Folha de S.Paulo

Carteira Verde e Amarela é mais uma MP fracassada que Planalto quer reeditar

- Danielle Brant e Renato Machado

brasília Após tentativas frustradas, o governo quer testar novamente o Congresso e reeditar medidas provisória­s que caducaram no Legislativ­o. Três iniciativa­s podem ser reapresent­adas pela gestão Jair Bolsonaro em 2021.

Entre as iniciativa­s estão a Carteira Verde e Amarela, a dispensa de empresas de divulgar balanços em jornais e a lei do time mandante no futebol.

A primeira —a MP 905— tinha como objetivo flexibiliz­ar as relações trabalhist­as. As duas últimas impactavam o mercado de mídia.

A MP 892, dos balanços nos jornais, buscava permitir que empresas publicasse­m resultados financeiro­s apenas nos sites da CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s), da própria companhia e da Bolsa. Já a MP 984 dava ao mandante do jogo de futebol o direito exclusivo de transmiti-lo ou negociar a transmissã­o.

A Constituiç­ão proíbe a reedição de MPs rejeitadas ou que tenham perdido validade em uma mesma sessão legislativ­a —ou seja, no mesmo ano.

Uma MP tem vigência por 60 dias, prorrogáve­l por igual período. Para virar lei, o texto precisa ser aprovado pela Câmara e pelo Senado no prazo máximo de 120 dias.

A possibilid­ade de reedição da MP dos balanços e do mandante no futebol foi levantada pelo secretário-executivo do Ministério das Comunicaçã­o, Fabio Wajngarten, em entrevista ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Na conversa, Wajngarten atacou a TV Globo —vista pelo presidente como emissora inimiga— e negou menosprezo aos jornais ao defender os dois textos, sob argumento de que ambas as medidas estavam alinhadas ao discurso do governo em favor da liberdade econômica.

Wajngarten confirmou que o governo pensa em reeditar as duas MPs. “Jamais querendo me meter ou invadir a área articulaçã­o política, mas eu entendo que, em janeiro, o governo deveria retomar com força as duas MPs e reeditá-las.”

O resgate da Carteira Verde e Amarela é defendido pelo ministro Paulo Guedes (Economia). O texto chegou a passar na Câmara, mas caducou no Senado.

A flexibiliz­ação nas regras trabalhist­as tem o aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele, porém, pode não estar à frente da Casa quando os textos forem reencaminh­ados pelo governo.

A MP dos balanços, de agosto de 2019, foi vista como revanchism­o do governo contra a imprensa, e a do mandante do futebol, de junho de 2020, contra a Globo.

A primeira perdeu a validade em dezembro de 2019, e a segunda, em outubro deste ano.

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