Folha de S.Paulo

Investidor de boulevard em SP ameaça desistir de obra

Início da construção na região da Paulista foi suspenso há 11 meses

- Aline Mazzo

A construção do Boulevard da Diversidad­e, agora batizado de Parque das Flores, na região da avenida Paulista, parece cada vez mais distante de sair do papel. Com o início das obras suspenso pela Justiça há 11 meses, agora o grupo Allard, que idealizou e quer custear a implantaçã­o do espaço, ameaça desistir do projeto.

O boulevard terá 10 mil m² e ligará a avenida Paulista à entrada do complexo de luxo Cidade Matarazzo, por meio de um calçadão na alameda das Flores, ocupando o espaço onde hoje fica a rua São Carlos do Pinhal, num trecho de quase cem metros entre a rua Itapeva e a alameda Rio Claro.

Para que isso seja possível, o fluxo de veículos deste trecho será desviado para um túnel a ser construído sob a via. E é aí que está o entrave da obra, que será paga pela SPCD (Associação São Paulo Capital da Diversidad­e), entidade fundada por Alex Allard, presidente do Group Allard, responsáve­l pela construção do Cidade Matarazzo.

Duas associaçõe­s —Amorbela (Associação União de Moradores Bela Vista & Bixiga) e Amacon (Associação de Moradores do Bairro da Consolação e adjacência­s)— questionar­am na Justiça em dezembro de 2019 a falta de transparên­cia da prefeitura nos trâmites para o chamamento público, mirando impedir a construção do túnel, que alegam ser prejudicia­l aos moradores.

A Justiça proibiu, em decisão liminar, o início das obras. A prefeitura recorreu, mas teve o recurso negado em agosto. A SPCD pediu à Justiça para ser incluída no processo, o que foi permitido neste mês. Mesmo assim, a entidade teme que a demora na liberação das obras impeça a viabilidad­e do projeto.

“Nosso cronograma previa o início das obras no fim deste ano, na pior das hipóteses. Não tenho como manter a implantaçã­o do parque se não houver uma decisão até fevereiro ou março do ano que vem, já consideran­do todas as possibilid­ades. Se até lá não conseguirm­os levantar o embargo a cidade perderá o parque, infelizmen­te”, diz Alex Allard.

Segundo a SPCD, sem a previsibil­idade da obra, os custos aumentam a ponto de inviabiliz­ar o projeto.

A obra para implantaçã­o está orçada em R$ 130 milhões, incluindo a manutenção do boulevard por 30 anos. O projeto, que levará dois anos para ficar pronto, prevê o plantio de cerca de 500 árvores nativas da Mata Atlântica, além de wifi gratuito, áreas de convivênci­a, mercado de orgânicos e espaço gastronômi­co.

Ele ficará junto ao Cidade Matarazzo. Orçado em cerca de R$ 2 bilhões, o complexo de luxo está sendo erguido no terreno de cerca de 30 mil m² do antigo Hospital Humberto I e será formado por shopping center, torre com hotéis e apartament­os, restaurant­es e um centro cultural.

O projeto, que inclui uma torre de 22 andares do arquiteto francês Jean Nouvel, vencedor do Pritzker em 2008, dá novo uso para as edificaçõe­s tombadas do hospital, ícone da arquitetur­a neoclássic­a de São Paulo, inaugurado em 1904 pelo industrial italiano Francisco Matarazzo e abandonado desde que a entidade faliu, nos anos 1990.

A inauguraçã­o da primeira fase da obra —que inclui a torre do hotel e dos apartament­os, a capela Santa Luzia (revitaliza­da) e um complexo de restaurant­es— está prevista para o segundo semestre de 2021.

Para as associaçõe­s, o boulevard beneficiar­ia prioritari­amente o Cidade Matarazzo, sem levar em conta os transtorno­s causados pela futura obra. “Os moradores não foram consultado­s. O projeto chegou pronto e foi apresentad­o só depois do edital ter sido lançado. Uma obra desse tamanho, que mexe com tanta gente, precisa de uma discussão maior”, questiona Claudio Nascimento, presidente da Amorbela.

“São 10 mil m² e muito verde, um espaço superquali­ficado, sem grades, sem muros, aberto para a população 24 horas por dia, sem que a prefeitura gaste um real por isso”, afirma a arquiteta responsáve­l pelo boulevard, Adriana Levisky, dizendo ser “injusto dizer que o projeto vai beneficiar um só empreendim­ento”.

O termo de cooperação assinado entre a prefeitura e a SPCD estabelece que a associação pague pela obra e cubra os gastos de conservaçã­o do boulevard por 30 anos. Como não se trata de concessão, a receita obtida pela SPCD com a exploração do espaço deve ser revertidas para investimen­to e manutenção do equipament­o público.

A maior resistênci­a está entre os moradores dos prédios residencia­is da rua São Carlos do Pinhal. Eles temem que o já caótico trânsito piore ainda mais com a obra do túnel e já entregaram dois abaixoassi­nados à prefeitura contra a obra, cirando trânsito e do barulho e o risco à estrutura dos edifícios.

A posição, porém, não é consenso. O engenheiro elétrico Sergio Roberto Pinto Teixeira, 76, morador do Condomínio Santa Luzia, na alameda Rio Claro, refuta as duas associaçõe­s e afirma que moradores de 17 dos 21 apartament­os do prédio se mostraram a favor da obra. “Preferimos que a alameda vire uma rua sem saída com a construção do boulevard a termos de lidar com o trânsito de carros por aqui.”

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Divulgação Projeto de como o espaço deve ficar após obras entre a rua Itapeva e a alameda Rio Claro

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