Folha de S.Paulo

Bancos ignoram linha de crédito com garantia em maquininha­s

Os R$ 9,1 bilhões restantes serão extinguido­s em 31 de dezembro caso não sejam emprestado­s

- Isabela Bolzani

são paulo A pouco mais de um mês de os recursos serem extintos, menos de 10% dos R$ 10 bilhões disponívei­s para crédito facilitado para micro e pequenas empresas, além de microempre­endedores individuai­s, foram de fato concedidos pelos bancos.

O montante consta do Peac (Programa Emergencia­l de Acesso ao Crédito) Maquininha­s, um programa lançado pelo governo federal como medida para mitigar os efeitos da crise causada pela pandemia sob os micro e pequenos empresário­s.

A concessão de crédito com condições vantajosas —carência de seis meses, prazos de até 36 meses para pagar o empréstimo e juros de 6% ao ano— é feita por meio das maquininha­s de pagamento, mas depende dos bancos para ser liberado.

Dentre os grandes bancos, porém, apenas Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Safra aderiram à linha até agora, segundo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social), administra­dor dos recursos. O Itaú Unibanco não consta da lista dos aderentes do BNDES, mas divulgou que já havia emprestado cerca de R$ 180 milhões pela linha até a última quartafeir­a (25) para clientes da Rede, seu braço de adquirênci­a.

BMG, Inter, BS2 e a sociedade de crédito direto BMP Money Plus também aderiram à modalidade.

Ainda segundo o BNDES, cerca de 30 mil pequenos negócios foram beneficiad­os pelo programa. Eles emprestara­m R$ 897,4 milhões até quarta-feira (25).

Guilherme Afif Domingos, assessor especial do Ministério da Economia, afirma que há demanda pelo dinheiro, mas que houve uma fraca adesão e esforços insuficien­tes do lado dos grandes bancos em impulsiona­r essa linha.

“Temos um mercado com uma carência de crédito monumental e muita burocracia bancária. Esse crédito precisa chegar na ponta antes que vire abóbora”, disse Afif.

A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) atribui a baixa adesão ao programa à necessidad­e que as instituiçõ­es tiveram de se adaptar ao Pix —sistema de pagamentos instantâne­os que está em vigor desde 16 de novembro—, ao open banking (compartilh­amento de dados entre instituiçõ­es financeira­s, adiado para fevereiro de 2021) e aos demais programas emergencia­is do governo.

“O setor bancário atuou intensamen­te nos últimos meses na preparação dos ambientes de tecnologia. Todos esses programas e adaptações ao momento que estamos vivendo tiveram impacto no cronograma de implementa­ção do Peac Maquininha­s”, afirmou a federação em nota.

Os R$ 9,1 bilhões ainda disponívei­s pelo Peac Maquininha­s só poderão ser liberados até 31 de dezembro, uma vez que o programa se insere no conjunto de medidas emergencia­is promovidas pelo governo ao longo deste ano para combater os impactos do novo coronavíru­s —sendo, assim, parte do Orçamento de Guerra.

O Orçamento de Guerra foi estabeleci­do no primeiro semestreco­moobjetivo­desepararo­sgastosext­raordinári­osdo governocom­ocombateàp­andemiadoO­rçamentoda­União.

A PEC (proposta de emenda à constituiç­ão) pelo qual a medida foi promulgada afrouxa exigências de controle no uso dos recursos públicos, de maneira a dar mais espaço para a criação e expansão de ações econômicas por parte do governo para diminuir os impactos do novo vírus.

As burocracia­s e exigências para análise de crédito por parte das instituiçõ­es, segundo Domingos, também limitariam o acesso ao crédito para os MEIs e micro e pequenos empreended­ores. No Peac Maquininha­s, a garantia dada pelo tomador do empréstimo é 8% das vendas futuras.

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