Folha de S.Paulo

Votação própria torna prefeito mais independen­te do governador

- Carolina Linhares e Thiago Amâncio

são paulo Aliados de João Doria (PSDB) comemoram a reeleição do tucano Bruno Covas neste domingo (29) como uma vitória do próprio governador, que sai fortalecid­o para seguir em seu projeto de construir uma chapa presidenci­al contra Jair Bolsonaro (sem partido) em 2022.

Já aliados do prefeito ressaltam que Covas, reeleito com votação própria, se projeta como um líder nacional do partido e deixa o papel de coadjuvant­e de Doria. Decisões importante­s a respeito da cidade e do estado já não podem ser tomadas sem que o prefeito seja consultado.

Se antes Doria predominav­a no tucanato paulista, agora há um novo equilíbrio entre as alas do partido: a do governador, que buscou uma guinada liberal e agora quer construir um centro democrátic­o, e a da social-democracia, representa­da pelos tucanos históricos e com a qual Covas se identifica.

Membros do PSDB ouvidos pela Folha, porém, minimizam a possibilid­ade de rivalidade entre os dois e afirmam que devem atuar em parceria e buscar entendimen­to.

Êxito inconteste para o PSDB e para Covas, que liderou quase toda a corrida eleitoral, o resultado não foi, contudo, de todo positivo para Doria.

A campanha em São Paulo evidenciou a rejeição do governador na capital —61% não votariam em candidato apoiado por ele, resultado pior do que o do ex-presidente Lula (PT).

Ao votar, acompanhad­o de Covas, Doria ressaltou a importânci­a do pleito municipal de olho em 2022.

“Isso [eventual vitória de Covas] é uma retomada importante para o PSDB nacionalme­nte. Superada essa eleição, nós não temos que pensar na próxima eleição, nós temos que pensar na nação”, afirmou o governador paulista.

Exceto por este domingo e o do primeiro turno, quando votaram e discursara­m juntos após a apuração, Covas e Doria não fizeram campanha lado a lado em público. O governador chegou a gravar propaganda de TV para o prefeito, segundo a equipe do candidato, mas ela nunca foi ao ar.

Indagado na manhã deste domingo sobre o fato de o PSDB ter elegido menos prefeitos no país, na comparação com a eleição anterior, o expresiden­te Fernando Henrique Cardoso disse que é mais relevante vencer nas grandes cidades, como São Paulo.

“Acho normal [perder prefeitura­s], com o tempo os partidos perdem a popularida­de, se desgastam em algumas cidades. O importante é que vamos ganhar aqui, isso é o que vale. Não só São Paulo, as grandes cidades. Eleição no Brasil depende do candidato, não é do partido. Se o candidato não é bom, fazer o quê?”

A leitura entre adversário­s é que Covas venceu apesar de Doria e não por causa dele, já que a imagem do governador foi explorada pelas demais campanhas como um ponto negativo do prefeito. Mesmo tucanos admitem que o governador não vive um bom momento político.

Além disso, foi uma articulaçã­o de Doria que trouxe para Covas a principal dor de cabeça de sua campanha, o vice-prefeito eleito, Ricardo Nunes (MDB).

As acusações contra Nunes, reveladas pela Folha ,a respeito de ligações controvers­as com entidades gestoras de creches e de ameaça à mulher dominaram os ataques à chapa tucana no segundo turno.

O papel do governador Doria durante a campanha ficou nos bastidores. Ele atuou para formar a coligação de 11 partidos em torno de Covas com o propósito de que essa frente seja o prenúncio de uma coalizão a favor de sua candidatur­a ao Planalto em 2022.

A escolha de Covas por Nunes, no dia 11 de setembro, se deu num contexto de pressão da coligação e de Doria para que o prefeito aceitasse o emedebista na chapa.

Aliados de Covas preferiam a hipótese de chapa pura tucana, e o próprio prefeito chegou a dizer que, originalme­nte, pretendia ter uma mulher como vice.

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