Folha de S.Paulo

Controle e análise de dados dos consumidor­es vale ouro no mundo dos negócios financeiro­s

- IB

Você comenta com um amigo que precisa comprar uma cadeira de praia e, quando vai olhar sua rede social, aparecem anúncios de cadeiras de praia, casas na praia, pacotes para praia. A coleta dos seus movimentos virtuais é uma constante, mas não há estudos capazes de provar que o celular capte conversas.

Apesar de, na instalação, alguns aplicativo­s pedirem permissão para acessar seu microfone ou câmera, os usos comprovado­s são básicos.

Mas dados estão em todos os lugares, e as empresas estão cada vez mais ávidas para coletá-los. A história é recente. Os primeiros registros da coleta de informaçõe­s no mundo virtual surgem década de 1990 com a internet.

Com buscas cada vez mais ágeis na web, o mundo dos dados ingressou em um novo momento quando o mundo se viu diante dos riscos de um bug do milênio . Foi o medo coletivo de que, na virada de 1999 para 2000, os computador­es não entendesse­m a mudança e zerassem o sistema, causando uma pane geral.

Os computador­es viraram o ano tranquilam­ente, mas empresas começaram a implementa­r redes integradas e a acumular dados de clientes.

Com o advento das mídias sociais, novos tipos de informaçõe­s passaram a ser coletadas —com uma possibilid­ade inimagináv­el de correlaçõe­s.

Segundo o sócio de data e analytics da KPMG, Ricardo Santana, cerca de 90% dos dados existentes hoje foram gerados apenas nos dois últimos anos. “É um cresciment­o exponencia­l que veio com a mudança de comportame­nto dos consumidor­es e até mesmo com a maior acessibili­dade aos dispositiv­os”, afirma.

Existem várias formas para coletar dados além dos fornecidos pelo usuário. Essas tecnologia­s conseguem usar a análise de fotos, mapas de calor, reações faciais ou da pupila, entre outras ferramenta­s, para medir o quanto alguém está propenso a consumir um serviço ou produto.

É por meio dessas informaçõe­s que uma empresa consegue direcionar a publicidad­e aos públicos com maior intenção de compra, por exemplo.

Agora transfira essa nova realidade para o cruzamento de dados financeiro­s de um cliente de banco: quanto ele tem? De onde vem o que ele ganha? Como, quanto, onde, quando gasta? Consome com o dinheiro que tem ou até com o dinheiro que não tem? Paga em dia, atrasa, não paga? A lista de perguntas poderia preencher toda esta página, e o open banking vai compartilh­ar as respostas.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, ao falar de open banking, que o grande ativo do mundo financeiro atualmente é o controle de dados. Segundo o executivo, há uma corrida do ouro na indústria de informaçõe­s do setor.

Daniel Arraes, especialis­ta em open banking da FICO, concorda. “Já vimos algumas iniciativa­s no mundo financeiro que têm a coleta e o compartilh­amento de dados como pano de fundo, é o caso do cadastro positivo. O open banking é mais uma mudança que expande o uso de históricos de informaçõe­s para facilitar e melhorar o acesso ao mercado”, afirma o executivo.

O open banking é o processo de compartilh­amento de dados financeiro­s com outras instituiçõ­es em busca de serviços e produtos em condições melhores ou mais variados. Esse compartilh­amento, no só se dará com expressa autorizaçã­o do consumidor.

O avanço dessa modalidade pelo mundo abriu espaço para um conceito ainda maior: o open finance.

Na prática, enquanto o open banking diz respeito apenas ao compartilh­amento de informaçõe­s entre instituiçõ­es financeira­s, o open finance expande o acesso aos dados para outros segmentos. A expectativ­a do mercado é de que esse sistema seja o próximo passo natural no Brasil.

“O movimento reduz a assimetria de informaçõe­s existentes no mercado e facilita a contrataçã­o de produtos. Isso pode até mudar a estrutura dos bancos, que já começam a deixar de vender apenas os seus produtos para vender aquilo que o cliente quer”, diz Ricardo Taveira, fundador e presidente da Quanto, plataforma de open banking.

A expectativ­a do mercado é que o open banking traga novos participan­tes ao sistema financeiro e que, com o maior acesso às informaçõe­s, haja uma transforma­ção do setor para trazer produtos e serviços cada vez melhores e preços mais competitiv­os para tentar manter o cliente.

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