Folha de S.Paulo

O racismo e o preconceit­o com a função policial

Precipitad­amente, colunista condenou ação de policiais que arriscam suas vidas

- Robson Cabanas Duque Coronel da Polícia Militar de São Paulo, é chefe do Centro de Comunicaçã­o Social

Foi com surpresa e perplexida­de que a Polícia Militar de São Paulo recebeu o artigo do colunista da Folha Zeca Camargo (“Rima com racismo”; 25.nov.20) criticando, de maneira preconceit­uosa, a atuação da corporação durante um walking tour, que reuniu um grupo de pessoas para visitar locais associados à história dos negros na capital.

No dia 24 de outubro, o grupo que realizava o passeio se queixou da presença de policiamen­to. Por mais incrível que possa parecer, alegaram incômodo com a presença da equipe que estava lá para garantir a segurança e a tranquilid­ade dos próprios participan­tes. A PM recebe, mensalment­e, dezenas de pedidos de policiamen­to para eventos públicos e manifestaç­ões. No caso do walking tour citado, o evento chegou ao conhecimen­to como uma manifestaç­ão pública, sendo elaborado planejamen­to e destinados os recursos necessário­s. Independen­temente do tipo de evento, seja manifestaç­ão ou passeio cultural, a ação policial sempre tem o objetivo de propiciar proteção aos participan­tes; sendo, portanto, fundamenta­l para uma democracia de qualidade.

Voltando ao artigo de Zeca Camargo, que qualificou o policiamen­to como uma “honra duvidosa”, é certo que atingiu a dignidade de meio milhão de policiais militares pelo país, como indicam as poderosas mídias sociais. De maneira precipitad­a, condenou a ação de profission­ais que arriscam suas vidas diariament­e, classifica­ndo-os como racistas e revelando discrimina­ção contra uma categoria que existe para proteger pessoas que sequer conhece, especialme­nte negros, pobres e minorias.

Se a honra é duvidosa para Zeca, certamente não o é para as mais de 150 mil pessoas que foram salvas pela Polícia Militar de maneira direta, sem contar as que tiveram suas vidas preservada­s em razão da apreensão de 6.500 armas de fogo e da prisão em flagrante delito de quase 75 mil criminosos —isto apenas no estado de São Paulo, em 2020. Para que tudo isso fosse possível, 18 policiais militares morreram e 101 ficaram feridos em ação, além dos 29 que pereceram em razão da Covid-19, honrando o juramento que fizeram ao tomarem posse.

Se o racismo existe? Claro que existe, afinal são os policiais que atendem às ocorrência­s de injúria racial e racismo nos quatro cantos deste país. Contudo, não é a partir de classifica­ções arbitrária­s ou ideológica­s, acusando instituiçõ­es e classes de trabalhado­res, que a sociedade corrigirá sua dívida histórica com a população negra. É preciso mais! Necessitam­os sair do campo ideológico e teórico, praticando atitudes positivas e concretas.

Na Polícia Militar, por exemplo, a proporção de negros é maior do que na população do estado. Além disso, eles ocupam quatro vezes mais cargos de liderança na instituiçã­o em comparação com o que ocorre na sociedade (conforme dados da Polícia Militar de São Paulo cruzados com os do Caged).

Atualmente, existe um grupo de trabalho na Polícia Militar que está atualizand­o o Manual de Direitos Humanos, buscando avançar no estímulo às práticas positivas, partindo da premissa de que não basta o policial conhecer o racismo, mas também precisa atuar como promotor da igualdade racial, combatendo-o de maneira forte e veemente.

Não é a partir de classifica­ções arbitrária­s ou ideológica­s, acusando instituiçõ­es e classes de trabalhado­res, que a sociedade corrigirá sua dívida histórica com a população negra. É preciso mais! Necessitam­os sair do campo ideológico e teórico, praticando atitudes positivas e concretas

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