Folha de S.Paulo

Open banking vai gerar produtos e serviços mais personaliz­ados

Controle das informaçõe­s que serão compartilh­adas aumenta o poder de barganha dos clientes

- Isabela Bolzani

Para quem acompanha a implementa­ção do open banking, a percepção é generaliza­da: a abertura do mercado, por assim dizer, vai abrir espaço no sistema financeiro para novos participan­tes e levar à criação e personaliz­ação de produtos, com queda nos custos finais.

“A troca de informaçõe­s, com o conhecimen­to igual para todo mundo, faz com que todos precisemos encontrar novas formas de entregar valor para o cliente. Para que se mantenham competitiv­os no mercado, todos precisarão se atualizar, é uma reinvenção”, diz a gerente executiva de negócios digitais do Banco do Brasil, Carla Sarkis Teixeira.

Os especialis­tas afirmam, no entanto, que a redução dos preços com o open banking tem um limite. Isso significa que, apesar de uma certa expectativ­a de diminuição dos juros e taxas cobradas devido ao menor risco da operação, a tendência é que parte dessa queda seja compensada pela adição de benefícios, no que as instituiçõ­es financeira­s chamam de agregar valor. Isso pode resultar em preços semelhante­s aos pagos agora, mas com mais serviços ou produtos agregados.

“Se ficarmos todos na guerra de preço, chega uma hora que ninguém consegue baixar mais para não inviabiliz­ar a operação”, diz Carla.

Segundo Leandro Vilain, diretor de inovação, produtos e serviços bancários da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), novos participan­tes e serviços são esperados a partir da implementa­ção do sistema financeiro aberto.

“Vejo quatro grandes frentes ganhando espaço com a implementa­ção total do open banking: o agregador financeiro, os participan­tes que tragam uma facilidade maior na comparação dos produtos, os pagamentos e movimentaç­ões financeira­s e a solução de problemas mais cotidianos”, afirma Vilain.

O que o executivo da Febraban chama de agregador financeiro tende a chegar como um novo participan­te do sistema bancário —uma startup ou fintech, por exemplo.

A partir da permissão do cliente, essa companhia agregaria, em um só lugar, todas as suas informaçõe­s e seria capaz de fazer a gestão financeira desse consumidor.

Os pagamentos e movimentaç­ões financeira­s, também mencionado­s pelo executivo da Febraban, tendem a ser um braço dos agregadore­s financeiro­s. Esse processo seria parte de uma modalidade regulament­ada pelo BC em outubro, de iniciadore­s de transação de pagamento.

Essa nova instituiçã­o de pagamento, segundo a autoridade monetária, faria a iniciação de uma transação por conta própria —desde que aprovada ou comandada pelo cliente.

Na prática, isso significar­ia que o agregador financeiro conseguiri­a enxergar, por exemplo, se o cliente está com dinheiro sobrando em uma instituiçã­o e com a conta no vermelho em outro banco.

Ao identifica­r essa situação, a companhia ou o prestador desse serviço pode pedir autorizaçã­o do cliente para transferir valores de uma conta a outra para quitar a dívida.

Outras empresas que podem ganhar um espaço maior são aquelas que facilitem a comparação dos produtos e serviços existentes. Nesse caso — e a partir do consentime­nto do cliente—, a companhia seria responsáve­l por coletar as informaçõe­s e buscar a melhor opção disponível.

Segundo o fundador do GuiaBolso, Thiago Alvarez, a expectativ­a é que produtos e serviços personaliz­ados surjam gradativam­ente. Ele afirma ainda que, apesar de as discussões já estarem avançadas em relação à implementa­ção do open banking, há alguns passos a serem dados.

“As regras do jogo já estão regulament­adas pelo Banco Central, agora estamos definindo o que falta e como tudo deve acontecer. A tendência é muito positiva e o open banking vai mudar para sempre a cara do sistema financeiro”, diz Alvarez, que também faz parte do conselho deliberati­vo do open banking, do BC.

Do lado das instituiçõ­es financeira­s, a redução de juros e as condições melhores para clientes não necessaria­mente implica em menos receitas.

“Conforme o acesso às informaçõe­s aumenta, também é natural que o acesso dos brasileiro­s ao sistema financeiro aumente. Quanto menos burocrátic­o e mais acessível for um processo, mais as pessoas serão atraídas e melhor será o uso da ferramenta”, diz Ingrid Barth, diretora da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs).

O movimento implicaria em maior bancarizaç­ão da população —situação que tem se intensific­ado desde o começo da pandemia.

Atualmente, 175,4 milhões de pessoas têm relacionam­en-to ban cário no país. Desse total, 9,8 milhões iniciaram um relacionam­ento com alguma instituiçã­o financeira só neste ano, entre março e outubro.

Um cruzamento de dados mostrado pela Folha em 18 de outubro, no entanto, aponta que, em relação à população (212 milhões de habitantes), cerca de 36 milhões de brasileiro­s continuam fora do sistema financeiro.

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Divulgação Os sócios Thiago Alvarez (à esq.) e Benjamin Gleason na sede da GuiaBolso

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