Jovem, negra, evangélica e conservadora é eleita prefeita em Bauru
RIBEIRÃO PRETO Primeira mulher eleita prefeita de Bauru, jovem, negra, evangélica e conservadora. Assim pode ser descrita a jornalista Suéllen Rosim (Patriota), 32, que neste domingo (29) venceu a eleição para a prefeitura da cidade localizada a 329 km de São Paulo.
Numa disputa em que seu partido entrou com chapa pura e em que teve apenas 14 segundos de TV no horário eleitoral no primeiro turno, Suéllen derrotou o médico e ex-vereador Raul Gonçalves Paula (DEM), 59, que estava em sua segunda tentativa de chegar à prefeitura.
A jornalista obteve 89.725 votos, 55,98% dos votos válidos, e tinha uma coligação formada por mais três partidos —PSL, PP e MDB.
No primeiro turno, Suéllen já tinha liderado, mas com placar de 36,12% a 33,28%. O atual prefeito, Clodoaldo Gazzetta (PSDB), que tentava a reeleição, obteve 8,91%.
Evangélica, com um vice católico, o médico Orlando Dias (Patriota), 66, ela disse não ter enfrentado problemas em relação à religião, mas o mesmo não pode ser dito sobre a sua cor.
Nesta segunda (30), Suéllen recebeu mensagens racistas publicadas em um grupo de WhatsApp e em redes sociais e afirmou que não se silenciará. Uma das mensagens dizia: “Bauru não merecia ter essa prefeita de cor com cara de favelada comandando nossa cidade. A senzala estará no poder nos próximos quatro anos”.
“São coisas que sabemos que existem e nos chateiam porque isso não é algo que nos valida ou não. Combater o racismo é desgastante, mas necessário. Tomei as medidas, registrei um B.O. pedindo providências para responsabilizar os envolvidos”, disse a prefeita eleita.
Foi a primeira disputa à prefeitura de Suéllen, mas não sua primeira eleição, já que em 2018 tentou ser deputada estadual. Foi a terceira mais votada na cidade, com 15.572 votos.
A disputa de dois anos atrás foi decisiva para que a jornalista deixasse o emprego que tinha havia oito anos na TV Tem, afiliada da Globo, onde era repórter e apresentadora e na qual estava desde que se formou na Unitoledo, em Araçatuba.
“São duas coisas que não daria para conciliar. Para manter a imparcialidade necessária, seria impossível [seguir como jornalista]. A minha vinda para a política tem a ver com a conexão da rua, já que o jornalismo aproxima muito da população. A diferença é que, para ir além da profissão, a política é uma das ferramentas para resolver os problemas. Ela deve ser vista como solução, não problema.”
Problemas, aliás, é o que ela encontrará a partir de 1º de janeiro. Além dos reflexos da pandemia do novo coronavírus, que em Bauru já resultou em 17.849 casos confirmados e 268 mortes, para uma população de 379.297 habitantes, o abastecimento de água, o tratamento de esgoto e a geração de empregos são questões que devem ser prioridades, segundo Suéllen.
A transição com Gazzetta deverá começar de imediato, de acordo com o atual prefeito. “A partir de amanhã [segunda] estou colocando toda a prefeitura à disposição para um processo de transição”, escreveu Gazzetta logo após a divulgação do resultado, na noite de domingo (29).
Outro problema será como conseguir aprovar projetos na Câmara já que, sem coligação com outra sigla, o Patriota elegeu apenas um vereador, Marcelo Afonso.
“Fizemos um só, mas foi uma característica geral, com muitos partidos elegendo poucos nomes. Temos de dialogar para trabalhar o bem comum, que é Bauru.”
O Legislativo local tem 17 cadeiras e terá, a partir de 1º de janeiro, políticos de 13 legendas. Dos eleitos à Câmara, apenas três são mulheres. Suéllen disse esperar que sua eleição contribua para que a “porta permaneça aberta para que outras mulheres continuem passando por ela”.
Mulher, primeira prefeita, jovem, negra, evangélica e conservadora. Falta algo? “Eu acrescentaria que vou governar para todos. Ao longo da minha carreira construí uma zona de conforto entre as duas frentes [profissão e política]. Hoje tenho diálogo extremamente aberto com todos, até porque não tem como ser diferente.”
“Vou governar para todos. Ao longo da minha carreira construí uma zona de conforto entre as duas frentes [profissão e política]. Hoje tenho diálogo extremamente aberto com todos
Suéllen Rosim
prefeita eleita em Bauru