No banco, fazendo ‘prova de vida’
rio de janeiro Há dias, fui ao banco para fazer “prova de vida”. Nós, os beneficiários do INSS —aqueles a quem o INSS “beneficia” com uma merreca depois de uma vida de “contribuição”—, precisamos, periodicamente, provar que estamos vivos. A prova de vida consiste na apresentação de um documento. Já as horas na fila até chegar ao balcão são uma prova de sobrevida.
Em tempos de pandemia, a visita a uma agência bancária é uma roleta. A aventura começa na porta giratória, que é empurrada pelos clientes no mesmo lugar, e não se veem funcionários aspergindo-lhe álcool de minuto em minuto. O álcool nos é servido logo que entramos, eliminando talvez os Covids giratórios, mas, a seguir, não faltarão situações em que o bicho, à espreita, só espera um cochilo nosso para agir.
O balcão, por exemplo, é aquele lugar em que descansamos inconscientemente as mãos, sem pensar nas outras mãos que também pousaram ali pouco antes e que não sabemos o que aprontaram durante o dia. Os mesmos gestos inconscientes fazem com que nossa carteira de identidade seja manuseada pelo funcionário, examinada para ver se confere com a nossa cara e devolvida com o possível acréscimo de uma colônia de coronas em embrião. Sem falar nas máquinas, com os teclados que passam o expediente sendo digitados por pessoas cujo dedo indicador pode não ser de confiança —e dedos indicadores raramente são de confiança.
Esse mesmo dedo é solicitado a fazer o exame de biometria e, como o uso do gel deixa uma leve camada oleosa que impede o reconhecimento digital, o banco oferece uma pastinha que restaura a identidade das papilas. E quem protege essa pastinha de receber dedos premiados?
Por fim, é natural que, ao se despedir do gerente, num gesto automático você lhe estenda a mão ou vice-versa. Cuidado. Ele pode ser fã do Bolsonaro. E, como tal, sua mão será de alto risco.