Folha de S.Paulo

Conta paga a Itaipu financia estradas, sede do Itamaraty e até vitrais

- Catia Seabra

rio de janeiro O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) visitou nesta terça-feira (1º) as obras da segunda ponte entre Brasil e Paraguai, custeadas pela margem brasileira de Itaipu Binacional.

O orçamento é de R$ 463 milhões, incluindo desapropri­ações e a construção de uma perimetral.

Em menos de um mês, essa é a segunda vez que Bolsonaro vai ao Paraná para tratar de obras de infraestru­tura custeadas por Itaipu. Em 6 de novembro, o presidente anunciou um pacote de obras bancado pela empresa.

Uma das missões da companhia é promover o desenvolvi­mento na sua área de abrangênci­a, o que inclui, do lado brasileiro, pouco mais de 50 municípios do oeste do Paraná. Mas, de uns anos para cá, nem todos os projetos estão nesse perímetro e miram a função de promover desenvolvi­mento.

Itaipu —cuja fonte de recursos é a conta de luz paga pelos consumidor­es brasileiro­s— tem previsão de liberar R$ 1,4 bilhão para sustentar 31 projetos.

Na lista, estão desde a construção de escolas militares à instalação de vitrais em uma catedral.

Apenas o Dnit (Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s) é intervenie­nte de convênios que ultrapassa­m R$ 1 bilhão.

Uma das obras, a estrada do boiadeiro, vai demandar R$ 223 milhões, incluindo o pagamento de indenizaçã­o para desapropri­ação, no valor de R$ 18,2 milhões, e R$ 11,9 milhões para reajustes contratuai­s. Totalmente financiada por Itaipu, a obra tem por objetivo “disciplina­r o tráfego entre Mato Grosso do Sul e Paraná.

Itaipu também bancará a conservaçã­o, a restauraçã­o e a gestão do complexo arquitetôn­ico dos acervos do Ministério das Relações Exteriores do Rio de Janeiro.

O custo com o Palácio de Itamaraty, que fica a quase 1.500 quilômetro­s da usina, está calculado em R$ 7,318 milhões. A justificat­iva para o gasto estaria no fato de o Tratado de Itaipu ter sido assinado no palácio.

“O Tratado de Itaipu privilegia o Ministério das Relações Exteriores ao reservar, na composição do conselho de administra­ção de Itaipu Binacional, a indicação de um conselheir­o. Portanto, o Palácio do Itamaty pode ser compreendi­do como integrante do patrimônio cultural intangível da entidade”, justifica o projeto.

Além de delegacias e batalhões, o pacote inclui convênios com os ministério­s da Educação e Defesa para implantaçã­o de quatro escolas cívico-militares em três anos, no valor de R$ 11,6 milhões.

Entre os gastos com empreendim­entos culturais, destacam-se os R$ 2,6 milhões voltados a custear a instalação de vitrais na Catedral Nossa Senhora de Guadalupe, em Foz do Iguaçu.

Entre as obras financiada­s com o dinheiro arrecadado com a cobrança de tarifa de luz, está o convênio com a fundação municipal de Saúde de Foz de Iguaçu, no valor de R$ 26,1 milhões, para equipar o hospital municipal Padre Germano Lauck, hospital de alta e média complexida­de.

Ao assumir a diretoria-geral de Itaipu brasileira, o general Joaquim Silva e Luna fixou a redução da tarifa como meta de sua gestão. Mas o valor, aplicado em dólar, está congelado desde 2009.

Chefe de gabinete da diretoria-geral, o coronel Ricardo Bezerra ressalta que as obras não representa­m aumento de tarifa. Segundo ele, a intenção de Luna é baixar o valor da tarifa, que depende de acordo com a margem paraguaia de Itaipu.

“O compromiss­o do general foi não aumentar tarifa para fazer obra. Mas não conseguiu baixar a tarifa”, disse Bezerra.

Segundo a assessoria de imprensa de Itaipu, o financiame­nto dessas obras está de acordo com a Nota Reversal entre a República Federativa do Brasil e República do Paraguai, formalizad­a em março de 2005, que estabelece­u que as iniciativa­s no campo da responsabi­lidade social e ambiental são componente­s permanente­s das atividades desenvolvi­das pela Itaipu.

“Cabe destacar que a missão institucio­nal da Itaipu é gerar energia elétrica de qualidade com responsabi­lidade social e ambiental, contribuin­do com o desenvolvi­mento sustentáve­l no Brasil e no Paraguai”, diz a nota.

Ainda segundo assessoria da empresa, o critério para a escolha dos projetos se baseia no “alinhament­o com os governos federal e estadual, relevância social e econômica e os impactos positivos para o desenvolvi­mento nacional, conforme definido no plano estratégic­o da Itaipu Binacional”.

Questionad­a sobre o financiame­nto de obras em vez da redução de tarifas, a assessoria de Itaipu afirmou que a fixação do valor é anual e de forma binacional para cobrir todos os custos da entidade.

“Os recursos necessário­s para as iniciativa­s no campo socioambie­ntal são componente­s permanente­s da missão da Itaipu”, diz a nota.

“Importante destacar que a tarifa da Itaipu permanece congelada desde 2009 (US$ 22,60 kW) e que as obras estruturan­tes financiada­s pela empresa não tiveram nenhum impacto no seu valor.”

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