Folha de S.Paulo

E se a esquerda se dividir em 2022?

- Bruno Boghossian helio@uol.com.br

brasília Apesar das experiênci­as de união em algumas capitais, as eleições de 2020 aprofundar­am a divisão que vem sendo cavada há alguns anos na esquerda. Sinais emitidos pelos principais atores desse campo indicam que a composição de uma frente para 2022 está mais distante.

O processo dos últimos meses cristalizo­u o distanciam­ento entre o PT e a aliança formada por PDT e PSB. A presidente petista, Gleisi Hoffmann, já disse que as eleições deixaram feridas e que ainda considera difícil um acordo com aquela dupla.

Já o presidente do PSB afirmou que o PT sempre viveu “na contramão da história” e que não vê uma reaproxima­ção com a sigla. “Nós não somos obrigados a seguir o PT. Ele tem o direito de errar, errou muito a vida inteira, mas nós não somos obrigados a seguir”, declarou Carlos Siqueira ao jornal O Globo.

Por sua vez, Ciro Gomes (PDT) disse que o PT e seus aliados “não têm humildade nem capacidade de compreende­r e se reconcilia­r com o povo”. Sobrou também para o PSOL de

Guilherme Boulos (“radical”) e o PC do B de Flávio Dino (“perderam um pouco a noção da realidade”).

Esse tom sugere que dois ou mais candidatos competitiv­os devem disputar o voto da esquerda em 2022. Essa divisão aconteceu na última eleição presidenci­al e não impediu que um desses nomes chegasse ao segundo turno contra Jair Bolsonaro.

Em 2018, a esquerda teve pouco mais de 42% dos votos válidos já no primeiro turno. Só uma pulverizaç­ão dramática desse eleitorado ou a ocupação do espaço por outro candidato deixaria todos eles de fora da fase final. Na próxima disputa, os impactos dessa divisão vão depender do comportame­nto daqueles personagen­s dali por diante.

Se a briga por votos no primeiro turno aumentar o rancor que já se manifesta agora, deve deixar sequelas graves para o segundo turno. Esse afastament­o tende a reduzir a mobilizaçã­o de cabos eleitorais e o engajament­o dos apoiadores dos candidatos derrotados. Num embate acirrado, isso pode fazer diferença.

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