Folha de S.Paulo

SP, dedicação integral

Covas foi premiado por atenção a problemas locais; votação de Boulos ressalta demandas mal atendidas

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Sobre reeleição de Bruno Covas na capital paulista.

A vitória de Bruno Covas (PSDB), 40, para a Prefeitura de São Paulo, embora tecnicamen­te uma reeleição, representa também a sua primeira passagem como protagonis­ta pelo rito consagrado­r das urnas num pleito majoritári­o. Os desafios a sua frente serão gigantesco­s.

Não bastassem os problemas habituais de uma metrópole de 12,3 milhões de habitantes, ainda longe em sua grande maioria de ostentarem padrões de renda e bemestar das capitais do mundo rico, há o impacto sanitário e econômico da pandemia de coronavíru­s.

Dentre os fatores que parecem ter levado à prevalênci­a do tucano neste domingo (29) —quando se tornou o segundo a ser reeleito na capital— está justamente a atuação na crise. A melhora da sua popularida­de vincula-se à aprovação pela população das ações municipais contra a onda infecciosa.

Essa decerto é uma história que ainda está para ser contada em sua totalidade, e os próximos dias serão decisivos para isso, pois a cidade saberá se as autoridade­s retardaram a adoção de medidas restritiva­s por motivos eleitorais. Ainda assim, o contraste com a irresponsa­bilidade e a inépcia do governo do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia é patente.

Apesar de relativame­nte jovem, Bruno Covas teve a oportunida­de de observar e conviver com políticos experiente­s, com os quais espera-se que tenha aprendido que lições não se tiram apenas das derrotas, mas também das vitórias.

Cabe-lhe detectar no bom desempenho de seu adversário, Guilheme Boulos (PSOL), demandas mal atendidas de largos segmentos da população por mais equidade no desfrute das facilidade­s urbanas.

Combater a desigualda­de também significa interferir em dispositiv­os cegos que produzem moradias precárias e distantes, além de transporte deficiente, para milhões de paulistano­s. Requer creches de qualidade nas periferias, e não depósitos de crianças pequenas.

A segunda lição dessa eleição para Bruno Covas é política. O prefeito poderia ter tido caminho mais suave nas urnas se dois de seus correligio­nários e antecessor­es no cargo, José Serra (2006) e João Doria (2018), não tivessem abandonado a prefeitura com menos da metade do mandato cumprido para candidatar-se ao governo estadual.

São Paulo é grande e complexa o bastante para exigir do prefeito dedicação integral à tarefa administra­tiva. A derrota de Serra na disputa da prefeitura em 2012 e a grande rejeição a Doria na capital atestam esse fato de modo cristalino.

Quem assume sem compromiss­o acaba queimado na grande fogueira de carreiras políticas que tem sido a prefeitura paulistana. Que Bruno Covas absorva o ensinament­o e faça bom governo.

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