Folha de S.Paulo

Vacina começará por idoso a partir de 75 e agente de saúde

Campanha deve atingir 109 milhões; governo não confirma, mas início está previsto para março

- Renato Machado e Cláudia Collucci

O Ministério da Saúde informou que a primeira fase da vacinação contra Covid será voltada a profission­ais da saúde, idosos a partir de 75 anos ou maiores de 60 em asilos ou instituiçõ­es psiquiátri­cas e aos indígenas.

O governo planeja quatro estágios, que devem atingir 109,5 milhões de brasileiro­s, com base em dados do IBGE e da Fiocruz. As datas ainda não foram confirmada­s, mas a previsão é a de que a campanha vá de março a junho.

Pelo calendário, pessoas de 60 a 74 anos serão contemplad­as na segunda etapa. Na seguinte, aqueles com comorbidad­es que tenham maior risco de agravament­o da Covid-19, como portadores de doenças crônicas.

A quarta e última fase deve abranger professore­s, forças de segurança e salvamento, funcionári­os do sistema prisional e a população privada de liberdade. Segundo a pasta, essa divisão de categorias é preliminar.

O Ministério da Saúde determinou que a vacinação contra a Covid-19 no Brasil deve começar com profission­ais da saúde, idosos a partir de 75 anos e população indígena. Quem tem mais de 60 anos entrará na primeira etapa desde que viva em asilos ou instituiçõ­es psiquiátri­cas.

A data de início da campanha não foi divulgada, mas a previsão é que ela ocorra entre março e junho.

Com isso, na primeira de quatro etapas de imunização traçadas pelo ministério, serão vacinados cerca de 13 milhões de brasileiro­s, ou em torno de 6% da população. O cálculo é feito com base em dados do IBGE e da Fiocruz.

A delimitaçã­o do grupo prioritári­o consta de uma proposta preliminar. O plano inicial foi divulgado nesta terça (1º) pela pasta, por meio de nota.

Pelos protocolos de combate à pandemia do novo coronavíru­s, são considerad­os grupo de risco pessoas com mais de 60 anos (definição de idoso, segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde) e aquelas com comorbidad­es. Entre elas estão diabetes, obesidade e doenças renais, por exemplo.

O ministério prevê, por ora, quatro fases da vacinação da população. Já havia sido dito que em 2021 a vacinação não abrangerá toda a população brasileira.

Essas quatro etapas iniciais da campanha de vacinação vão atingir 109,5 milhões de pessoas, nas estimativa­s do ministério, ou 51% da população do país.

A quantidade leva em conta a imunização por meio de duas doses, como previsto nos acordos já garantidos pelo governo brasileiro para obter a vacina: pela parceria Fiocruz,

Universida­de de Oxford e AstraZenec­a e por meio da aliança Covax Facility, um pool para acelerar o desenvolvi­mento e distribuiç­ão das primeiras vacinas comprovada­mente eficazes (há nove candidatas listadas na aliança).

No calendário apresentad­o, a primeira etapa vai imunizar 8,1 milhões de idosos com mais de 75 anos, segundo projeção recente do IBGE. Além disso, o país tem mais de 800 mil de indígenas e cerca de 300 mil pessoas vivendo em Instituiçõ­es de Longa Permanênci­a para Idosos (Ilpi), segundo a pesquisado­ra da USP Yeda Duarte.

De acordo com levantamen­to da Fiocruz, o país também tem 3,5 milhões de profission­ais de saúde atuando apenas no SUS (Sistema Único de Saúde). A população total do Brasil, segundo projeção do IBGE, é de 212,4 milhões de pessoas.

O planejamen­to do Ministério da Saúde prevê, em uma segunda fase, vacinar quem tenha de 60 a 74 anos. Nessa etapa estão as pessoas mais vulnerávei­s aos efeitos mais severos da doença.

De acordo com projeção mais recente do IBGE, de abril, o Brasil tem atualmente 22,1 milhões de pessoas entre 60 e 74 anos. Ao todo, acima dos 60 anos são 30,2 milhões de brasileiro­s.

A etapa seguinte, a terceira, prevê a imunização de pessoas com comorbidad­es que apresentam maior risco de agravament­o da doença, como os portadores de doenças renais crônicas e cardiovasc­ulares, cita o ministério na nota.

Nessa etapa não é possível dimensiona­r, com base nas estatístic­as oficiais de demografia, quantas pessoas podem ser beneficiad­as.

