É possível fazer política sem ódio, afirma Covas no discurso da vitória
Prefeito, que diz que cidade não terá ‘distritos azuis e vermelhos’, pode mudar plano anti-Covid já nesta 2ª
As urnas falaram e eu saberei ouvir o recado das urnas no dia de hoje. São Paulo, você pode contar comigo
Não existe distrito azul ou distrito vermelho, existe a cidade de São Paulo
Meu avô dizia que é possível conciliar política e ética, política e honra, política e mudança. Eu agora acrescento: é possível fazer política sem ódio
Eu queria aqui fazer uma homenagem ao meu vice, Ricardo Nunes. Sofreu muito durante esta campanha. Mas esteja certo, Ricardo, que a partir de 1º de janeiro nós vamos governar e vamos mostrar para São Paulo quem nós somos e qual é a nossa visão de mundo
São Paulo mostrou que restam poucos dias para o negacionismo e para o obscurantismo. São Paulo disse sim à democracia. São Paulo disse sim à ciência. São Paulo disse sim à moderação. São Paulo disse sim ao equilíbrio Bruno Covas prefeito de São Paulo
são paulo “É possível fazer política sem ódio”, disse na noite deste domingo (29) o prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), em discurso ao comemorar a vitória. Ele fez apelo à moderação e disse que a cidade respeita a democracia e o equilíbrio.
Dirigindo-se aos eleitores do candidato derrotado, Guilherme Boulos (PSOL), Covas afirmou que vai “governar para todos”. “A partir de amanhã não existe distrito azul e vermelho, existe a cidade de São Paulo”, afirmou, emulando o discurso do presidente eleito dos EUA, Joe Biden, que afirmou que “não haverá estado azul e estado vermelho” depois da disputa americana.
Em recado ao presidente Jair Bolsonaro, Covas afirmou que “restam poucos dias para o negacionismo e para o obscurantismo” e afirmou que vai “transformar diferenças em consensos”.
Covas discursou no diretório estadual do PSDB, ao qual chegou com o governador João Doria (PSDB), seu padrinho político —que, com alta rejeição na cidade, passou a campanha escondido.
Em seu discurso, antes de
Covas, Doria disse que a “vitória foi conquistada coletivamente, com um grande candidato, mas coletivamente”. A fala acenou para uma campanha presidencial em 2022, citando esperança, mudança e democracia.
“Quero destacar também os valores da democracia. O valor de uma campanha bem feita, bem conduzida, sob liderança do Bruno Covas, que vencendo a discriminação de uma doença, a dor e a luta, soube conduzir sua campanha sem fazer uso de fake news, mentiras e ataques”, disse.
O vice-prefeito eleito, Ricardo Nunes (MDB) —principal dificuldades da campanha ao ser fustigado no segundo turno por uma denúncia de violência doméstica em 2011 e ligações controversas com creches conveniadas— também discursou, afirmando que “Covas tem um vice do lado dele, que é seu fiel escudeiro”, disse.
O prefeito agradeceu. “Queria fazer uma homenagem e agradecimento especial ao meu vice Ricardo Nunes, que sofreu muito durante essa campanha. Esteja certo, Ricardo, que partir de 1º de janeiro vamos governar e mostrar para São Paulo quem nós somos e qual é a nossa visão de mundo. Tenho certeza que todo sacrifício vai valer a pena”, disse.
O espaço estava lotado, e a campanha ignorou as queixas da imprensa sobre as aglomerações. Estavam lá o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, e até o deputado federal Alexandre Frota. Joice Hasselmann (PSL) também esteve presente ao lado de Covas.
Contando com o prefeito, sete pessoas discursaram, nenhuma mulher. Doria falou por cerca de nove minutos, enquanto o discurso do próprio prefeito reeleito durou pouco mais de sete minutos.
Bruno Araújo, ressaltou que a campanha foi feita sem ataques entre os candidatos. “Vencer é sempre importante. Na vida pública, vencer com dignidade, com respeito, dedicação é ainda mais importante. A eleição do Bruno Covas demonstrou que política, vida pública, pode ser feita sem escolher o adversário como inimigo”, disse.
“O eleitor brasileiro não quer extremismo, não quer discussões alheias além da necessidade da vida real. Quer moderação”, continuou.
Já nesta segunda-feira (30), um dia após a reeleição, Covas terá de tomar medidas em relação à quarentena em São Paulo —a cidade poderá retroceder no Plano São Paulo, que estabelece níveis de isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus.
Na reta final do segundo turno, quando a vantagem de Covas para Boulos (PSOL) diminuiu nas pesquisas e as internações por Covid-19 começaram a aumentar na cidade, o prefeito passou a minimizar um repique da doença.
Chegou a chamar alertas de especialistas de “fake news” e “alarmismo” para afastar rumor de que o comércio pode ser fechados de novo, o que teria impacto eleitoral negativo.
No sábado (28), o prefeito disse que na cidade “não há espaço para o discurso alarmista dizendo que estamos escondendo dados, como não há espaço para discurso de que a pandemia já acabou.”
Covas foi escolhido para um novo mandato de quatro anos após uma reviravolta que o transformou, em pouco mais de dois anos, de vice desconhecido e baladeiro em um nome forte do PSDB que se projeta como líder nacional.
Ao votar, Covas prometeu cumprir o mandato até o fim, ao contrário de outros tucanos que deixaram a prefeitura para buscar outros cargos — mas que também haviam feito a mesma promessa, como
Doria, eleito prefeito em 2016 e que se elegeu governador de São Paulo dois anos depois.
Em outubro de 2019, Covas foi diagnosticado com câncer em estágio avançado no trato digestivo. Mesmo nos períodos mais agudos do tratamento, em que precisou se internar, não se afastou da prefeitura e fez reuniões com secretários direto do hospital.
Para evitar a exposição à Covid-19 na rua, Covas, que ainda trata o câncer, se mudou para o gabinete do prefeito e manteve os trabalhos. Embora tenha cedido a alguns lobbies e liberado a abertura de bares e restaurantes antes do recomendado por especialistas, sua condução da pandemia foi bem avaliada por 46% dos paulistanos, segundo Datafolha de outubro.
O prefeito acabou contraindo coronavírus em junho, mas se recuperou sem problemas.
Na eleição municipal, realizada em plena pandemia, a campanha tucana vendeu Covas como um “resolvedor de problemas”, que enfrentou grandes crises na cidade, que incluem também a queda de um viaduto na marginal Pinheiros, embora não tenha deixado marcas na gestão e nem cumprido a maior parte das metas que propôs.