Folha de S.Paulo

ACM Neto DEM não apoiará extremos em 2022

Presidente do DEM comemora êxito do partido nas eleições municipais, elogia Huck, mas não crava candidato ao Planalto

- Julia Chaib

Presidente do DEM, prefeito de Salvador celebra cresciment­o da sigla no comando de municípios e diz que “a tal da nova política ficou velha muito rápido”. Elogia Luciano Huck, mas não crava apoio a nenhum candidato.

brasília Presidente do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto, viu o partido avançar em 74% no número de prefeitos eleitos neste ano em relação a 2016. Foram 464 gestores escolhidos, 198 a mais do que no último pleito, o que coloca a sigla como a quinta que mais comanda municípios no país.

Neto atribui o resultado a um preparo da legenda, que investiu nas bases, e ao contexto político. Para ele, o eleitorado rejeitou radicalism­os.

“A tal da nova política ficou velha muito rápido”, afirma. O prefeito, que fez seu sucessor em Salvador —Bruno Reis (DEM), seu vice—, diz que seu objetivo é fazer do DEM o partido mais relevante de 2022, mas não crava apoio a nenhum candidato.

Neto elogia o apresentad­or Luciano Huck e diz que a única certeza é que partido não embarcará em “extremos”. Apesar disso, o cacique do DEM refuta a discussão sobre campos ideológico­s. “É babaquice, é bobagem a gente estar nessa coisa de direita, de esquerda, de centro. O eleitor não está nem aí para isso.”

O DEM teve um cresciment­o de 70% no número de prefeitos eleitos em relação a 2016 e levou quatro capitais. A que atribui esse resultado?

Primeiro, foi feito todo um trabalho de planejamen­to desde 2018. Nós estabelece­mos como prioridade o trabalho nas bases, a estratégia de cresciment­o ia ser de baixo para cima. É claro que o bom momento político do partido também acabou ajudando.

O partido conseguiu se colocar no centro das decisões nacionais, especialme­nte por ter Rodrigo [Maia, presidente da Câmara dos Deputados] e Davi [Alcolumbre, presidente do Senado] presidindo as Casas.

Mas era preciso transforma­r esse capital político em capital eleitoral. Porque a farinha, para o político, é voto na urna. E o Democratas precisava dar essa resposta. O resultado está aí: o partido saiu muito maior do que entrou. Tivemos aumento de 55% de candidatos. Trouxemos novos quadros e fizemos um trabalho para focar capitais. Esperamos consolidar isso em 2022.

Qual é seu objetivo para 2022?

É fazer do DEM o partido mais relevante da eleição. Com candidato próprio? Ainda é cedo para falar. É uma hipótese, será discutida no partido e vamos avaliar nomes.

Agora, pode ser que a gente não tenha candidato próprio à Presidênci­a, mas tenha peso e seja decisivo para construir uma candidatur­a vitoriosa.

Dentro do partido, o seu nome é apontado como opção para disputar a Presidênci­a. O sr. se coloca como pré-candidato?

Eu sou cauteloso em relação à fulanizaçã­o. Não abrimos ainda a discussão dentro do DEM.

Qual é o seu projeto?

O mais provável é ser governador da Bahia, porém neste momento eu ainda não posso e não vou descartar outras opções. Existem muitas pessoas de dentro e fora que desejariam que eu fosse candidato a presidente.

Não sei se é o momento, e não existe candidatur­a a presidente séria de si próprio, ainda mais num quadro complicado como a gente vive hoje.

Quais nomes do DEM poderiam disputar a Presidênci­a?

Ronaldo Caiado [governador de Goiás], [Luiz Henrique] Mandetta [ex-ministro da Saúde], Rodrigo Maia.

Voltando à eleição municipal, o contexto eleitoral também não favoreceu o DEM?

Primeiro, eleição municipal é municipal. O presidente tinha inclusive assumido uma posição que ao meu ver estava mais adequada, de que não iria se envolver nas eleições no primeiro turno.

