Folha de S.Paulo

Assalto a banco de Criciúma é o maior da história de SC

Um policial ficou ferido e quatro pessoas foram presas por pegar dinheiro no chão após explosão

- Artur Búrigo, Paula Sperb e Cristina Camargo

Roubo ao Banco do Brasil em Criciúma (SC), com ao menos 30 criminosos, dez automóveis e armamento de calibre exclusivo das Forças Armadas, causou pânico na cidade na madrugada de ontem. Ação é considerad­a a maior do tipo no estado.

CRICIÚMA (SC), porto alegre e são paulo Um assalto ao Banco do Brasil em Criciúma (SC), com pelo menos 30 criminosos que usaram armamento de calibre exclusivo das Forças Armadas e ao menos dez automóveis, causou pânico na cidade, que ficou sitiada na noite de segunda-feira (30) e madrugada de terça-feira (1º).

Os criminosos fecharam acessos por meio de barreiras, trocaram tiros com a polícia, fizeram reféns e explodiram o cofre do banco, em ação que durou ao menos duas horas. O roubo é considerad­o o maior do tipo na história do estado.

A quadrilha atacou o 9º Batalhão da Polícia Militar com tiros nas janelas, bloqueou a saída com um caminhão em chamas e provocou uma explosão acionada por celular.

O policial militar Jeferson Esmeraldin­o, 32, foi alvejado no abdômen em uma troca de tiros com os assaltante­s e, até a tarde desta terça-feira, estava em estado grave após ter passado por três cirurgias.

Os assaltante­s não haviam sido localizado­s até a conclusão desta edição. As autoridade­s também não deram informaçõe­s sobre a quantia de dinheiro que teria sido levada pelos criminosos.

O Banco do Brasil informou à Folha que não se manifestar­á sobre os valores roubados e disse que nenhum funcionári­o ou colaborado­r foi ferido.

A Polícia Militar prendeu quatro pessoas que recolheram R$ 810 mil espalhados pelo chão após a explosão de cofres do banco.

A madrugada foi classifica­da como de terror e típica de cenas de filme pelos moradores que residem próximo ao banco assaltado.

Nos relatos ouvidos pela Folha, as reações foram semelhante­s, com pessoas procurando abrigo nos corredores e longe das janelas quando viram que a rua estava tomada por pessoas encapuzada­s e portando armas.

Na tarde seguinte ao assalto na cidade de 210 mil habitantes, a rua onde fica o Banco do Brasil estava isolada pela Polícia Militar.

A advogada Aline Castelan, 42, afirma ter vivenciado, a partir da meia-noite, duas horas de terror junto aos filhos de 8 e 15 anos.

“Eu tinha pensado que os barulhos eram de fogos de artifício, mas vi os homens embaixo do prédio, que gritavam ‘saiam das janelas, não queremos matar ninguém’”, disse à Folha. “Então peguei meus dois filhos e fomos para um corredor onde não havia janelas”.

A advogada também disse ter visto que quatros assaltante­s estavam posicionad­os um em cada esquina do quarteirão do banco. Segundo ela, o grupo tinha um líder, que dava as ordens.

“Sempre morei nessa região e nunca vi nada parecido. Foi aterroriza­nte. Estava rezando para que a polícia não viesse, porque tínhamos certeza que, se ela chegasse, a rua iria virar uma zona de guerra”, afirmou ela.

A médica Fernanda Dal Toé, 36, também contou que teve medo de ficar em meio ao fogo cruzado com uma eventual chegada dos policiais. Os moradores do seu prédio chegaram a desligar os elevadores para evitar que os assaltante­s invadissem os apartament­os.

“Estávamos à mercê do que pudesse acontecer, não tínhamos o que fazer se entrasse alguém. As informaçõe­s que nos chegavam eram pelo WhatsApp e tinha muita coisa desencontr­ada”, disse Dal Toé.

Por volta da meia-noite, segundo diferentes relatos, os barulhos foram confundido­s por parte dos moradores com os de fogos de artifício. Quando viram que a rua estava cercada pelos assaltante­s, desligaram as luzes dos apartament­os e procuraram abrigo.

Os carros que passavam nas ruas eram abordados e os motoristas obrigados a retornar. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, os assaltante­s ordenaram que um veículo parasse em frente à praça do Congresso, uma das mais famosas da cidade.

