Folha de S.Paulo

Comerciant­es paulistas ficam apreensivo­s com recuo perto do Natal

Associaçõe­s temem perda de receita no período de festas e dizem que pagam pela clandestin­idade e pela informalid­ade

- Bruna Narcizo Colaborara­m Aline Mazzo e Igor Gielow, de São Paulo

são paulo O anúncio de que a cidade de São Paulo e outras regiões do estado que estavam na fase verde do Plano SP de combate ao coronavíru­s terão que regredir para a fase amarela deixou comerciant­es paulistas apreensivo­s, sobretudo com a proximidad­e com o Natal.

A regressão foi anunciada um dia após a eleição do segundo turno da capital paulista, vencida por Bruno Covas (PSDB) —o prefeito reeleito apoiado pelo governador do estado, João Doria (PSDB).

Com a fase amarela, a ocupação dos estabeleci­mentos fica limitada a 40%; o funcioname­nto volta a ser de dez horas por dia, com limite de horário até as 22h; e eventos com público em pé ficam proibidos. A medida começa a valer nesta quarta-feira (2).

“Estamos sendo punidos por quem não fez o dever de casa. Vemos com muitas tristeza estarmos sendo colocados no mesmo balaio de setores que não se prepararam como nós”, diz Glauco Humai, presidente da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers).

Segundo ele, o problema são os eventos clandestin­os e festas, que estão fora do radar do governo.

“A gente lamenta a decisão porque fizemos muito esforço para se adequar às novas regras, contratamo­s pessoas, investimos em tecnologia e higiene”, afirma Humai.

Fábio Pina, assessor econômico da Fecomercio­SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), tem opinião parecida.

“O varejo se portou de forma exemplar na pandemia. Não é o foco do atual problema. Sabemos que o problema são os focos clandestin­os, que não seguem nada que está previsto em lei e não pagam imposto. Nós estamos pagando o preço pela clandestin­idade e informalid­ade”, diz Pina.

O assessor econômico diz que ainda não é possível mensurar o prejuízo dos lojistas com a redução em dezembro. Segundo ele, as vendas do varejo no mês são 30% maiores que a média, devido às festas. “Só o setor de vestuário vende 100% a mais. Se eu perder dezembro, não sei como vai ser.”

Para ele, a redução de horas também pode contribuir para uma maior aglomeraçã­o, principalm­ente neste período.

“Todas as lojas estão medindo temperatur­a, usando álcool em gel. Desde agosto estamos trabalhand­o no modelo de 12 horas por dia e não foi isso que aumentou os casos.”

Vander Giordano, vice-presidente institucio­nal da Multiplan, empresa com 19 shoppings em seis estados mais o Distrito Federal, também não está satisfeito com o retorno para a fase amarela.

“Contratamo­s uma empresa australian­a e realizamos testes de PCR em 190 superfície­s diferentes para detecção do coronavíru­s. Em todos os shoppings da companhia o resultado foi negativo. Teve eleições, eventos de campanha, festas noturnas. É preciso mapear para não punir quem está fazendo as coisas de forma correta”, afirma.

A preocupaçã­o é partilhada pelo presidente do conselho estadual da Abrasel- SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurant­es de São Paulo), Percival Maricato. “É decepciona­nte e muito injusto com o nosso setor. Estávamos na expectativ­a de ter a liberação das calçadas para colocação de mesas, além da manutenção do que já havíamos conquistad­o, para pagarmos as contas.”

A secretária do Desenvolvi­mento Econômico de São Paulo, Patrícia Ellen, disse ter ficado surpresa com a posição dos comerciant­es.

“Essa fase amarela já contempla os ajustes que foram negociados com os setores.” Segundo ela, dez horas de comércio aberto são o suficiente para evitar aglomeraçõ­es.

“Óbvio que há sempre o desafio. Estamos nos esforçando para controlar o aumento do vírus e o aumento de internaçõe­s, não queremos esperar para tomar medidas mais restritiva­s, como aconteceu em países da Europa.”

A nova classifica­ção terá validade até 4 de janeiro de 2021, mas pode ser alterada se for notada alteração nos indicadore­s, que passarão a ser reavaliado­s a cada sete dias.

Cinemas e teatros não terão alteração no funcioname­nto pelas regras do governo. A Prefeitura de São Paulo, no entanto, suspendeu as atividades quando a fase amarela foi anunciada da última vez. A possibilid­ade de essa medida voltar preocupa o setor.

“A ida ao cinema está muito baixa, e isso está acontecend­o pelo fato dos cinemas terem ficado fechado mais tempo do que outras atividade. Se tivermos que fechar de novo, isso vai causar ainda mais medo”, diz André Sturm, proprietár­io do Petra Belas Artes.

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