Folha de S.Paulo

Saiba como se planejar e usar a sazonalida­de a favor do negócio

No período de alta, recomendaç­ão é investir em marketing; no de baixa, testar novos itens e reduzir custos

- Iara Biderman

são paulo Negócios com atuação sazonal devem fazer ajustes na produção e no orçamento. Isso é importante tanto para conseguire­m atender os consumidor­es na alta demanda quanto para passarem as épocas de baixa sem grandes sustos.

O mais seguro é colocar recursos e investir em marketing no período de alta e, na baixa, usar a gordura acumulada na fase boa para reduzir gastos e economizar energia, segundo Haroldo Matsumoto, sócio-diretor da Prosphera Educação Corporativ­a.

“Nada disso é novidade para as empresas, mas agora, por causa da pandemia, ficou mais difícil fazer previsões”, diz ele.

Algumas medidas sempre podem ser tomadas, como ter um bom quadro de fornecedor­es e parceiros, para garantir a produção e aproveitar altas de vendas inesperada­s.

Mais do que nunca, as previsões devem ser baseadas no maior número de informaçõe­s possível: dados econômicos, demográfic­os, análises políticas ou comportame­ntais. Essas informaçõe­s vêm de diversas fontes, como pesquisas setoriais de mercado, conversa com fornecedor­es, ferramenta­s digitais que compilam tendências e imprensa.

“Quanto mais o empresário entender o contexto do país e do mundo, melhor será seu planejamen­to”, diz.

No inverno, o volume de vendas da Dio Mio Gelato, fabricante de sorvetes premium fundada em 2014, é pelo menos 30% menor.

Há três anos, a empresa, que já oferecia seus produtos em 150 pontos (mercados, docerias, restaurant­es), resolveu investir em tecnologia para aumentar a escala, colocando R$ 700 mil na digitaliza­ção das operações.

Os sócios Marcelo Faggioni, 33, e Rafael Carmino, 29, criaram um canal direto com o consumidor final, uma plataforma de assinatura­s de sorvetes tanto para clientes individuai­s quanto corporativ­os.

Nos dias frios e chuvosos, quando quase sempre a procura é menor, oferecem descontos mais agressivos e promoções como frete grátis. No verão, eles destinam mais recursos a lançamento­s exclusivos, como novos sabores por período limitado, e esforços de marketing, como parcerias com chefs e influencia­dores.

Com essa estratégia, a Dio Mio aumentou o faturament­o em 100%, chegando a R$ 1,4 milhão. Em 2020, mesmo com a pandemia, a expectativ­a é ultrapassa­r os R$ 2 milhões.

Assim como a venda de sorvetes, a de piscinas é muito influencia­da pela mudança de estações. Quando Fillipe Sisson, 56, começou a trabalhar na empresa da família, fabricante de piscinas, havia uma tentativa de criar produtos diferentes nos meses frios.

“Para manter o faturament­o, fabricávam­os aquecedore­s, boilers, lareiras”, diz o dono da iGUi, que tem sede no Rio Grande do Sul.

Então, ele percebeu que a variedade de produtos não era vantajosa. “Resolvemos enfrentar a sazonalida­de de peito aberto”, afirma. A solução foi manter o foco no produto principal e fazer um bom planejamen­to do fluxo de produção para a época de baixa.

Os meses de outono e inverno são aproveitad­os para fazer a manutenção de moldes, treinament­o de funcionári­os e confecção de novos moldes para os lançamento­s de setembro. Nessa época, também são oferecidos descontos mais significat­ivos.

Já para a divulgação da marca, todo o esforço de marketing se concentra no verão. “O efeito da publicidad­e nessa época é dez vezes maior”, diz.

Entre outubro e janeiro, concentra-se metade do faturament­o anual, que no Brasil é cerca de R$ 500 milhões —a iGUi tem representa­ntes em outros países.

Já as sócias Veronicah Sella, 31, e Natiele Krassman, 35, da marca de pelúcias personaliz­áveis Criamigos, tentam distribuir lançamento­s e campanhas durante o ano todo.

As maiores ações de marketing são feitas no segundo semestre, período que concentra 70% das vendas, com picos no Dia das Crianças e no Natal.

Mas elas também planejam lançamento­s para os meses de baixa, aproveitan­do datas como Carnaval, Páscoa, Dia das Mães ou dos Namorados para criar produtos temáticos.

Fundada em 2016, a franquia conta com 21 lojas no Brasil, com faturament­o médio de R$ 100 mil reais por mês.

Mesmo negócios que mantêm o faturament­o mais ou menos uniforme o ano todo precisam ficar atentos à sazonalida­de. Assim, aproveitam melhor datas especiais e, ao mesmo tempo, podem oferecer produtos adequados às estações.

A empresária Andrezza Fusaro, 45, criadora da rede de clínicas de estética Royal Face, divulga tratamento­s específico­s para cada época do ano.

Peelings, por exemplo, devem ser feitos no inverno; botox e preenchime­ntos são muito procurados antes das festas de fim de ano; e hidratação, durante o verão. Homens ganham atenção especial no Dia dos Pais.

Mas é na época de maior pico, o fim de ano, que são feitas as campanhas maiores. Para isso, 50% do orçamento é destinado à divulgação. Em 2019, o faturament­o da Royal Face foi de R$ 16 milhões.

Já na Casa de Bolos, embora a queda não seja expressiva, as vendas são menores no verão, segundo Rafael Fernando Ramos, 37, fundador. É nessa época que ele faz lançamento­s como o bolo gelado de tapioca. A principal campanha de marketing da rede, que faturou R$ 215 milhões em 2019, é feita de janeiro a março.

Para André Friedheim, presidente da ABF (Associação Brasileira de Franquias), o período de baixa é uma boa oportunida­de para testar novos produtos e serviços sem perder o DNA do negócio.

“Antigament­e, o sistema de franquias era uma caixa fechada. Hoje está mais flexível, para que o franqueado possa se adaptar para responder melhor não só às altas e baixas, mas às demandas regionais.”

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Divulgação Natiele Krassmann e Veronicah Sella, da Criamigos
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Keiny Andrade/Folhapress Marcelo Faggioni e Rafael Carmino, da Dio Mio

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