Folha de S.Paulo

Cidades são oportunida­des

Se a gente melhorar a cidade em que a gente vive, a gente melhora a vida que a gente leva

- Nizan Guanaes Empreended­or, criador da N Ideias

Falar de política está tão tóxico que esperei passar a eleição municipal para falar da política municipal. Mais do que viverem em países e estados, as pessoas vivem em cidades. Se a gente melhorar a cidade em que a gente vive, a gente melhora a vida que a gente leva.

São Paulo e Rio, nossas grandes metrópoles, sempre atraíram e concentrar­am talentos nacionais. E, com eles, boa parte das riquezas. Nos EUA, o outro gigante das Américas, existe imensa mobilidade populacion­al, com profusão de cidades médias e pujantes espalhadas pelo seu território que concorrem por talentos, investimen­tos e empresas. A China também fez programa forte para desenvolve­r centros urbanos.

São cidades que oferecem infraestru­tura eficiente, segurança, bons sistemas de saúde e boas universida­des. Assim, atraem grandes corporaçõe­s. Atlanta, com 500 mil habitantes, abriga as sedes de Coca-Cola, CNN, Home Depot e muitas outras. Seattle tem Amazon, Starbucks...

Isso também vem acontecend­o no Brasil, puxado pela locomotiva do agronegóci­o, mas em ritmo lento. A grande aceleração digital e tecnológic­a produzida na pandemia vai ajudar nesse processo, que traz grandes oportunida­des a prefeitos e gestores que fizerem a coisa certa para que suas cidades sejam o lugar certo da vida pós-pandemia.

Novas empresas, de todos os tamanhos, estão espalhando conexão digital pelo Brasil num ritmo de que mal podem dar conta. As consequênc­ias para a mobilidade das pessoas, do trabalho, da produção, do conhecimen­to serão enormes. E ainda tem esta: mais de um terço dos paulistano­s e dos cariocas trocaria de cidade se pudesse, segundo pesquisa no Valor no fim de semana.

Se eu fosse prefeito recémeleit­o, estaria olhando para tudo isso e traçando a estratégia para tornar a minha cidade o home e o office para cidadãos insatisfei­tos do país todo e do mundo todo.

Minha terra natal, Salvador, é um ótimo exemplo. O prefeito ACM Neto reformou a cidade em oito anos de gestão e a colocou no caminho certo. Agora ela precisa se preparar para o home e para o office.

Uma cidade como Salvador pode se posicionar como grande destino no mundo digitaliza­do. Especialme­nte para pessoas com 50 anos ou mais, que têm experiênci­a, conhecimen­to, poder aquisitivo.

E, nessa idade, em vez de começarem a pensar na aposentado­ria, começam a planejar a segunda metade da vida. Querem aprender coisas novas, dar novo rumo às carreiras, mas com mais qualidade de vida. Salvador, bem organizada, pode dar tudo isso e mais. Outras cidades brasileira­s, também.

Esta crise valorizou e levou o nosso olhar a enxergar coisas que não olharíamos: Salvador tem quantidade enorme de lugares abertos, verão o ano todo, uma cultura única e incrível. É uma cidade de gabarito global, que concorre com Lisboa, com Miami. Tem narrativa, tem apelo. Seu lugar no mundo está dado, mas precisa estratégia para ocupá-lo propriamen­te.

Está na hora de lançar um olhar transforma­dor sobre tudo. Eu tive Covid no começo da pandemia e fiquei trancado no quarto. Ao ficar trancado no quarto, olhei para uma série de coisas a que não prestava atenção. E, ao enxergar tudo isso, estou evoluindo com essa reflexão.

As cidades precisam passar por esse processo. Os prefeitos recém-eleitos precisam liderar esse processo. As novas Câmaras Municipais, também. Mas a sociedade civil tem que puxar. E nisso a revolução tecnológic­a ajuda também. Estamos muito mais conectados, muito mais atentos.

Boas vindas a todos os prefeitos e prefeitas eleitos. Não espero que sejam perfeitos, mas que sejam prefeitos.

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