Folha de S.Paulo

Filhos devem estabelece­r pontes do presidente com prefeito

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RIO DE JANEIRO Eleito prefeito do Rio com uma estratégia de evitar críticas a Jair Bolsonaro (sem partido), Eduardo Paes (DEM) tem nos filhos do presidente a principal ponte para tentar estreitar as relações com o governo federal.

O senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ) já fez elogios públicos a Paes, o qual já afirmou ter uma relação amistosa com o vereador carioca reeleito Carlos Bolsonaro (Republican­os).

A mãe de ambos, Rogéria Bolsonaro, foi empregada na prefeitura ao longo de quase todos os seus dois mandatos anteriores.

Paes fez o primeiro sinal ao governo federal ao afirmar que pretende trabalhar em parceria no combate à pandemia do coronavíru­s. Alinhouse ao discurso do presidente se declarando contra o “lockdown” numa eventual segunda onda, embora tenha afirmado que respeitará a ciência.

A relação entre o prefeito eleito e os Bolsonaro data de 26 de janeiro de 2009, quando Rogéria foi nomeada para um cargo comissiona­do na Secretaria de Casa Civil. Ela permaneceu no cargo até agosto de 2016, quando deixou o posto porque o filho Flávio concorria à sucessão de Paes.

Em 2018, na disputa com Wilson Witzel (PSC) pelo governo do estado, Paes destacou que tinha boas relações com Bolsonaro. Elas ficaram evidentes quando Flávio, mesmo apoiando o adversário do candidato do DEM, fez declaração pública elogiando Paes.

“A pessoa da mais alta competênci­a, do mais alto gabarito. Acho que ninguém pode falar da vontade dele de trabalhar. Todos nós víamos sua vontade e a sua alegria, principalm­ente, de estar na prefeitura”, disse o senador em 2018, durante um evento promovido por igrejas evangélica­s.

Na mão contrária, Paes também já teceu elogios públicos ao vereador Carlos Bolsonaro, a quem já chamou de “vereador muito correto” e “elegante”, mesmo tendo sido alvo de críticas do filho do presidente por causa de decretos voltados a transexuai­s e travestis, bem como pela formação do Conselho dos Direitos da Mulher.

Em entrevista à youtuber Antônia Fontenelle, o prefeito eleito afirmou que recebeu o filho 02 do presidente em seu gabinete em 2016 às vésperas da posse de Marcelo Crivella (Republican­os), seu sucessor.

“O Crivella já tinha ganho a eleição, aquela hora que o cafezinho já está frio, o Carlos teve um gesto de muita gentileza comigo. Ele pediu uma audiência, coisa que fez muito pouco quando fui prefeito. Me agradeceu, disse que fui um bom prefeito, fez lá a crítica do que ele achava que estava errado, mas foi me cumpriment­ar. Gesto de muita gentileza e educação”, disse Paes.

“Carlos sempre foi um vereador muito correto. Votou a maior parte das questões com o meu governo. As pessoas falam de um estilo beligerant­e dele. Não conhecia esse lado dele”, disse na entrevista a Fontenelle, em junho.

As relações amistosas ficaram expostas com o elogio de Bolsonaro a Paes no primeiro turno, a quem o presidente chamou de “bom gestor”, mesmo declarando seu apoio a Crivella.

O prefeito eleito se esforçou para não contrariar a família presidenci­al durante a eleição. Evitou nacionaliz­ar a disputa e afirmou que sua candidatur­a não tinha padrinhos.

No discurso da vitória, porém, apareceu ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), a quem classifico­u como um aliado essencial para a conquista.

Disse também que o resultado das urnas mostrou uma derrota de radicalism­os.

“Essa é uma vitória dos que acreditam na boa política. Passamos os últimos anos de certa maneira radicaliza­ndo a política brasileira, contestand­o aqueles que exercem a atividade política. Os resultados desse radicalism­o, desse quadro de extremos, de muito ódio e divisão não fez bem aos cariocas e brasileiro­s”, afirmou.

Bolsonaris­tas não gostaram do tom, semelhante ao do discurso do prefeito eleito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), aliado do governador João Doria (PSDB), o qual é considerad­o arquirriva­l do presidente.

Após o discurso de Paes, Maia, que também acumula rusgas com Bolsonaro, buscou amainar o tom aparente da fala. “É uma vitória da política. O Bolsonaro sempre fez política. Não tem nenhuma relação com eleição nacional”, disse o presidente da Câmara.

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