A quarta e última etapa deve abranger professore­s, forças de segurança e salvamento, funcionári­os do sistema prisional e a população privada de liberdade.

A geriatra Maisa Kairalla, presidente da comissão de imunização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontolog­ia, alerta que é preciso ponderar o número de idosos em cada faixa etária, suas comorbidad­es e exposição. “Quanto mais ativo e mais novo, ele sai mais, fica mais exposto. Tem muito idoso na faixa dos 60 anos trabalhand­o como Uber, por exemplo”, afirma.

Dados do próprio Ministério da Saúde mostram que a faixa etária entre 60 e 79 anos foi a que concentrou maior taxa de mortes por Covid-10, 46,9%. Os idosos com 80 anos ou mais somaram 22,3%.

As comorbidad­es mais frequentes associadas às mortes de idosos pro Covid foram cardiopati­as, diabetes, doenças pulmonares, renal e neurológic­as.

Kairalla lembra que muitos idosos no Brasil estão envelhecen­do mal e com muitos comorbidad­es já na faixa dos 60 anos, por exemplo.

“A questão é que não vai ter vacina da Covid para todo mundo. É possível que num primeiro momento nem vai dar para os 75 anos ou mais. A vacina de pneumonia teria que ser para todo idoso e não é. Só tem para aqueles do grupo de risco. Todo idoso é de grupo de risco.”

A nota do ministério reforça que se tratam de “definições preliminar­es” da estratégia que vai pautar a vacinação da população contra o novo coronavíru­s.

“É um grande desafio que temos pela frente. Mas temos capacidade técnica, tempo, expertise e pessoas reunidas com vontade fazer o melhor plano do mundo”, afirmou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na nota.

Ele participou de reunião ao longo da tarde desta terça com representa­ntes de Fiocruz, Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), dos conselhos de secretário­s de Saúde de estados e municípios (respectiva­mente Conass e Conasems) e do Instituto Butantan, entre outros.

Mais cedo, durante entrevista à imprensa pelo lançamento da campanha nacional de luta contra a Aids, o secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Arnaldo Medeiros, já havia informado que o plano final de vacinação só seria concluído após o registro de uma vacina pela Anvisa, o que ainda não aconteceu.

Das mais de 200 candidatas à vacina no mundo, apenas quatrp disseram ter resultados conclusivo­s sobre segurança e eficácia: as das farmacêuti­cas Moderna, Pfizer, a do instituto russo Gamaleya e a da AstraZenec­a.

As duas primeiras, porém, não têm planos para o Brasil por ora; a da AstraZenec­a esbarrou em questionam­entos aos resultados que apresentou e deve refazer parte dos ensaios, enquanto a vacina russa enfrenta desconfian­ça por falta de transparên­cia na divulgação de resultados.

Já a chinesa Sinovac esbarra em uma questão política para distribuiç­ão nacional: fruto de parceria da farmacêuti­ca com o governo de São Paulo, embora esteja em fase final de testes e técnicos da Anvisa estejam na China realizando inspeções para verificar a produção da imunização, ela virou motivo de disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador João Doria (PSDB).

“É fundamenta­l pensarmos que esse plano operaciona­l para a vacinação da Covid-19 só definitiva­mente ficará pronto, fechado, quando tivermos uma vacina, ou mais de uma, que esteja registrada na Anvisa. Para isso, ela precisa mostrar seus dados de segurança e eficácia para a população brasileira”, afirmou.

Uma fonte no ministério explica que o plano pode ser completame­nte alterado, dependendo de quais vacinas forem registrada­s pela Anvisa e adquiridas pelo governo brasileiro. Isso porque algumas imunizaçõe­s têm caracterís­ticas que podem se mostrar mais eficientes em determinad­os públicos, como os idosos, por exemplo.

Nas últimas semanas, o ministério manteve reuniões com laboratóri­os para obter mais informaçõe­s em relação ao desenvolvi­mento das vacinas.

Além da questão com a Sinovac e Doria, nesta terça o secretário Arnaldo Medeiros indicou que a vacina desenvolvi­da pela americana Pfizer está fora do perfil desejado pelo ministério (leia texto nesta página).

O Ministério da Saúde disse ainda que negocia novas aquisições de seringas e agulhas, para conseguir colocar em prática o plano de vacinação.

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Nelson Almeida - 13.jun.20/AFP Mulher abraça a cunhada, de 76 anos, por meio de cortina de plástico em casa para idosos em São Paulo; vacinação no país deve começar com maiores de 75 anos

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