas à seleção argentina

Seleção de rúgbi da Nova Zelândia estendeu camisa 10 com nome de Maradona em partida na Austrália

- Alex Sabino

Mais famosa seleção do rúgbi mundial, os All Blacks, equipe da Nova Zelândia, fizeram uma homenagem a Diego Maradona na manhã deste sábado (28), antes de partida contra os Pumas, apelido da Argentina. O confronto aconteceu em Newcastle, na Austrália.

O ato criou polêmica na terra natal do jogador morto na última quarta (25), aos 60 anos, por insuficiên­cia cardíaca crônica. Na imprensa argentina e nas redes sociais, os jogadores dos Pumas foram chamados de insensívei­s e isso reabriu discussão sobre possível elitismo do esporte.

Antes de os All Blacks realizarem a haka, dança de luta que fazem antes de cada jogo, o capitão Sam Cane caminhou até o local em que os argentinos estavam perfilados e colocou no gramado uma camisa 10, negra, cor da seleção da Nova Zelândia, com o nome de Maradona às costas.

Além da homenagem, o gesto trouxe a simbologia do orgulho nacional porque, segundo a tradição, o uniforme do All Blacks nunca deve ser colocado no chão.

Os jogadores argentinos assistiram impassívei­s à homenagem. Na camisa deles havia uma faixa preta, como sinal de luto por Maradona.

Jornalista­s do país sul-americano e torcedores foram às redes sociais repudiarem o que considerar­am indiferenç­a pela perda do maior ídolo do esporte do país.

“Há alguns dias, os Pumas tinham escrito uma de suas páginas mais gloriosas ao vencerem os All Blacks pela primeira vez na história. Hoje escreveram sua página mais triste”, se queixou o jornalista Martín Arévalo, um dos repórteres esportivos mais conhecidos da Argentina.

“Nunca nos esqueçamos da omissão de hoje dos Pumas. A homenagem era grátis. Era pedra cantada. Era óbvia. Fizeram os seus rivais e nem mesmo lhes ocorreu copiar. Esta alienação diante da duelo que atravessou o país é uma cópia carbono da indiferenç­a da elite diante de toda a penúria popular”, protestou Alejandro Bercovich, popular radialista e apresentad­or.

A referência é a um suposto elitismo dos praticante­s de rúgbi em relação aos fãs de futebol, o esporte mais popular do país. Um dos chavões mais conhecidos é que o rúgbi seria um esporte de “cavalheiro­s”, ao contrário do futebol.

Uma das lembranças mais citadas é que Diego era fã do esporte e dos Pumas. Sempre que podia, ia aos jogos e incentivav­a os atletas nos vestiários. Foi a primeira aparição de uma seleção argentina desde a morte de Maradona.

“Foi uma decisão nossa de fazer uma homenagem a uma lenda argentina e uma lenda do esporte”, disse Sam Cane.

Depois de perder há duas semanas para os Pumas por por 25 a 15, os All Blacks conseguira­m a revanche contra o rival neste sábado, por 38 a 0. Mas houve quem viu a derrota argentina fora de campo como algo muito maior.

Funcionári­os serão processado­s por tirar foto com cadáver Sylvia Colombo

buenos aires Os três funcionári­os da funerária que preparou o corpo de Maradona para o velório e que aproveitar­am a ocasião para fazer selfies com o cadáver do ídolo foram notificado­s pela polícia e serão processado­s por profanação de cadáver.

A polícia deteve dois deles na noite desta sexta (27), ao realizar uma busca na funerária e nas casas do proprietár­io e de alguns funcionári­os. São eles Claudio Ismael Fernández, 48, e seu filho, Sebastián Ismael, 18. Este último aparece na foto ao lado do corpo de Maradona fazendo um sinal de positivo.

Fernández admitiu que a foto foi um erro, mas que foi levado pelo grupo, que estava comovido por estar tratando do corpo de Maradona.

“Meu filho agiu como qualquer garoto, uma reação natural, mas eu não pensei que a pessoa que tirou a fotografia ia coloca-la nas redes”, disse. Ele afirmou que está arrependid­o e assustado, porque desde então tem recebido ameaças de morte por telefone.

“Naquele momento, estávamos todos nervosos. Eu pensava que ele deveria ficar bem para que fosse visto por Dalma, Gianinna e Claudia, para ser mostrado na Casa Rosada. Jamais pensei em causar dor”, afirmou.

O terceiro homem, que saiu sozinho com o cadáver em outra foto, esteve foragido da polícia, mas se apresentou na tarde deste sábado (28). Chama-se Diego Antonio Molina e não quis dar declaraçõe­s.

Ele possui antecedent­es criminais por usurpação e violência de gênero e foi identifica­do pelo advogado de Maradona, Matías Morla, que divulgou seu nome nas redes.

“Esse é o canalha que tirou uma foto com o corpo de Maradona”, disse Morla.

Os três foram notificado­s, e um processo foi iniciado. As penas por esse tipo de delito vão de uma multa em dinheiro até dez anos de prisão. Os três também foram demitidos do trabalho, e Molina foi expulso do Argentinos Juniors, clube do qual era sócio e que revelou Maradona.

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