Folha de S.Paulo

Natal deve ser insuficien­te para alavancar o comércio

Além das incertezas em relação à economia e à crise do coronavíru­s, consumidor­es terão menos dinheiro em mãos

- Larissa Garcia

brasília O Natal deste ano pode ter desempenho insuficien­te para alavancara retoma- dado comércio a olongo de 2021. Apesar de sera principal da tapara o setor, incertezas em relaçãoà pandemia e sobre como a economia deve reagir ainda devem impactar as vendas de fim de ano, afirmam especialis­tas.

Além disso, trabalhado­res que tiveram o contrato suspenso pela empresa —ação autorizada pelo governo devido ao estado de calamidade pública em função do coronavíru­s— também receberão um valor menor de 13º neste ano, tendo menos dinheiro em mãos para consumir.

Segundo estimativa do economista do Insper Alexandre C haia, feita apedido da Folha, o montante que deixará de ser injetado na economia com o corte ficará em torno de R$ 15 bilhões.

Além disso, R$ 47,9 bilhões em benefícios natalinos de aposentado­s e pensionist­as no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) foram antecipado­s, segundo o Ministério da Economia.

Para fazer frente às dificuldad­es impostas pela crise, o governo autorizou que o 13º benefício deste grupo fosse pago nos meses de abril e maio. Normalment­e, eles recebem a primeira parcela entre agosto e setembro e a segunda em dezembro.

Deste total, cerca de R$ 24 bilhões de aposentado­s e pensionist­as não serão pago sem dezembro (segunda parcela). Somados, são quase R $40 bilhões amenos nas mãos dos brasileiro­s neste fim de ano.

Com menos recursos para gastar em dezembro e a confiança abalada, o consumidor deve comprar menos presentes de Natal.

“Essa redução deve afetar ainda mais as vendas, mas acredito que as famílias também estarão receosas com relaçãoà evolução da pandemia, aquando avida volta ao normal eà economia e ficarão receosas na hora de consumir”, diz Chaia.

O Dieese (Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos) estimou que R$ 215 bilhões podem ser injetados na economia com o pagamento do 13º, valor um pouco superior ao projetado em 2019. O cálculo, entretanto, não leva em conta as suspensões de contrato ou o adiantamen­to.

Ao descontar o valor da segunda parcela já paga aos aposentado­s e pensionist­as e a estimativa de corte no benefício dos trabalhado­res, o valor cai para R$ 175 bilhões, redução de 18,6%.

“Temos ainda outros elementos que pioram apercepção do consumidor, como o fim do auxílio emergencia­l e de medidas do governo para atenuar acrise. Além disso, o desemprego também está crescendo e a renda diminuiu”, diz o economista.

A CNC (Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) diz, em nota, que a expectativ­a da entidade quanto aos recursos disponibil­izados por meio do pagamento do 13º é de R$ 211 bilhões em 2020.

A Fecomercio­SP estima que as vendas de Natal deste ano devam superar em 1% as do ano passado no estado de São Paulo.

A pesquisa da entidade ainda não foi divulgada, mas os dados foram obtidos pela reportagem com exclusivid­ade.

A entidade calcula que apenas com recursos do 13º salário, o comércio da região receberá R$ 5 bilhões a menos em dezembro, além do efeito negativo de R$ 2 bilhões com a redução do auxílio emergencia­l, que passou de R$ 600 para R$ 300.

Juntos, o impacto é de quase 10% nas vendas. “Isso significa que o comércio poderia crescer 10% a mais se não fosse por essas reduções”, afirma o economista da entidade Altamiro Carvalho.

“Com o aumento do desemprego, o total pago em 13º, mesmo sem considerar o corte, já será R$ 1,7 bilhão menor neste ano em São Paulo”, afirma Carvalho.

Segundo ele, apenas uma fatia do benefício dos trabalhado­res é destinado ao consumo. “Essa parcela diminuiu neste ano. Segundo nosso levantamen­to, o paulista pretende gastar 27% do 13º com as compras de fim de ano. Em 2019 eram 30%”, diz o economista.

Carvalho afirma ainda que os segmentos varejistas terão desempenho­s diferentes neste Natal.

“A média do cresciment­o não significa muita coisa neste ano porque os setores passam pelo período de forma distinta. A maior parte do cresciment­o virá de alimentos, então os supermerca­dos estão puxando [a alta]. Vestuário, por exemplo, vai ter desempenho muito inferior. Essa disparidad­e é preocupant­e”, diz.

O Ministério da Economia não tem estimativa de quanto a menos os 5,4 milhões de trabalhado­res que tiveram o contrato suspenso receberão neste fim de ano.

Desses, quase 70% ficaram sem trabalhar por um período superiora um mês e 10,1% ficaram mais de 90 dias em casa e terão ao menos três meses proporcion­ais descontado­s do benefício, segundo dados da pasta.

Entre esses trabalhado­res, 93% ganham até três salários mínimos (R$ 3.135). Desde o início da pandemia, a pasta cobriu R$ 18,2 bilhões dos salários de quem fez esse tipo de acordo.

Uma nota técnica do ministério, no entanto, divulgada em 17 de novembro, garantiu o pagamento integral àqueles que tiveram redução de salário, o que pode diminuir danos aos comerciant­es neste fim de ano.

A CNDL (Confederaç­ão Nacional de Dirigentes Lojistas) projeta que o desempenho do setor em dezembro não supere o ano passado.

“É um ano atípico, então a previsão, decerta forma,éo timista. A data deve diminuir prejuízos para o setor, especialme­nte para o comércio eletrônico, mas não é suficiente para recompor as perdas”, diz Daniel Sakamoto, gerente-executivo da entidade.

Uma pesquisa da entidade divulgada na quinta-feira (26) mostra que 32% dos trabalhado­res pretendem usar o 13º salário para comprar presentes de Natal e 21% para gastar nas festas de fim de ano. Além disso, 30% pretendem economizar e 21% pagar contas básicas.

O economista da FGV (Fundação Getulio Vargas) Rodolpho Tobler afirma que o auxílio emergencia­l foi protagonis­ta na recuperaçã­o do comércio e o fim do benefício deverá trazer desafios ao setor no próximo ano.

“Como em dezembro será paga a última parcela do auxílio, o consumidor poderá optar por não consumir porque não sabe como será 2021”, diz Tobler.

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