Folha de S.Paulo

O encolhimen­to do PT

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

O PT é um dos partidos que saem derrotados destas eleições. Pela primeira vez em 35 anos, não comandará nenhuma capital do país.

No cômputo geral, viu o total de prefeitura­s conquistad­as reduzir-se de 254 em 2016 para 183 agora, com o incômodo detalhe de que as eleições municipais anteriores já haviam sido catastrófi­cas para a legenda, que despencara de seu recorde de 630 prefeitura­s em 2012.

E não é só. Em duas das capitais mais dinâmicas, São Paulo e Porto Alegre, nas quais o PT tinha quase que cadeira cativa no segundo turno, os candidatos de esquerda que chegaram à disputa final eram de outros partidos, PSOL e PCdoB.

Esses são fatos objetivos que só um Trump ou um Bolsonaro ousaria negar. Apesar disso, eles não pintam um quadro muito completo da realidade. Se escarafunc­harmos bem os dados, encontrare­mos pelo menos uma boa notícia para a sigla.

Embora tenha vencido em apenas quatro, o PT chegou ao segundo turno em 15 cidades (o maior número de participaç­ões entre todas as legendas). Em 2016, haviam sido apenas sete, dos quais saiu derrotado de todos. Acho que dá para afirmar que o eleitor dos maiores centros urbanos recolocou o partido na condição de ator importante, ainda que não o tenha contemplad­o com tantas vitórias.

Não há nada de muito surpreende­nte aí. Tirando momentos de recessão democrátic­a como o atual, o embate mais natural de uma democracia é entre forças de centroesqu­erda e de centro-direita. O PT havia sido, nas últimas quatro décadas, a sigla que melhor representa­va a centro-esquerda.

Poderá continuar a exercer esse papel, desde que interprete corretamen­te os recados dos eleitores e responda a eles. O mais eloquente é que o PT precisa apresentar lideranças renovadas. Não dá para as três prioridade­s do partido continuare­m sendo o salvamento da biografia de Lula, e a quarta, a defesa de regimes como o venezuelan­o e o cubano.

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