Votação própria torna prefeito mais independente do governador
são paulo Aliados de João Doria (PSDB) comemoram a reeleição do tucano Bruno Covas neste domingo (29) como uma vitória do próprio governador, que sai fortalecido para seguir em seu projeto de construir uma chapa presidencial contra Jair Bolsonaro (sem partido) em 2022.
Já aliados do prefeito ressaltam que Covas, reeleito com votação própria, se projeta como um líder nacional do partido e deixa o papel de coadjuvante de Doria. Decisões importantes a respeito da cidade e do estado já não podem ser tomadas sem que o prefeito seja consultado.
Se antes Doria predominava no tucanato paulista, agora há um novo equilíbrio entre as alas do partido: a do governador, que buscou uma guinada liberal e agora quer construir um centro democrático, e a da social-democracia, representada pelos tucanos históricos e com a qual Covas se identifica.
Membros do PSDB ouvidos pela Folha, porém, minimizam a possibilidade de rivalidade entre os dois e afirmam que devem atuar em parceria e buscar entendimento.
Êxito inconteste para o PSDB e para Covas, que liderou quase toda a corrida eleitoral, o resultado não foi, contudo, de todo positivo para Doria.
A campanha em São Paulo evidenciou a rejeição do governador na capital —61% não votariam em candidato apoiado por ele, resultado pior do que o do ex-presidente Lula (PT).
Ao votar, acompanhado de Covas, Doria ressaltou a importância do pleito municipal de olho em 2022.
“Isso [eventual vitória de Covas] é uma retomada importante para o PSDB nacionalmente. Superada essa eleição, nós não temos que pensar na próxima eleição, nós temos que pensar na nação”, afirmou o governador paulista.
Exceto por este domingo e o do primeiro turno, quando votaram e discursaram juntos após a apuração, Covas e Doria não fizeram campanha lado a lado em público. O governador chegou a gravar propaganda de TV para o prefeito, segundo a equipe do candidato, mas ela nunca foi ao ar.
Indagado na manhã deste domingo sobre o fato de o PSDB ter elegido menos prefeitos no país, na comparação com a eleição anterior, o expresidente Fernando Henrique Cardoso disse que é mais relevante vencer nas grandes cidades, como São Paulo.
“Acho normal [perder prefeituras], com o tempo os partidos perdem a popularidade, se desgastam em algumas cidades. O importante é que vamos ganhar aqui, isso é o que vale. Não só São Paulo, as grandes cidades. Eleição no Brasil depende do candidato, não é do partido. Se o candidato não é bom, fazer o quê?”
A leitura entre adversários é que Covas venceu apesar de Doria e não por causa dele, já que a imagem do governador foi explorada pelas demais campanhas como um ponto negativo do prefeito. Mesmo tucanos admitem que o governador não vive um bom momento político.
Além disso, foi uma articulação de Doria que trouxe para Covas a principal dor de cabeça de sua campanha, o vice-prefeito eleito, Ricardo Nunes (MDB).
As acusações contra Nunes, reveladas pela Folha ,a respeito de ligações controversas com entidades gestoras de creches e de ameaça à mulher dominaram os ataques à chapa tucana no segundo turno.
O papel do governador Doria durante a campanha ficou nos bastidores. Ele atuou para formar a coligação de 11 partidos em torno de Covas com o propósito de que essa frente seja o prenúncio de uma coalizão a favor de sua candidatura ao Planalto em 2022.
A escolha de Covas por Nunes, no dia 11 de setembro, se deu num contexto de pressão da coligação e de Doria para que o prefeito aceitasse o emedebista na chapa.
Aliados de Covas preferiam a hipótese de chapa pura tucana, e o próprio prefeito chegou a dizer que, originalmente, pretendia ter uma mulher como vice.