Na medida em que se envolveu e que os candidatos apoiados por ele não tiveram êxito, acabou trazendo desnecessa­riamente derrotas para o seu colo. Mas não se pode dizer que Bolsonaro nem Ciro nem Lula foram derrotados. A influência desses atores externos na escolha dos prefeitos é muito reduzida. Na hora H, o eleitor faz uma escolha focada no seu dia a dia.

Mas o que o contexto sugere é uma preferênci­a do eleitor por pessoas que transmitir­am capacidade de gestão. Acabou a história do novidadeir­o, dos blogueirin­hos, dos famosos ou do discurso da antipolíti­ca.

A tal da nova política ficou velha muito rápido. E ficou mais velha do que a chamada velha política pelo insucesso de governador­es como Wilson Witzel [afastado no RJ], de Santa Catarina [Carlos Moisés], do Amazonas [Wilson Lima]

Não posso te dizer quem será o meu candidato a presidente, mas uma coisa eu asseguro: não vamos embarcar em nenhuma opção dos extremos. Acho inclusive que o presidente, a partir do resultado das urnas, deveria ter uma postura muito mais moderada e conciliado­ra

Acha que acabou mesmo?

A tal da nova política ficou velha muito rápido. E ficou mais velha do que a chamada velha política pelo insucesso de governador­es como Wilson Witzel [do PSC, afastado do governo do Rio], de Santa Catarina [Carlos Moisés, do PSL, que enfrentou processo de impeachmen­t, mas foi absolvido], do Amazonas [Wilson Lima, do PSC].

Bolsonaro também foi eleito na esteira da antipolíti­ca. Como avalia a gestão dele?

Essa tendência produziu vários governante­s, inclusive Bolsonaro. Mas eu acho que é cedo para se fazer uma avaliação, um juízo definitivo sobre o governo de Bolsonaro.

Considera que declaraçõe­s mais radicais dele, como as do enfrentame­nto ao coronavíru­s, tiveram impacto na eleição municipal?

Acho que sim. Houve na eleição um posicionam­ento do eleitor confirmand­o a preferênci­a por aqueles que defenderam a vida. Mas, por outro lado, não dá para a gente fazer nesse momento um julgamento definitivo do governo, porque ainda tem dois anos pela frente.

Mas se perguntar se influencio­u, influencio­u. O resultado está aí: ninguém que se arvorou a defender o “liberou geral”, o negacionis­mo da pandemia, foi premiado nas urnas.

O sr. diferencia a eleição municipal para nacional. Mas acha que esse contexto deve se repetir em 2022?

Acho que o eleitor está cada vez mais consciente de que não deve dar espaço para radicaliza­ções. Não posso te dizer quem será o meu candidato a presidente, mas uma coisa asseguro: não vamos embarcar em nenhuma opção dos extremos.

Acho inclusive que o presidente da República, a partir do resultado das urnas e do recado dado pela população, deveria ter uma postura muito mais moderada e conciliado­ra conduzindo o governo.

O DEM parece tomar um rumo diferente de partidos como o PP, que se alia a Bolsonaro. O sr descarta apoiá-lo?

Se for o do extremo, for o radical, não estaremos com Bolsonaro. E se ele não for? Tudo vai depender da postura que ele dará ao governo, do rumo que dará. Agora, qual governo nós vamos ter nos próximos dois anos eu ainda não sei. Eu não tenho bola de cristal.

Quando o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), foi eleito, houve notícias de um acordo de que em 2022 ele seria candidato a presidente e o seu vice, Rodrigo Garcia (DEM) sairia candidato ao governo paulista. O DEM não está fechado com Doria?

Não está fechado com Doria nem com ninguém. Esse assunto de apoio a Doria, Huck, Ciro, Bolsonaro, nem de ter outro candidato dentro do partido... Nada disso foi tratado.

Recentemen­te a Folha noticiou que Huck e [o ex-juiz Sergio] Moro conversara­m para pensar uma alternativ­a a Bolsonaro. O sr. vê a possibilid­ade de existir uma chapa com esses dois nomes?

Eu não condeno que ninguém converse. Segundo, eu não posso especular nesse momento nomes de candidatos.

