Folha de S.Paulo

Aos 26 anos, eleito do PSL em reduto petista tem bênção de Luciano Hang

Gustavo Nunes venceu pleito em Ipatinga (MG) contra clãs políticos e com apoio de Bolsonaro

- José Marques

são paulo “Alô, meu presidente. Agradeço imensament­e o seu apoio e pode ter certeza que nós não vamos decepciona­r o senhor”, disse o vereador Gustavo Nunes (PSL), 26, em um vídeo no qual reagia ao apoio de Jair Bolsonaro (sem partido) à sua candidatur­a à Prefeitura de Ipatinga (Vale do Aço de Minas Gerais).

Bolsonaro havia pedido voto em Gustavo e em outros candidatos numa de suas transmissõ­es ao vivo nas redes sociais, no início de novembro.

“Quem acredita em mim, eu peço que acredite nos candidatos desses municípios”, afirmou o presidente. “Por exemplo, Ipatinga. Tem um garoto lá... Gustavo Nunes, [número] 17, está no PSL. Se puder votar nele, agradeço.”

Com o apoio de Bolsonaro, a campanha mais cara da cidade e um forte discurso anticorrup­ção, Gustavo Nunes foi eleito com 40% dos votos válidos no município mineiro de 265 mil habitantes.

Foi uma das principais vitórias no país do PSL, partido que abrigou Bolsonaro na campanha de 2018, mas não elegeu nenhum prefeito este ano em cidades com mais de 200 mil eleitores —aptas a terem segundo turno.

O partido na cidade tem um histórico de forte influência de Roberto Silva Soares, o Robertinho Soares, que foi assessor do ex-deputado Marcelo Álvaro Antônio, hoje ministro do Turismo.

Robertinho é ex-presidente municipal do partido. Alvo de investigaç­ão no escândalo dos laranjas do PSL, revelado pela Folha, chegou a ser preso em junho de 2019 e foi denunciado junto com o ministro.

Neste ano, o PSL ipatinguen­se lançou Gustavo Nunes, que havia ficado como suplente de vereador em 2016 e assumido um assento na Câmara só em 2019, quando integrante­s da Casa foram cassados.

Apesar de ter sido um reduto petista nos últimos 30 anos, a cidade sofreu nos últimos tempos com uma política turbulenta e judicializ­ada, que provocou a troca precoce de diversos prefeitos.

Apesar da idade e da pouca experiênci­a, Gustavo Nunes conquistou 45.980 votos e ficou à frente de caciques da política local, como o atual prefeito Nardyello Rocha (Cidadania), o ex-prefeito Sebastião Quintão (MDB), que concorria como vice do DEM, e o ex-prefeito João Magno (PT).

Teve uma receita na campanha de R$ 970 mil, dos quais R$ 698 mil foram repassados pelo PSL estadual referentes ao fundo eleitoral. O segundo lugar, o prefeito Nardyello, teve receita de R$ 610 mil.

Segundo o presidente do PSL de Minas Gerais, o deputado federal Charlles Evangelist­a, o partido apostou em Nunes porque pesquisas internas apontavam que a população “queria um candidato com o perfil dele, de fora de grupos políticos tradiciona­is, que poderia fazer a ruptura daquela política antiga de Ipatinga”.

Em campanha, Nunes fez promessas como a de “fechar a torneira da corrupção” e “revisar todos os contratos públicos, corrigindo falhas”.

Depois de eleito, uma das suas primeiras agendas foi ir a Brasília encontrar Marcelo Álvaro Antônio. O ministro foi denunciado pelo Ministério Público sob acusação de falsidade ideológica eleitoral, apropriaçã­o indébita de recurso eleitoral e associação criminosa. Ele nega as acusações.

Outra agenda do prefeito eleito foi uma ida a Brusque (SC) para encontrar o empresário Luciano Hang, da Havan, conhecido apoiador do presidente Jair Bolsonaro.

“Está aqui hoje comigo o prefeito e o vice-prefeito eleitos de Ipatinga, em Minas Gerais. Pra quê? ‘Luciano, precisamos de uma loja em Ipatinga’. [Ele está] Buscando investimen­tos, buscando empreended­ores e empregos para a sua cidade”, afirmou Hang.

Para instalar uma loja na cidade o único pedido que o empresário faz à prefeitura é que não haja burocracia e que o trabalho da aprovação de projetos seja rápido.

Procurado pela reportagem, Nunes respondeu a perguntas por meio de sua assessoria, por escrito. Afirmou que pretende aplicar valores de “verdade, honestidad­e, transparên­cia, respeito, fé e família” em sua administra­ção.

Sua coligação tinha apenas o PSL e o PSC, que elegeram 3 do total de 19 vereadores da cidade. Questionad­o sobre se irá governar com as outras forças políticas do município, não detalhou.

Disse que o único compromiss­o que tem “é com o povo”. “O relacionam­ento entre nosso governo e a Câmara e o Judiciário será de respeito e em prol do povo, cada um exercendo o seu papel.”

Ele afirma que conheceu Bolsonaro quando o presidente foi a Ipatinga, em agosto. Já sobre Hang, diz que por fazerem “parte de uma mesma linha ideológica”, amigos em comum falaram sobre ele para o empresário, mas só se conheceram na quinta (26).

Gustavo Nunes não vê contradiçã­o entre o seu discurso anticorrup­ção e a proximidad­e com Marcelo Álvaro Antônio, porque o ministro não tem condenação. “Acredito que a lei está para todos e, conforme a Constituiç­ão, até que se prove o contrário, somos todos inocentes”, afirma.

Já Robertinho Soares, segundo ele, apoiou a sua campanha apenas como “entusiasta do projeto e filiado ao PSL”.

Questionad­o sobre se ele terá alguma participaç­ão na gestão, afirmou que ainda não há cargos definidos, e que eles serão ocupados por pessoas “tecnicamen­te capazes”.

“Entretanto, assim como o ministro Marcelo Álvaro, ele não tem nenhum processo transitado em julgado, portanto não teria nenhum impediment­o legal caso quisesse assumir qualquer cargo público.”

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Gustavo Nunes no Instagram O ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio e Gustavo Nunes, 26, prefeito eleito em Ipatinga

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