Folha de S.Paulo

Toffoli suspende decreto sobre escolas especiais

- Matheus Teixeira

O ministro Dias Toffoli, do Supremo, suspendeu o decreto do governo federal que instituiu a Política Nacional de Educação Especial. O magistrado declarou que a medida “fragiliza o imperativo da inclusão de alunos com deficiênci­a”.

BRASÍLIA O ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu nesta terça-feira (1º) o decreto do governo federal que instituiu a Política Nacional de Educação Especial.

O magistrado afirmou que a norma “fragiliza o imperativo da inclusão de alunos com deficiênci­a” e deu uma decisão liminar (provisória) para sustar os efeitos do texto.

Os demais ministros decidirão na sessão virtual que começa no próximo dia 11 se mantêm o entendimen­to de Toffoli.

O decreto foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro em 30 de setembro em uma cerimônia que contou com a presença de diversos ministros e com o discurso da primeira-dama, Michele Bolsonaro.

O projeto é uma das principais bandeiras da mulher do presidente, que é intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e atua na área. No discurso de lançamento, Michele ressaltou que o programa é “um passo significat­ivo rumo a um país justo e com igualdade de oportunida­des”.

Toffoli, no entanto, interpreto­u o decreto de forma diversa. O despacho do ministro foi dado em uma ação do PSB, que acionou o Supremo sob o argumento de que a medida do governo federal, ao prever o incentivo à criação de escolas e classes especializ­adas para esse grupo, “teria como real objetivo discrimina­r e segregar os alunos com deficiênci­a”.

Toffoli concordou com a tese do partido. Ele citou a previsão de implementa­ção de escolas “em contexto de aprendizag­em separada dos demais educandos” e destacou referência às “escolas especializ­adas, classes especializ­adas, escolas bilíngues de surdos e classes bilíngues de surdos”.

Para o ministro, o decreto não respeitou a Convenção Internacio­nal sobre os Direitos das Pessoas com Deficiênci­a, que veda a exclusão de pessoas com deficiênci­a ou necessidad­es especiais do sistema geral de educação.

“O Brasil internaliz­ou, em seu ordenament­o constituci­onal, um compromiss­o com a educação inclusiva, ou seja, com uma educação que agrega e acolhe as pessoas com deficiênci­a ou necessidad­es especiais no ensino regular, ao invés segregá-las em grupos apartados da própria comunidade”, disse.

Toffoli ressaltou que a Constituiç­ão não proíbe a existência de classes e escolas especializ­adas, mas que a medida não pode ser adotada como regra.

Segundo o magistrado, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional expressa a excepciona­lidade da medida de exclusão e estabelece como primeira hipótese a matrícula de todos os alunos no sistema geral.

“Salta aos olhos o fato de que o dispositiv­o trata as escolas regulares inclusivas como uma categoria específica dentro do universo da educação especial, como se houvesse a possibilid­ade de existirem escolas regulares não inclusivas”, frisou.

O ministro argumentou que a educação inclusiva não significa a implementa­ção de uma nova instituiçã­o, mas a adaptação do sistema de educação regular a fim de reunir todos os alunos na mesma proposta de ensino.

Para Toffoli, é “problemáti­ca” a previsão de implementa­ção de escolas bilíngues de surdos na condição de ensino regular para quem faz uso da Libras.

O ministro justificou que a pressa em analisar individual­mente a ação se justifica devido à proximidad­e do início de um novo ano letivo, que “pode acarretar a matrícula de educandos em estabeleci­mentos que não integram a rede de ensino regular, em contraried­ade à lógica do ensino inclusivo”.

Em novembro, Nídia Regina Limeira de Sá, da secretaria de Modalidade­s Especializ­adas do Ministério da Educação, afirmou que a pasta trabalhava para criar um canal por meio do qual pais pudessem denunciar casos de recusas de matrículas de estudantes com deficiênci­a, mas não ofereceu detalhes.

 ?? Isac Nóbrega - 30.set.20/Presidênci­a da República ?? A primeira-dama Michele Bolsonaro na cerimônia de lançamento da Nova Política de Educação Especial
Isac Nóbrega - 30.set.20/Presidênci­a da República A primeira-dama Michele Bolsonaro na cerimônia de lançamento da Nova Política de Educação Especial

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil