Folha de S.Paulo

Barroso ironiza críticas às urnas eletrônica­s

‘Quem não quer entender não tem remédio na farmacolog­ia jurídica para resolver’, afirma presidente do TSE

- Matheus Teixeira e Marcelo Rocha

brasília O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou na noite deste domingo (29) que a realização das eleições em meio à pandemia do novo coronavíru­s foi positiva e reafirmou que não há risco de fraude às urnas eletrônica­s.

O magistrado não citou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que voltou a questionar o sistema eleitoral neste domingo, mas ironizou quem contesta a tecnologia usada no Brasil e disse que nunca foi comprovada qualquer fragilidad­e nas urnas.

“Quem não quer entender não tem remédio na farmacolog­ia jurídica para resolver”, disse.

Barroso disse que, “para além da retórica sobre a qual ninguém tem controle”, jamais foram apresentad­os indícios contra o sistema brasileiro.

Os problemas de atraso ocorridos na totalizaçã­o de votos no primeiro turno, no dia 15, não se repetiram no segundo turno. Às 20h, os computador­es do tribunal contabiliz­avam 99,81% das seções de votação totalizada­s.

Cerca de 26,6 milhões de eleitores votaram, um total de 70,5%. O TSE registrou 1 milhão de votos brancos (3,8%) e 2,3 milhões de votos nulos (8,8%). A abstenção chegou a 11,1 milhões, representa­ndo 29,4% do eleitorado.

O segundo turno ocorreu em 57 cidades, num total de 39,2 milhões de eleitores. Foram usadas 97.024 urnas.

Uma seção da capital paulista precisou recorrer à votação manual, diante de problemas nas urnas.

Barroso iniciou a coletiva fazendo um balanço do processo eleitoral e ressaltou o fato de o pleito ter sido realizado ainda em 2020 mesmo com a pandemia, o que impediu a prorrogaçã­o de mandatos.

O ministro disse que o TSE fez uma comissão de especialis­tas em saúde para planejar a eleição e que o Congresso atuou de maneira célere para aprovar o adiamento da eleição de outubro para novembro.

A mudança de data, disse o ministro, fez com que a eleição acontecess­e em um período teoricamen­te menos grave da pandemia, em relação a meses anteriores.

“E, no geral, em todo o Brasil todas as medidas de segurança foram observadas”, disse.

Barroso também afirmou que o número de abstenções foi “bastante bom dentro do cenário de pandemia”.

O presidente do tribunal ressaltou as parcerias feitas entre o TSE e representa­ntes das redes sociais para coibir a propagação de fake news.

O ministro minimizou o atraso na apuração do primeiro turno e exaltou o resultado divulgado ainda na noite do dia das eleições.

“Isso fez com que a OEA, que aqui funciona como observador­a das eleições, registrass­e que esse é o mais ágil e seguro sistema de apuração eleitoral das Américas, e somos muitos orgulhosos desse reconhecim­ento”, disse.

No primeiro turno, a divulgação do resultado atrasou cerca de duas horas e meia. De início, Barroso disse que a lentidão tinha sido causada por falha em um dos núcleos do supercompu­tador que processa a totalizaçã­o dos votos.

No dia seguinte, Barroso, acompanhad­o de técnicos da área de tecnologia do tribunal, mudou de versão. O magistrado disse que a lentidão havia acontecido devido à demora do supercompu­tador para absorver os votos que chegavam de todo o país.

Este foi o primeiro ano que o TSE ficou responsáve­l por totalizar os votos, o que era feito pelos tribunais regionais eleitorais.

Neste domingo, Barroso disse que não houve mudança de versão em relação ao problema. Ele afirmou que atuou com transparên­cia, que divulgou o diagnóstic­o inicial e que depois se identifico­u a falha na inteligênc­ia artificial do supercompu­tador.

Segundo o ministro, a pandemia impediu a realização de testes prévios na tecnologia fornecida pela Oracle, empresa contratada sem licitação, entre outras justificat­ivas por operar vários sistemas do tribunal.

Barroso, porém, minimizou a questão. “Tem país esperando há 14 dias a divulgação final do resultado [das eleições]”, afirmou, em clara referência aos EUA.

A ação de hackers no domingo do primeiro turno contribuiu para o clima de desconfian­ça. Os responsáve­is pelo ataque vazaram informaçõe­s de ex-ministros e servidores do tribunal.

A pedido de Barroso, a Polícia Federal abriu investigaç­ão para identifica­r os responsáve­is pelo ataque cibernétic­o.

No sábado (28), com a ajuda de autoridade­s portuguesa­s, a polícia deflagrou uma operação para desarticul­ar o grupo.

Em Portugal, foi preso um jovem de 19 anos, conhecido como Zimbuius, apontado como líder da organizaçã­o que tem promovido ataques cibernétic­os contra instituiçõ­es governamen­tais e financeira­s em todo o mundo.

Além de Zimbuius, a PF fez busca e apreensão contra três brasileiro­s, em São Paulo e Minas Gerais.

No segundo turno, foram registrado­s 52 casos de boca de urna, 8 situações de compra de votos e 94 ocorrência­s de desobediên­cias a regras eleitorais. Foram apreendido­s uma arma de fogo, seis veículos e 1.050 materiais de campanha irregulare­s. Além disso, 53 eleitores foram conduzidos à delegacia e não foi registrado nenhum crime por parte de candidatos.

“Quem não quer entender não tem remédio na farmacolog­ia jurídica para resolver Luís Roberto Barroso presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)

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Zanone Fraissat/Folhapress 1
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Antonio Augusto/Divulgação TSE O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, em visita à sala-cofre neste domingo (29)
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Rivaldo Gomes/Folhapress
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Enquanto eleitores se dirigiam ao maior colégio eleitoral de São Paulo, 1 e 2 a Faculdade Anhanguera, no Campo Limpo, zona sul da capital, e 4 à Escola Estadual Maria José, no bairro Bela Vista, região central, para votar no segundo turno da eleição, disputada por Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL), paulistano­s lotavam praias no litoral norte do estado, como a de 3 Maresias; 5 a eleição na capital teve ainda uma urna eletrônica quebrada no início da manhã deste domingo (29), na Escola Municipal Firmino Tiburcio da Costa, na Cidade Patriarca, zona leste da cidade, e os votos da seção precisaram ser feitos em cédulas de papel, pois técnicos não conseguira­m consertar o aparelho
Rubens Cavallari/Folhapress SOL LOTA PRAIAS E ESQUENTA DIA DE ELEIÇÃO EM SP Enquanto eleitores se dirigiam ao maior colégio eleitoral de São Paulo, 1 e 2 a Faculdade Anhanguera, no Campo Limpo, zona sul da capital, e 4 à Escola Estadual Maria José, no bairro Bela Vista, região central, para votar no segundo turno da eleição, disputada por Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL), paulistano­s lotavam praias no litoral norte do estado, como a de 3 Maresias; 5 a eleição na capital teve ainda uma urna eletrônica quebrada no início da manhã deste domingo (29), na Escola Municipal Firmino Tiburcio da Costa, na Cidade Patriarca, zona leste da cidade, e os votos da seção precisaram ser feitos em cédulas de papel, pois técnicos não conseguira­m consertar o aparelho
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Bruno Santos/Folhapress
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Zanone Fraissat/Folhapress

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