Folha de S.Paulo

No Recife, Campos será prefeito mais novo em capitais

Aos 27 anos, filho de Eduardo Campos será prefeito mais novo de uma capital

- João Valadares

recife Em uma eleição que até a véspera prometia ser uma das mais apertadas da história do Recife, o deputado federal João Campos (PSB), filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (19652014), saiu vitorioso com boa margem.

Com 100% das urnas apuradas, Campos venceu a disputa neste domingo (29) com 56,2%. Sua prima Marília Arraes (PT), neta do ex-governador Miguel Arraes (PSB), contabiliz­ava 43,7%.

Com 27 anos de idade, festejados na quinta-feira passada (26), ele será o prefeito mais novo de uma capital na história do país.

A campanha mais dura da história do Recife viu dois Joãos: um paz e amor, no primeiro turno, e outro no ataque intenso com forte teor antipetist­a na etapa final da corrida eleitoral.

Na primeira fase da disputa, Campos liderou todas as pesquisas. Por ser o candidato da situação, virou alvo preferido dos seus adversário­s.

Precisou esconder no palanque o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), e o governador de Pernambuco, (PSB), Paulo Câmara, aqueles que poderiam ser seus principais cabos eleitorais, já que as pesquisas mostravam um desgaste muito grande da dupla.

No clima paz e amor, ele seguia prometendo uma nova proposta para cada agressão sofrida.

Durante a campanha eleitoral, precisou se explicar sobre operações recorrente­s da Polícia Federal na Prefeitura do Recife que investigou supostos desvios de recursos públicos no combate à pandemia do novo coronavíru­s.

Também usou o tempo da propaganda eleitoral para rebater os questionam­entos sobre sua experiênci­a na vida pública.

Antes de se eleger prefeito do Recife, na primeira vez que entra numa disputa majoritári­a, ele foi chefe de gabinete do governador Paulo Câmara e exerceu por pouco mais de um ano e meio um mandato de deputado federal.

No segundo turno, largou em desvantage­m nas pesquisas, mas o clima virou. Campos abriu mão do tom ameno e pressionou a prima desde o primeiro dia de propaganda eleitoral com denúncias.

Em um movimento arriscado por conter algumas contradiçõ­es, investiu pesado no antipetism­o. Deu certo. Nas palavras de João Campos, o partido não poderia falar em corrupção porque nem sequer é possível contar nos dedos das mãos a quantidade de pessoas da sigla que foram presas por desvios.

No primeiro escalão do governo Paulo Câmara, os petistas continuam presentes. Até outubro, também participav­am da gestão do prefeito do Recife, Geraldo Julio. Campos insistia em dizer que o candidato era ele, não Geraldo Julio ou Paulo Câmara.

Na última semana da campanha eleitoral para o segundo turno, Campos viu um apoio festejado pelo PT o beneficiar surpreende­ntemente.

A revista Veja publicou na última segunda-feira (23) uma gravação em que o deputado federal Túlio Gadêlha (PDTPE) diz a um interlocut­or que, em conversa com Marília, ela teria dito que ele precisava fazer fundo de caixa de campanha a partir dos assessores e juntar R$ 30 mil.

A gravação, que segundo Gadêlha estava fora de contexto, foi parar no programa eleitoral.

O candidato do PSB também conseguiu neutraliza­r o avanço da prima no eleitorado evangélico do Recife.

Marília obteve, logo no início do segundo turno, o apoio de Anderson Ferreira (PR), prefeito reeleito de Jaboatão dos Guararapes, cidade da Região Metropolit­ana do Recife.

Ferreira, o irmão, cunhado e pai, todos políticos com mandato, têm forte influência em várias igrejas.

O tema religioso ganhou proporção elevada no segundo turno das eleições.

Nas peças publicitár­ias, a candidatur­a de João Campos alegava que Marília tentou tirar a Bíblia das sessões da Câmara Municipal do Recife. Quando o jurídico da petista conseguiu retirar a peça do ar, o estrago já estava feito.

Filho do ex-governador Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes, João entrou na política em 2018.

Naquele ano, fez toda sua campanha se autointitu­lando “o filho da esperança”. Obteve expressivo­s 460.387 votos. Em 1986, quando Arraes venceu a disputa pelo governo de Pernambuco após voltar do exílio, um dos slogans era “a esperança está de volta”.

O espólio eleitoral familiar fez com que ele conseguiss­e a maior votação da história de Pernambuco. Superou, inclusive, o seu bisavô Miguel Arraes que, em 1990, conseguiu 339.158 votos.

Em 2014, após a morte do pai —que foi candidato à Presidênci­a, mas morreu em um acidente aéreo em Santos, no litoral paulista, em agosto—, decidiu apoiar no segundo turno, ao lado da mãe, Renata Campos, o candidato Aécio Neves (PSDB).

Agora, ele tem o desafio de executar as principais propostas feitas durante a campanha, a exemplo do crédito popular para pessoas de baixa renda, construção de hospitais e triplicaçã­o do acesso de entrada e saída da BR-232 no Recife.

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Carlos Ezequiel Vannoni/Agência Pixel Press João Campos após se reunir com aliados na manhã deste domingo; atual deputado federal teve 56,2% dos votos válidos

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