Folha de S.Paulo

Boulos se torna indispensá­vel na costura de eventual frente ampla de esquerda

Líder de movimento sem-teto saiu vitorioso ao mobilizar nomes que antes relutavam em oferecer apoio ao PT

- Marina Merlo

“Vou trabalhar, a partir de agora, para o que a gente conseguiu construir e unir em São Paulo sirva de inspiração para o Brasil. Para ajudar a derrotar o atraso e o autoritari­smo. Vou estar à disposição, como sempre estive, das lutas do nosso povo, em São Paulo e no país, por democracia, justiça e direitos sociais

Guilherme Boulos pode ter perdido a chance de ocupar o edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo. O resultado eleitoral, porém, o eleva, junto ao PSOL, como um dos atores políticos indispensá­veis na costura de uma eventual frente ampla de esquerda contra a reeleição de Jair Bolsonaro no pleito de 2022.

Ainda que derrotados no segundo turno por uma diferença de quase 20% dos votos válidos, Guilherme Boulos, Luiza Erundina e PSOL ainda têm o que comemorar.

A vitória inicial foi ter a segunda colocação no primeiro turno, desbancand­o papel representa­do pelo PT desde 1992 como opção à esquerda nas disputas de segundo turno na cidade.

Boulos já era conhecido por parte do eleitorado devido à sua liderança do MTST (Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto) e sua candidatur­a à Presidênci­a em 2018, e conseguiu um espaço muito maior para apresentar quem é e o que propõe ao avançar para o segundo turno. Seus 2.168.109 votos na maior cidade do país não poderão ser ignorados como força eleitoral em 2022.

A segunda vitória foi ter conseguido mobilizar apoios de ex-presidenci­áveis de projeção nacional como Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e o ex-presidente Lula (PT).

Nas últimas eleições gerais, essas três figuras e seus partidos não raro relutaram em dar apoio ao PT pela cobrança de uma autocrític­a dos seus anos como governo. Ainda novato na política institucio­nal, Boulos representa uma alternativ­a com pouco desgaste —e, portanto, menos custosa— entre potenciais aliados e apoiadores.

Se, por um lado, sua falta de experiênci­a num cargo eletivo público pode depor contra a eficiência de uma futura gestão, por outro representa uma renovação dos principais quadros das forças de esquerda do país e a possibilid­ade de implementa­r políticas diferentes das já conhecidas.

Persiste o problema da formação de consenso em torno de uma chapa e programa de governo que abarque todos os partidos dessa frente.

Essas disputas começam ainda dentro de cada partido, quando forças e correntes diversas competem pela candidatur­a que sairá nas eleições. Na formação de coligações, essa conversa envolve uma queda de braço entre partidos grandes e pequenos pela concessão de recursos, definição de que partido teria a vice ou, ainda, o comando de pastas no caso de uma vitória.

A proibição de coligações para cargos proporcion­ais parece ter dificultad­o essa conversa, gerando como efeito um aumento nas candidatur­as a prefeito, em especial em grandes cidades. Se antes partidos pequenos conseguiam garantir alguma representa­ção às custas da votação de partidos maiores, com essa nova regra foram incentivad­os a conduzir campanhas próprias para o pleito majoritári­o como forma de puxar votos para seus candidatos à vereança.

Esse mesmo fenômeno pode se repetir para a disputa nacional, dificultan­do a reunião de diferentes partidos de esquerda desde o primeiro turno.

A isso, somam-se as constantes reclamaçõe­s de lideranças de partidos como PSB e PDT de uma postura hegemônica do PT em não abrir mão de uma candidatur­a do partido. Mesmo com o desgaste pós-mensalão e Lava Jato, o PT ainda figura como partido relevante e conta com uma máquina partidária e eleitoral bem estabeleci­da.

Entre a pandemia da Covid-19, a crise econômica e os arroubos autoritári­os do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o cenário para 2022 ainda é bastante incerto.

Mesmo que a maioria dos candidatos apoiados diretament­e pelo presidente tenha perdido em 2020, os maiores vencedores deste ano foram partidos de centro e centrodire­ita como MDB, PP, PSD, PSDB e DEM.

Para além de conseguir se formar, ainda faltaria a essa frente ampla de esquerda conseguir dialogar com algumas dessas forças —e seus respectivo­s eleitores— para que vença nas urnas.

Hoje não é o fim de uma caminhada, é o começo. O começo da vitória da solidaried­ade sobre a indiferenç­a. O anúncio de uma política feita com amor, com verdade, com humanidade. Nós vamos retomar no nosso povo a capacidade de sentir a dor dos que sofrem, de ver uma criança na rua e pensar que poderia ser um filho nosso, de vencer a frieza do cada um por si

A juventude está do nosso lado, a juventude quer mudança

Boulos já era conhecido por parte do eleitorado, devido à sua liderança do MTST e sua candidatur­a à Presidênci­a em 2018, e conseguiu um espaço muito maior para apresentar quem é eo que propõe ao avançar para o segundo turno

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Danilo Verpa/Folhapress 4

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