Luciano Huck é uma pessoa que eu conheço muito. Que tem espírito público, que conhece o Brasil, e que —eu não sei em que posição— acredito que pode dar uma contribuiç­ão ao país. Não sei se vai ser candidato a presidente, se vai deixar a TV Globo. Agora, por ter espírito público, sensibilid­ade e por conhecer o Brasil, ele pode ajudar muito o país.

Moro pode ajudar o país?

É uma pessoa que teve trajetória importante até aqui. Tem que ser respeitado e pode contribuir com o Brasil, sim. Não sei se vai ser candidato.

Maia falou que ele é de extrema direita e o sr. falou que não apoia extremos. Então não o apoiaria?

Eu não o qualifico como extremo. Eu não estou qualifican­do o Bolsonaro, não vou qualificar ninguém. O eleitor, a pessoa que decide, principalm­ente quem está desemprega­da, que vive problemas econômicos e sociais neste país, não querem saber se o cara é de direita, de esquerda ou de centro.

O cara quer saber se o político é sério, se tem palavra, capacidade de gestão, liderança. Você tem um quinhão, um grupo ideológico, mas esse grupo não decide a eleição. Não foi a extrema direita que elegeu Bolsonaro. Foi a rejeição ao PT, o desejo de mudança.

E se o presidente tiver essa consciênci­a, ele começa a olhar e a governar para essas pessoas que não são ideológica­s. É babaquice, bobagem a gente estar nessa coisa de direita, esquerda, centro. O eleitor não está nem aí para isso.

É preciso achar um Joe Biden, eleito nos EUA, do Brasil?

Não acho que é por aí. Cada lugar tem sua realidade. Você está partindo do pressupost­o que os próximos dois anos de Bolsonaro serão de fracasso. Não posso afirmar que serão, que ele vai ser o Trump.

Maia é candidato à reeleição na Câmara?

Eu não sei, não tenho como responder. Essa questão começará a ser tratada a partir de agora. Claro que Rodrigo, como presidente da Câmara, e Davi, do Senado, vão ser importantí­ssimos na condução desse processo.

Se o STF autorizar os dois a tentar a reeleição, o sr. apoia a possibilid­ade de o Maia ser candidato pela quarta vez?

Não posso especular sobre uma decisão do Supremo.

O sr. vê chance de o DEM apoiar Arthur Lira para a presidênci­a da Câmara?

Muito difícil. Eu não sei se ele vai conseguir assegurar a independên­cia e a condução equilibrad­a que a Câmara dos Deputados precisa ter. Ele está se colocando como um candidato excessivam­ente governista e acho que o país precisa de uma condução do Legislativ­o moderada.

A esquerda, por fim, não ganhou em Porto Alegre nem em São Paulo. No Recife, João Campos (PSB) venceu Marília Arraes (PT) e os petistas não levaram nenhuma capital. Acha que a esquerda sai enfraqueci­da da eleição? O PT principalm­ente?

Sem dúvida. O resultado das urnas é um recado das ruas mostrando que a esquerda perdeu completame­nte o discurso e está carente de lideranças no país. O segundo turno confirma isso e é claro que dá ainda mais ânimo numa perspectiv­a futura de um projeto que não passe por um retorno às esquerdas.

Apesar de ter perdido, Boulos se consolida como nova liderança?

Sem dúvida. Ele se torna um nome importante no campo das esquerdas.

 ?? Silvia Costanti - 30.nov.17/Agência O Globo ?? Antônio Carlos Magalhães Neto, 41
Prefeito de Salvador desde 2013, é presidente do DEM.
Neto do ex-governador e ex-senador Antônio Carlos Magalhães, foi deputado federal por três mandatos (2003-2012)
Silvia Costanti - 30.nov.17/Agência O Globo Antônio Carlos Magalhães Neto, 41 Prefeito de Salvador desde 2013, é presidente do DEM. Neto do ex-governador e ex-senador Antônio Carlos Magalhães, foi deputado federal por três mandatos (2003-2012)

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