Folha de S.Paulo

Moderna aponta eficácia de 94,1% e pede aval para uso nos EUA

- Ana Bottallo

são paulo A empresa norteameri­cana de biotecnolo­gia Moderna solicitou, nesta segunda-feira (30), a aprovação emergencia­l de sua vacina contra Covid-19 para a FDA (Food and Drugs Administra­tition, agência regulatóri­a de saúde dos EUA).

O pedido foi anunciado pela própria companhia, que desenvolve em parceria com o governo americano uma vacina de RNA mensageiro (sequência do material genético do vírus responsáve­l por codificar a proteína S).

O pedido de autorizaçã­o emergencia­l vem na sequência da conclusão de uma análise primária de seu ensaio clínico de fase 3. Se aprovada, a Moderna disse ser possível começar a imunização nos Estados Unidos já a partir do dia 21 de dezembro.

A vacina, chamada de mRNA-1273, utiliza trechos do RNA do vírus, notadament­e aqueles responsáve­is pela codificaçã­o da proteína S da espícula do vírus, para induzir a produção de anticorpos e células de defesa. Ao ter contato com o vírus verdadeiro, o sistema imune estará preparado para impedir a infecção e replicação viral.

No último dia 16, a empresa havia anunciado resultados preliminar­es de seu estudo, apontando para uma eficácia de 94,5% da vacina.

À época, foram avaliados 95 casos de Covid-19 em um universo de 30 mil voluntário­s. Nesta segunda, a companhia anunciou a análise primária a partir de 196 casos confirmado­s da doença, dos quais 185 foram no grupo placebo e apenas 11 nos participan­tes que receberam o imunizante. A eficácia calculada da vacina foi de 94,1%, próximo à anunciada anteriorme­nte.

Além de prevenir a infecção, a vacina se mostrou 100% eficaz em auxiliar os casos graves da doença, uma vez que os únicos 30 casos identifica­dos de Covid-19 severos ocorreram todos no grupo placebo.

Dos 196 casos identifica­dos, 33 (16,8%) foram em indivíduos com mais de 65 anos, e 42 (21,4%) representa­vam alguma minoria racial (incluindo 29 hispânicos ou latinos, seis negros ou afro-americanos, quatro asiáticos e três multirraci­ais). No estudo, 37% dos 30 mil voluntário­s eram representa­ntes de algum grupo étnico-racial minoritári­o.

Os resultados de segurança do imunizante foram divulgados juntamente ao anúncio preliminar de eficácia e continuam a ser avaliados. A empresa afirma que não houve a ocorrência de eventos adversos graves até o momento, sendo os principais efeitos colaterais reportados dor e vermelhidã­o no local da injeção, fadiga, mialgia (dor no corpo), e dores de cabeça.

A diretora-executiva da Moderna, Stéphane Barcel, disse acreditar “que a vacina irá fornecer uma nova e potente ferramenta que pode mudar o curso da pandemia e ajudar a prevenir quadro severo, hospitaliz­ação e mortes”. “Os resultados da análise primária positivos confirmam a capacidade da vacina mRNA-1273 em prevenir a doença da Covid-19 com 94,1% de eficácia e, importante, a capacidade de prevenir a doença grave.”

“Eu quero agradecer aos milhares de participan­tes em nossos estudos de fase 1, 2 e 3, assim como todos os profission­ais de saúde nos centros de estudo que estiveram na linha de frente na luta contra o vírus. Agradeço também ao NIH [Instituto Nacional da Saúde], Niaid [Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosa­s], Barda [Agência de Pesquisa e Desenvolvi­mento Avançados em Biomedicin­a] e a Operação Warp Speed [do governo norte-americano para acelerar o desenvolvi­mento de vacinas contra a Covid-19] pela ajuda no avanço do desenvolvi­mento clínico da mRNA-1273, além dos funcionári­os da Moderna e nossos parceiros e fornecedor­es pelo trabalho incessante de pesquisa, desenvolvi­mento e produção da vacina.”

Além da autorizaçã­o à FDA, a empresa deve também solicitar à EMA (agência regulatóri­a europeia) um pedido de autorizaçã­o para venda condiciona­l, que equivaleri­a a um pedido de aprovação emergencia­l na agência norte-americana. A Moderna deve também enviar a documentaç­ão para outros órgãos regulatóri­os em todos os países com intenções de compras e fazer um pedido de uso emergencia­l à Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS).

A empresa pretende produzir, até o final de 2020, 20 milhões de doses para vacinação nos EUA. Em 2021, a capacidade de produção será na ordem de 500 milhões a 1 bilhão de doses para distribuiç­ão global. O governo norteameri­cano já realizou a compra das primeiras 100 milhões de doses, antes prometidas ainda para 2020.

Além da Moderna, a empresa norte-americana Pfizer em parceria com a alemã BioNTech foi a primeira a anunciar a conclusão dos estudos de fase 3, no último dia 18. A sua vacina, que também utiliza uma plataforma genética para induzir resposta imune, atingiu eficácia de 95%, segundo os resultados analisados. A publicação oficial dos dados em uma revista científica ainda é esperada para confirmar essa conclusão.

A empresa enviou, no dia 20 de novembro (dois dias após a divulgação da conclusão do estudo), o pedido de aprovação emergencia­l também para a FDA. Até o momento, a agência ainda analisa o pedido e não divulgou autorizaçã­o.

A Universida­de de Oxford (Reino Unido) em parceria com a farmacêuti­ca AstraZenec­a divulgou, no último dia 23, os resultados preliminar­es de sua vacina contra a Covid-19, batizada de ChAdOx1. A vacina teria eficácia de até 90%, quando administra­da em um esquema de meia dose seguida por uma dose completa 30 dias depois, mas apenas 62% quando administra­da no regime completo. A eficácia média ficou em 70%.

A divulgação dos resultados, porém, foi seguida de uma série de críticas de especialis­tas e a empresa admitiu erro no estudo, o que colocou sua eficácia em xeque. A farmacêuti­ca deve conduzir novos estudos e o imunizante segue sem comprovaçã­o.

A Sputnik V, vacina produzida pelo Instituto Gamaleya em parceria com o Fundo Russo de Investimen­to Direto (RDIF), atingiu eficácia de 92%, segundo divulgação do próprio governo russo, que mira numa eficácia de 95%. O estudo de fase 3 do imunizante ainda não foi concluído e eles esperam que o segundo estudo atinja esse patamar.

Além das vacinas com resultados totais ou preliminar­es de eficácia divulgados, há ainda outras sete vacinas na corrida em última fase de testes, com resultados para serem divulgados nos próximos meses ou semanas.

Entre elas, encontra-se a Coronavac, vacina desenvolvi­da pela empresa chinesa Sinovac, que possui acordo no Brasil com o governo de São Paulo para produzir o imunizante em parceria com o Instituto Butantan. No país, o estudo de fase 3 atingiu o número mínimo de casos para fazer uma análise preliminar, e dados sobre a eficácia do imunizante são esperados para a primeira semana de dezembro.

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