O condutor não acata e arranca com o carro, que é alvo de tiros. Pelo que se pode perceber pela continuaçã­o da filmagem, ele consegue escapar do cerco dos criminosos.

Os momentos de tensão só acabaram às 2h, quando os barulhos de tiros cessaram e começaram a circular, pelas redes sociais, imagens de um comboio com os carros dos assaltante­s saindo da cidade em velocidade reduzida.

O engenheiro civil Massaro Oga Júnior, 26, chegou a sair de casa na noite do assalto, cerca de uma hora depois que os barulhos de tiros cessaram.

Ele afirmou ter visto pessoas nas ruas recolhendo o dinheiro deixado pelos assaltante­s.

A polícia suspeita de que o assalto de Criciúma tenha tido um longo planejamen­to. Na manhã desta terça, órgãos de segurança retiraram material explosivo que permaneceu no local. O Instituto Geral de Perícias (IGP) está trabalhand­o para coletar provas.

Segundo o delegado Anselmo Cruz, a polícia suspeita de que o crime tenha sido planejado por criminosos de São Paulo que não são ligados a facções criminosas. “Não temos esse perfil de criminosos em Santa Catarina. Pode ter algum integrante que seja efetivamen­te do estado, mas sabemos que é uma ação de fora”, disse o delegado.

Ele comparou o assalto com o crime ocorrido no aeroporto de Blumenau em 2019. “O roubo em Blumenau começou a ser organizado nove meses antes e era de menor proporção.”

O governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), se reunirá com os órgãos de segurança em Criciúma

De acordo com o comandante-geral da PM, coronel Dionei Tonet, equipes especializ­adas como o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Choque, Batalhão de Aviação, Canil e Polícia Militar Rodoviária Estadual atuarão no caso.

O prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (PSDB), pediu que a população ficasse em casa para se proteger.

“Continue em casa. Mantenha todos os cuidados. Vamos deixar a polícia fazer o papel de polícia”, disse em vídeo divulgado nas redes sociais.

Ações semelhante­s ocorreram nos últimos meses em cidades do interior de São Paulo, como Araraquara, Botucatu e Ourinhos.

Em redes sociais, moradores postaram vídeos, fotos e relatos da ação da quadrilha.

Alguns dos vídeos mostram os criminosos circulando em comboio de carros pela cidade. Em outros, os assaltante­s aparecem a pé na região das agências bancárias, encapuzado­s e atirando.

Um dos moradores registrou o momento de explosão na agência bancária, tática dos assaltante­s para pegar o dinheiro nos caixas eletrônico­s. Há também imagens de pessoas sentadas no meio da rua, enfileirad­as, em uma barreira humana supostamen­te organizada pelos assaltante­s.

Circulam vídeos em que moradores da cidade pegam notas de dinheiro que teriam ficado espalhado pelas ruas da região central após o assalto.

“Eu tô rico”, diz um deles. “Sai da rua e larga o dinheiro”, gritam policiais em outro vídeo divulgado por uma moradora. “Eu não estou acreditand­o”, ela diz.

A agência do Banco do Brasil não abriu nesta terça. Em nota, o banco afirmou que a ação era do tipo “novo cangaço”. A expressão tem sido usada para modalidade de crime que ataca cidades de forma planejada e não raramente com uso de reféns como cordão humano. Em Criciúma, imagens registrara­m moradores usados como reféns.

O termo é uma referência ao Cangaço, fenômeno do sertão nordestino em que grupos dominavam cidades. Lampião (1898-1938) é o personagem mais conhecido do período, chamado de Rei do Cangaço.

 ?? Guilherme Ferreira/Reuters ?? Policial confere bolsa com dinheiro recuperada após assalto que deixou Criciúma, no sul de Santa Catarina, sitiada
Guilherme Ferreira/Reuters Policial confere bolsa com dinheiro recuperada após assalto que deixou Criciúma, no sul de Santa Catarina, sitiada
 ?? Reprodução Globonews ?? Carros abandonado­s são encontrado­s em Nova Veneza, vizinha a Criciúma
Reprodução Globonews Carros abandonado­s são encontrado­s em Nova Veneza, vizinha a Criciúma

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