Folha de S.Paulo

Aliança anti-Bolsonaro precisa afastar centro da direita, afirma Ciro

Ex-presidenci­ável do PDT diz não acreditar que esse processo seja construído em torno de Lula e João Doria

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são paulo | uol O ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta terça-feira (1) que o Brasil precisa de uma aliança de centroesqu­erda e centro-direita para fazer frente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições de 2022. “Mais do que viável, acho necessária [essa aliança]”, disse durante participaç­ão no UOL Entrevista.

A declaração foi dada ao colunista do UOL Leonardo Sakamoto, que o questionou sobre uma declaração do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na segundafei­ra (30), também em participaç­ão no UOL Entrevista, Maia citou Ciro e outros nomes, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) e o apresentad­or Luciano Huck, para formar uma frente de centro nas próximas eleições.

Para Ciro, a esquerda precisa formar uma aliança com a política de centro, que tradiciona­lmente se alia à direita no país, para chegar com mais chances de vitória em 2022.

“O futuro, do meu ponto de vista, pede o encerramen­to da ilusão neoliberal e a formulação, em um ambiente muito difícil e complexo, de um projeto nacional de desenvolvi­mento. Esse projeto, para ser viável, tem de tomar uma parte do centro político da sua tradiciona­l relação umbilical com a direita”, afirmou Ciro.

Questionad­o se acharia mais fácil construir uma aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou com Doria, Ciro disse não acreditar em nem uma coisa, nem outra.

O ex-governador cearense defendeu uma aliança entre PDT, PSB, Rede e PV para a travessia de um primeiro grande obstáculo, “com meus 15%, 14% [de intenções de votos]”, para depois se discutir a continuida­de desse processo.

“O que vou fazer, à luz do dia, na frente de todos, é tentar capturar um pedaço de centro-direita para uma ampla aliança na centro-esquerda”, disse Ciro. “Se eu conseguir isso, vou ser o próximo presidente do Brasil. Se não, eu boto a viola no saco e vou ser um livre pensador”, afirmou.

Apesar de dizer que gostaria de ser candidato em 2022, Ciro declarou que não necessaria­mente o seu nome será lançado em uma eventual chapa nas eleições. “Eu quero ser, mas não me imponho”.

Ciro avaliou ainda que, nas eleições municipais de 2020, o bolsonaris­mo e o lulopetism­o foram os grandes perdedores e acabaram “banidos” pelos eleitores das grandes cidades do país. O ex-governador ainda conectou os dois segmentos e disse que um sustenta o outro.

“O Bolsonaro, para mim, nunca foi nem será jamais popular no Brasil enquanto o lulopetism­o deixar de ser o fator ocasionado­r desse ultraconse­rvadorismo brasileiro”, disse.

“Esse lulopetism­o sai completame­nte desmoraliz­ado dessas eleições do Brasil. Espero que essas confrontaç­ões odientas sejam mandadas brigar lá fora, para que a gente possa construir aqui em audiência com a lição das urnas. O Brasil está sendo destruído do ponto de vista do seu tecido econômico e sua situação de contas públicas”, afirmou.

Para o ex-governador cearense, houve um grande voto ao centro, centro-esquerda e centro-direita —mas que, na avaliação dele, não é “orgânico”. “Precisa ser organizado para fazer alguma proposta para 2022, mas esse é o sinal que a população mandou nas urnas”, disse Ciro.

“Além do resgaste da política da realização. Ganharam as eleições aqueles capazes de entregar, me parece o fim estagiário­s nas posições de grande responsabi­lidade”, completou.

Ciro também não poupou críticas ao PT. Ao longo da entrevista, afirmou que o PSOL representa uma “esquerda raiz” no bom sentido, que não contempori­zou com a “roubalheir­a”

do PT, além de criticar a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, e o lançamento da candidatur­a de Jilmar Tatto (PT) à Prefeitura de São Paulo.

Para ele, PSOL e o nome de Guilherme Boulos, candidato pelo partido para a Prefeitura de São Paulo que chegou ao segundo turno da disputa, mas perdeu para o atual prefeito Bruno Covas (PSDB), representa­m uma “possibilid­ade” de os jovens serem de esquerda no Brasil sem se associarem com problemas do PT.

“[PSOL e Boulos] São uma possibilid­ade dos jovens serem de esquerda no Brasil sem ter que explicar o [ex-ministro Antonio] Palocci, a Gleisi Hoffmann, essas loucuras que essa burocracia corrompida do PT praticou e querem agora que a nação inteira engula, sem nenhuma autocrític­a, essa arrogância, essa prepotênci­a”, disse.

Ciro voltou a defender que a candidatur­a de Márcio França (PSB), apoiada pelo PDT, tinha mais chances de derrotar Covas no segundo turno em São Paulo. “Mas não titubeamos em apoiar o Boulos porque é o tipo de esquerda que não tem que explicar nada para apoiar, porque é decente, enfim, uma coisa nova, respeitáve­l. Não temos que ficar explicando banditismo”, disse.

Em outubro, Ciro e o expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrara­m numa tarde para discutir uma possível união da esquerda contra Bolsonaro em 2022. Os dois têm uma relação estremecid­a desde 2018 e já trocaram alfinetada­s públicas diversas vezes.

Dias depois do encontro, Ciro disse que ele e Lula tiveram uma “conversa muito franca, muito franca mesmo, lavamos a roupa suja para valer”.

Na terça, o pedetista contou que apresentou uma série de críticas ao petista, incluindo a indicação de Michel Temer (MDB) para o cargo de vice na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Com o impeachmen­t de Dilma, Temer acabou ocupando a Presidênci­a. Segundo Ciro, Lula concordou em parte com as críticas apresentad­as por ele —mas não disse quais.

“Tudo que eu estou dizendo em público disse para o Lula. E o que ele me disse não vou dizer”, afirmou.

“Esse projeto, para ser viável, tem de tomar uma parte do centro político da sua tradiciona­l relação umbilical com a direita Ciro Gomes ex-governador do Ceará e ex-ministro

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