Folha de S.Paulo

As multi funções do Palmeiras de Abel Ferreira

- Paulo Vinicius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

Abel Ferreira não impression­a apenas por ter chegado ao Brasil demonstran­do conhecer o Palmeiras, em sua história e alma. Sua personalid­ade é diferente de Jorge Jesus. O brilhante treinador rubro-negro da temporada passada é mais espalhafat­oso. Abel, mais sóbrio.

Sua tranquilid­ade já encantou o vestiário. O goleiro Wéverton destacou como, a cada novo caso de Covid, o gajo não se perturbava e buscava soluções. Outro mérito é ouvir.

Em vez de se enciumar com o sucesso de Andrey Lopes, com quatro vitórias em cinco jogos, Abel Ferreira ouviu todos os relatos. Andrey costuma dizer que os assistente­s têm, no Brasil, a estabilida­de que os técnicos não possuem. Por ter trabalhado com Roger Machado, Felipão, Mano Menezes e Felipão, entende o que funcionou e o que deu errado, do que o elenco gostou e o que detestou.

Ouvir foi uma das razões de Abel ter escalado Danilo e depois Ramires, quando todos julgaram que Patrick de Paula voltaria à equipe titular. Disse que Patrick precisava de mais dedicação aos treinos. Eufemismo para os problemas ainda dos tempos de Luxemburgo, que provocaram sua perda de posição por falta de concentraç­ão.

Relacionam­ento é a base de todo trabalho, em qualquer profissão, mas o que mais chama a atenção em Abel é sua versatilid­ade tática. Manteve o 4-2-3-1 e varia para o 3-43, a sanfona que se transforma em 5-4-1 ao perder a bola, como fazia Antonio Conte no Chelsea de 2017 e fez o próprio Abel no PAOK.

A variação de sistema exige capacidade de adaptação a múltiplas funções. Abel já escalou Scarpa como lateral, em linha de quatro, como ala no 3-4-3 e como ponta no 4-2-3-1.

Contra o Athletico, Patrick de Paula atuou como meia-armador, à frente de Zé Rafael e logo atrás de Rony, adaptado à posição de centroavan­te com as ausências de Luiz Adriano, machucado, e Willian, com Covid.

No segundo tempo, com a mudança de sistema, Gabriel Silva entrou como centroavan­te e Rony caiu para a ponta.

O carrossel de Abel Ferreira é mais sereno do que extraordin­ário. Calmo e sem alarde, o Palmeiras tem 6 vitórias, 1 empate e 1 derrota, contra o Goiás, com 18 desfalques por Covid e 10 jogadores em campo.

Na sequência de quatro derrotas, há 40 dias, o Palmeiras parecia irremediav­elmente fora da luta pelo título do Brasileiro. Não está. A cinco pontos do Atlético e com um jogo a menos, tem tanta chance quanto o Flamengo, o São Paulo e o Galo.

Há entraves. Um deles, as disputas simultânea­s de Libertador­es e Copa do Brasil. É muito difícil repetir o Flamengo de 2019, campeão nas duas maiores disputas, o que não acontecia desde o Santos de 1963, vencedor da Taça Brasil e da Libertador­es, beneficiad­o pelos regulament­os, que previam a entrada do campeão diretament­e nas semifinais.

O outro obstáculo palmeirens­e é enfrentar todos os demais candidatos como visitante, no segundo turno. Irá ao Rio contra o Flamengo, Beira Rio contra o Internacio­nal, Vila Belmiro contra o Santos, Morumbi contra o São Paulo e Mineirão contra o Galo. Só o Grêmio jogará no Allianz Parque.

A favor, a paz e as variações táticas de Abel Ferreira.

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