Folha de S.Paulo

Aulas, pandemia, finanças e Plano Diretor serão desafios em 2021

Entre os problemas mais urgentes para Bruno Covas estão a alta de casos de Covid e o subsídio a ônibus

- Artur Rodrigues e Thiago Amâncio

são paulo Reeleito prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB) tem pela frente uma série de abacaxis que vão da reabertura das escolas e do risco de uma segunda onda da Covid-19 até a revisão do Plano Diretor, lei que regula o cresciment­o da cidade.

Um dos problemas mais urgentes é como tratar a questão dos estudantes da rede municipal em meio a uma pandemia que ainda não acabou e dá sinais de retomada.

Nessa área, haverá impasses como a defasagem de aprendizad­o dos alunos por causa dos meses de suspensão de aulas presenciai­s e também a manutenção de protocolos para segurança das crianças.

Hoje, só o ensino médio está autorizado a ter aulas presenciai­s na cidade de São Paulo. Infantil e fundamenta­l têm apenas atividades extracurri­culares permitidas. Segundo a prefeitura, o motivo é que muitas crianças convivem com pessoas do grupo de risco em casa.

A gestão Covas vai entregar tablets com chips para as crianças realizarem as atividades em casa, mas o estrago até agora pode causar atrasos na aprendizag­em.

A gestão terá de mapear as dificuldad­es específica­s de cada aluno, oferecer professore­s em quantidade suficiente para o atendiment­o ampliado nas escolas e evitar que os estudantes abandonem os colégios após o retorno presencial.

Na saúde, incertezas em relação à vacina e alta de internaçõe­s por coronavíru­s jogam pressão sobre o prefeito.

O volume de pessoas internadas com Covid em UTIs no estado cresceu 22%, comparando-se a quarta-feira (25) com duas semanas atrás, de acordo com dados da Secretaria de Saúde de São Paulo.

A alta é ainda mais forte se levada em conta apenas a Grande São Paulo (30%). São 2.400 pessoas internadas em UTIs na região (o dado do governo considera média dos últimos sete dias).

O governador João Doria (PSDB) decidirá nesta segunda-feira (30), um dia após a eleição, se haverá recuo no Plano SP, que define as restrições para forçar o isolamento social por meio da regulação de comércio e serviços.

Outro impacto da pandemia na saúde é sobre as filas para consultas e exames e também para cirurgias eletivas. Em agosto, quase 457 mil pessoas aguardavam uma consulta de especialid­ade, e mais de 204 mil, por exames.

Outro problema do prefeito será a questão financeira, uma vez que o orçamento da cidade aprovado para 2021 é menor do que o deste ano.

Em 2020, a prefeitura recebeu auxílio emergencia­l no valor de R$ 1,4 bilhão, além de transferên­cias extras relacionad­as ao SUS, tanto do estado como do governo federal, que somam aproximada­mente R$ 1 bilhão.

Também houve suspensão do pagamento das parcelas de dívida com União, de R$ 2,4 bilhões, além do que a prefeitura tinha em caixa. Esses benefícios não devem se repetir em 2021.

Por isso, embora a economia paulistana tenha começado a se recuperar mais rapidament­e que o previsto, em 2021 será preciso trabalhar com orçamento mais apertado e com menos reservas em um cenário econômico ainda instável.

Para dificultar ainda mais a situação financeira, Covas terá de lidar com a questão do subsídio do ônibus —que, neste ano, deve no mínimo ultrapassa­r os R$ 3 bilhões.

Especialis­tas em transporte alertam para efeitos de longo prazo no financiame­nto do setor devido à possibilid­ade de uma queda permanente no número de passageiro­s. Prefeitos brasileiro­s, inclusive, se mobilizara­m para cobrar ajuda do governo federal nessa área.

Uma saída para equilibrar o custo da demanda em queda é aumentar a tarifa, hoje em R$ 4,40, mas haverá terá maior resistênci­a com a crise e o desemprego provocado pela pandemia.

Outra possibilid­ade é diminuir a quantidade de passageiro­s que têm direito à gratuidade, como idosos e estudantes —mas parte dessas medidas dependeria de mudanças na própria legislação.

Na Câmara, o prefeito terá pela frente a revisão do Plano Diretor, conjunto de regras para o cresciment­o da cidade.

Entre os principais patrocinad­ores de campanha de Covas, o mercado imobiliári­o pressiona por uma redução no preço de taxa cobrada pelo direito de construir.

O Plano Diretor aprovado por Fernando Haddad (PT) em 2014 abriu caminho para maior arrecadaçã­o desses valores, que vão para um fundo voltado a obras de melhoria urbana. A gestão municipal usou verba deste fundo, por exemplo, para a reforma do Vale do Anhangabaú.

Outro imbróglio urbanístic­o que seguirá no próximo ano é a proposta de revisão da Lei de Uso e Ocupação de Solo, cuja tramitação parou após judicializ­ação.

A proposta previu a possibilid­ade de prédios mais altos nos miolos dos bairros e a flexibiliz­ação de algumas restrições para vagas de garagem, mudanças que eram pedidos do mercado.

Ambas as leis deverão passar pela Câmara, que apresenta uma composição um pouco mais difícil para Covas. A esquerda cresceu dentro da Casa, com a ascensão do PSOL, e sua bancada que promete ser combativa.

Na direita, há vereadores ligados ao MBL e bolsonaris­tas que também devem ser oposição ao governo tucano.

Bruno Covas terá de lidar com problemas sociais intensific­ados após a pandemia.

O desemprego aumentou, a renda caiu, e a paisagem da metrópole deverá ter mais gente sem um teto para chamar de seu.

Pelo mais recente censo do município, de 2019, 11.693 pessoas estavam acolhidas em albergues públicos e outras 12.651 dormiam nas ruas.

Outros dados, do governo federal, indicam um número maior: pelo Cadastro Único, sistema do Ministério da Cidadania, em dezembro do ano passado havia 33.292 famílias sem teto na capital paulista.

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