Assalto a banco de Criciúma é o maior da história de SC
Um policial ficou ferido e quatro pessoas foram presas por pegar dinheiro no chão após explosão
Roubo ao Banco do Brasil em Criciúma (SC), com ao menos 30 criminosos, dez automóveis e armamento de calibre exclusivo das Forças Armadas, causou pânico na cidade na madrugada de ontem. Ação é considerada a maior do tipo no estado.
CRICIÚMA (SC), porto alegre e são paulo Um assalto ao Banco do Brasil em Criciúma (SC), com pelo menos 30 criminosos que usaram armamento de calibre exclusivo das Forças Armadas e ao menos dez automóveis, causou pânico na cidade, que ficou sitiada na noite de segunda-feira (30) e madrugada de terça-feira (1º).
Os criminosos fecharam acessos por meio de barreiras, trocaram tiros com a polícia, fizeram reféns e explodiram o cofre do banco, em ação que durou ao menos duas horas. O roubo é considerado o maior do tipo na história do estado.
A quadrilha atacou o 9º Batalhão da Polícia Militar com tiros nas janelas, bloqueou a saída com um caminhão em chamas e provocou uma explosão acionada por celular.
O policial militar Jeferson Esmeraldino, 32, foi alvejado no abdômen em uma troca de tiros com os assaltantes e, até a tarde desta terça-feira, estava em estado grave após ter passado por três cirurgias.
Os assaltantes não haviam sido localizados até a conclusão desta edição. As autoridades também não deram informações sobre a quantia de dinheiro que teria sido levada pelos criminosos.
O Banco do Brasil informou à Folha que não se manifestará sobre os valores roubados e disse que nenhum funcionário ou colaborador foi ferido.
A Polícia Militar prendeu quatro pessoas que recolheram R$ 810 mil espalhados pelo chão após a explosão de cofres do banco.
A madrugada foi classificada como de terror e típica de cenas de filme pelos moradores que residem próximo ao banco assaltado.
Nos relatos ouvidos pela Folha, as reações foram semelhantes, com pessoas procurando abrigo nos corredores e longe das janelas quando viram que a rua estava tomada por pessoas encapuzadas e portando armas.
Na tarde seguinte ao assalto na cidade de 210 mil habitantes, a rua onde fica o Banco do Brasil estava isolada pela Polícia Militar.
A advogada Aline Castelan, 42, afirma ter vivenciado, a partir da meia-noite, duas horas de terror junto aos filhos de 8 e 15 anos.
“Eu tinha pensado que os barulhos eram de fogos de artifício, mas vi os homens embaixo do prédio, que gritavam ‘saiam das janelas, não queremos matar ninguém’”, disse à Folha. “Então peguei meus dois filhos e fomos para um corredor onde não havia janelas”.
A advogada também disse ter visto que quatros assaltantes estavam posicionados um em cada esquina do quarteirão do banco. Segundo ela, o grupo tinha um líder, que dava as ordens.
“Sempre morei nessa região e nunca vi nada parecido. Foi aterrorizante. Estava rezando para que a polícia não viesse, porque tínhamos certeza que, se ela chegasse, a rua iria virar uma zona de guerra”, afirmou ela.
A médica Fernanda Dal Toé, 36, também contou que teve medo de ficar em meio ao fogo cruzado com uma eventual chegada dos policiais. Os moradores do seu prédio chegaram a desligar os elevadores para evitar que os assaltantes invadissem os apartamentos.
“Estávamos à mercê do que pudesse acontecer, não tínhamos o que fazer se entrasse alguém. As informações que nos chegavam eram pelo WhatsApp e tinha muita coisa desencontrada”, disse Dal Toé.
Por volta da meia-noite, segundo diferentes relatos, os barulhos foram confundidos por parte dos moradores com os de fogos de artifício. Quando viram que a rua estava cercada pelos assaltantes, desligaram as luzes dos apartamentos e procuraram abrigo.
Os carros que passavam nas ruas eram abordados e os motoristas obrigados a retornar. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, os assaltantes ordenaram que um veículo parasse em frente à praça do Congresso, uma das mais famosas da cidade.
O condutor não acata e arranca com o carro, que é alvo de tiros. Pelo que se pode perceber pela continuação da filmagem, ele consegue escapar do cerco dos criminosos.
Os momentos de tensão só acabaram às 2h, quando os barulhos de tiros cessaram e começaram a circular, pelas redes sociais, imagens de um comboio com os carros dos assaltantes saindo da cidade em velocidade reduzida.
O engenheiro civil Massaro Oga Júnior, 26, chegou a sair de casa na noite do assalto, cerca de uma hora depois que os barulhos de tiros cessaram.
Ele afirmou ter visto pessoas nas ruas recolhendo o dinheiro deixado pelos assaltantes.
A polícia suspeita de que o assalto de Criciúma tenha tido um longo planejamento. Na manhã desta terça, órgãos de segurança retiraram material explosivo que permaneceu no local. O Instituto Geral de Perícias (IGP) está trabalhando para coletar provas.
Segundo o delegado Anselmo Cruz, a polícia suspeita de que o crime tenha sido planejado por criminosos de São Paulo que não são ligados a facções criminosas. “Não temos esse perfil de criminosos em Santa Catarina. Pode ter algum integrante que seja efetivamente do estado, mas sabemos que é uma ação de fora”, disse o delegado.
Ele comparou o assalto com o crime ocorrido no aeroporto de Blumenau em 2019. “O roubo em Blumenau começou a ser organizado nove meses antes e era de menor proporção.”
O governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), se reunirá com os órgãos de segurança em Criciúma
De acordo com o comandante-geral da PM, coronel Dionei Tonet, equipes especializadas como o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Choque, Batalhão de Aviação, Canil e Polícia Militar Rodoviária Estadual atuarão no caso.
O prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (PSDB), pediu que a população ficasse em casa para se proteger.
“Continue em casa. Mantenha todos os cuidados. Vamos deixar a polícia fazer o papel de polícia”, disse em vídeo divulgado nas redes sociais.
Ações semelhantes ocorreram nos últimos meses em cidades do interior de São Paulo, como Araraquara, Botucatu e Ourinhos.
Em redes sociais, moradores postaram vídeos, fotos e relatos da ação da quadrilha.
Alguns dos vídeos mostram os criminosos circulando em comboio de carros pela cidade. Em outros, os assaltantes aparecem a pé na região das agências bancárias, encapuzados e atirando.
Um dos moradores registrou o momento de explosão na agência bancária, tática dos assaltantes para pegar o dinheiro nos caixas eletrônicos. Há também imagens de pessoas sentadas no meio da rua, enfileiradas, em uma barreira humana supostamente organizada pelos assaltantes.
Circulam vídeos em que moradores da cidade pegam notas de dinheiro que teriam ficado espalhado pelas ruas da região central após o assalto.
“Eu tô rico”, diz um deles. “Sai da rua e larga o dinheiro”, gritam policiais em outro vídeo divulgado por uma moradora. “Eu não estou acreditando”, ela diz.
A agência do Banco do Brasil não abriu nesta terça. Em nota, o banco afirmou que a ação era do tipo “novo cangaço”. A expressão tem sido usada para modalidade de crime que ataca cidades de forma planejada e não raramente com uso de reféns como cordão humano. Em Criciúma, imagens registraram moradores usados como reféns.
O termo é uma referência ao Cangaço, fenômeno do sertão nordestino em que grupos dominavam cidades. Lampião (1898-1938) é o personagem mais conhecido do período, chamado de Rei do Cangaço.