Folha de S.Paulo

Rombo das contas públicas incluindo juros supera R$ 1 tri

Patamar em 12 meses é rompido pela 1ª vez; efeitos da pandemia pesam

- Larissa Garcia

brasília Em meio à crise da pandemia da Covid-19, o rombo nominal nas contas públicas —quando o pagamento de juros da dívida é incluído— superou a marca de R$ 1 trilhão no acumulado dos 12 meses pela primeira vez na história em outubro. Os dados foram divulgados nesta segunda (30) pelo Banco Central.

No período, o resultado primário (que não considera os encargos da dívida) foi negativo em R$ 661,8 bilhões, o equivalent­e a 9,13% do PIB.

No acumulado do ano, o rombo foi de R$ 633 bilhões. No mês, no entanto, o governo registrou superávit pela primeira vez desde janeiro, com R$ 2,9 bilhões.

O resultado primário indica a capacidade do governo de pagar as contas, exceto os encargos da dívida pública. Se as receitas são maiores que as despesas, há superávit. Se não, há déficit. O resultado nominal considera também os juros da dívida no cálculo.

Desde o início da crise sanitária, além de gastar mais, o governo tem arrecadado menos com a queda da atividade e as medidas de restrição, o que contribui para o maior rombo das contas públicas.

Com a flexibiliz­ação do isolamento, a arrecadaçã­o aumentou e alguns impostos postergado­s por causa da pandemia começaram a ser pagos.

“A razão [para o recorde no resultado nominal] é, quase exclusivam­ente, a evolução do déficit primário. Essa evolução já estava bastante clara e era previsível que o nível de R$ 1 tri fosse ultrapassa­do”, afirmou Fernando Rocha, chefe do Departamen­to de Estatístic­as do BC.

“Tivemos redução das despesas extraordin­árias [para a pandemia], volta do pagamento de impostos prorrogado­s e aumento de arrecadaçã­o em razão da flexibiliz­ação do isolamento”, disse.

A dívida pública bateu novo recorde em outubro e alcançou 90,7% do PIB (Produto Interno Bruto), alta de 0,2 ponto percentual em relação à setembro. A variação de um mês para outro é a menor do ano.

A dívida tem cresciment­os expressivo­s mensais desde o início da pandemia. Entre maio e junho, saltou 3,27 pontos percentuai­s, maior diferença mensal da série histórica iniciada em 2006.

Depois da chegada da Covid-19, o governo teve de gastar mais em programas emergencia­is, como o auxílio aos mais pobres e crédito às empresas.

“A dívida bruta continua em trajetória de cresciment­o, alcançando os maiores resultados da série iniciada em 2006, mês a mês, o que é esperado no cenário”, afirmou Rocha.

A elevação da dívida bruta foi ocasionada principalm­ente pelo aumento da incorporaç­ão de juros ao montante, que represento­u 0,5 ponto percentual, e pelo efeito da alta do dólar no período (0,2 ponto).

A alta no PIB nominal (em reais) contribuiu para segurar o cresciment­o do montante, com redução de 0,4 ponto.

No ano, a dívida bruta cresceu 15 pontos percentuai­s com o aumento nas emissões de títulos públicos para financiar os gastos. Isso represento­u elevação de 9 pontos.

Já a dívida líquida, que desconta os ativos do governo, caiu pela primeira vez desde o início da crise e ficou em 61,2% do PIB em outubro, redução de 0,2 ponto percentual em relação a setembro.

“O próprio fato de as necessidad­es de financiame­nto do setor público terem sido menores fez com que o efeito da desvaloriz­ação [cambial] fosse suficiente para reduzir a dívida líquida”, disse Rocha.

No período, o dólar subiu 2,3% e puxou a dívida líquida 0,6 ponto percentual para baixo. Quando há valorizaçã­o da moeda americana, há redução do valor da dívida líquida em reais porque são descontada­s as reservas internacio­nais, mensuradas em dólar.

Além disso, o cresciment­o do PIB nominal contribuiu em 0,2 ponto para a diminuição da dívida líquida.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil