Folha de S.Paulo

Propostas de Marinho e Tarcísio saem na frente das de Guedes no pós-eleição

Governo e Congresso priorizam pautas como Casa Verde e Amarela e BR do Mar, em detrimento de temas como o Pacto Federativo

- Fábio Pupo e Bernardo Caram

brasília Com o fim das eleições municipais, governo e Congresso entraram na reta final do calendário legislativ­o dando prioridade nas discussões a propostas originadas fora do Ministério da Economia. Enquanto isso, as reformas gestadas pela pasta continuam sem data para deliberaçã­o.

O movimento mostra como a agenda do ministro Paulo Guedes (Economia) segue em compasso de espera mesmo após o término dos pleitos regionais, mencionado­s como um dos principais entraves para debater a pauta econômica nos últimos meses.

Duas propostas do Executivo têm previsão de votação nesta semana na Câmara.

Uma delas é a proposta da Casa Verde e Amarela, programa habitacion­al lançado em agosto pelo ministro Rogério Marinho, do Desenvolvi­mento Regional. O texto tramita no Congresso por meio de medida provisória e tem aproximada­mente um mês pela frente para ser aprovada e não perder a validade.

O outro texto com votação prevista para esta semana é o da BR do Mar, que muda regras para navegação no país. Apesar de levar a assinatura de Guedes (que também o defende), o texto foi criado originalme­nte pelo Ministério da Infraestru­tura, de Tarcísio de Freitas (sendo depois discutido com outras pastas).

O projeto da BR do Mar foi alvo de pedido de urgência pelo governo. A medida tranca outros projetos caso não seja deliberado em 45 dias após a requisição. Mesmo alvo de controvérs­ias, o Executivo decidiu manter o regime.

Propostas mais amplas e vistas como prioritári­as pela equipe econômica não têm previsão para votação.

O secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, citou nos últimos dias uma série de projetos considerad­os imprescind­íveis para a situação do país.

“A solução é reforma estrutural, para cuidarmos estrutural­mente da economia.”

A lista apresentad­a inclui as privatizaç­ões, a proposta do Pacto Federativo, a reforma administra­tiva, a tributária, medidas de liberação comercial, redução de subsídios, a autonomia do Banco Central e mudanças em marcos legais setoriais (como ferrovia, óleo e gás e a própria cabotagem).

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PPPR), afirma que o governo ainda busca a aprovação de temas da agenda econômica na Câmara, como a autonomia do BC e a reforma tributária. “Continuamo­s tentando”, disse à Folha.

A proposta da Lei de Falências foi aprovada nos últimos dias, antes do segundo turno das eleições municipais. A equipe econômica já dá sinais de que parte relevante das propostas não deve avançar em 2020.

O secretário do Tesouro, Bruno Funchal, disse na semana passada que não seria “o fim do mundo” não aprovar neste ano as propostas que limitam gastos.

“Se for aprovada, é uma sinalizaçã­o excelente porque você já reduz a incerteza em relação à trajetória da despesa para além de 2022. [...] Mas a não aprovação para já não é o fim do mundo, porque o teto será cumprido até 2022 e 2023”, afirmou Funchal.

Antes defendida como uma prioridade, a PEC Emergencia­l foi elaborada com objetivo de diminuir despesas e tramita há mais de um ano no Senado.

Dependendo de sua extensão, o texto poderia abrir espaço no Orçamento para um programa social mais robusto que o atual Bolsa Família. Mas o relatório, discutido há meses pelo governo e pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC), ainda não foi apresentad­o.

Segundo membros do Ministério da Economia, ao menos oito versões da PEC Emergencia­l foram elaboradas pelos técnicos da pasta, com diferentes graduações nas medidas de ajuste fiscal. No entanto, ainda não houve acordo entre os congressis­tas.

Em reuniões de governo, Guedes segue defendendo que a proposta preveja o mecanismo da desindexaç­ão. A medida, que poderia congelar aposentado­rias, já foi rejeitada por Bolsonaro e enfrenta resistênci­a no Congresso.

Também continuam indefinido­s textos básicos para o funcioname­nto da máquina pública a partir do ano que vem, como o PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentár­ias) e o Ploa (Projeto de Lei Orçamentár­ia Anual).

A indefiniçã­o do governo foi criticada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), para quem o governo deveria ter começado o dia seguinte ao das eleições municipais com uma coletiva para falar qual é a pauta em que se tem interesse para os próximos dois meses.

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