Folha de S.Paulo

PIB deve ter expansão recorde no 3º tri, mas não recuperará nível pré-crise

- Eduardo Cucolo

Estimativa­s de cresciment­o variam de 7,4% a 11,2%, o que não compensa o tombo de 9,7% no 2º tri em relação ao período entre janeiro e março

são paulo A economia brasileira deve crescer cerca de 9% no terceiro trimestre deste ano, uma variação recorde, mas insuficien­te para recuperar todas as perdas verificada­s na crise provocada pela pandemia do novo coronavíru­s.

Os dados do PIB serão divulgados nesta quinta-feira (3%) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a).

De acordo com a agência Bloomberg, as estimativa­s de cresciment­o de 30 instituiçõ­es consultada­s variam de 7,4% a 11,2%, com mediana de 8,7%.

A taxa trimestral de cresciment­o é a maior registrada na série histórica do IBGE, que começa em 1996, mas o dado está influencia­do pela base de comparação, devido à queda recorde verificada entre abril e junho deste ano, de 9,7%.

Reflete ainda um pacote de estímulos para enfrentar a pandemia que está entre os maiores do mundo, R$ 400 bilhões naqueles três meses (25% do PIB do trimestre), juros baixos e um cenário externo favorável para as exportaçõe­s brasileira­s, segundo economista­s ouvidos pela Folha.

O resultado também está em linha com o verificado na maioria dos países. Segundo dados compilados pela OCDE, entre cerca de 30 economias que já divulgaram o resultado do segundo trimestre, o cresciment­o do PIB ficou em 8,5% na média.

A expectativ­a agora é de um cresciment­o mais lento nos últimos três meses deste ano e de retorno ao patamar de 2019 em algum momento de 2021 ou 2022.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da BNP Paribas Asset Management, projeta cresciment­o de 9% para o terceiro trimestre, ritmo que deve desacelera­r para cerca de 1% nos três últimos meses do ano.

Para 2021, a expectativ­a é um ritmo de cresciment­o trimestral médio de 0,4%, o mesmo visto no período 2017-2019. Somado ao efeito estatístic­o da base de comparação baixa em 2020, seria um cresciment­o de 3,2%, após uma contração prevista de 5,6% neste ano.

As projeções, segundo a economista, estão em linha com os dados do próprio IBGE, que mostraram cresciment­o entre 20% e 30% para setores com

Tatiana Pinheiro economista­chefe da BNP Paribas Asset Management

“O que tem de acontecer no Brasil e no restante dos países é a economia voltar ao ritmo que é condizente com o seu PIB potencial e tentar melhorar esse ritmo de cresciment­o, mas não artificial­mente

indústria, comércio varejista e construção civil.

O ritmo de cresciment­o também reflete a diferença entre uma economia com as atividades em grande parte limitadas ou fechadas e uma economia que está com as atividades abertas, em um ambiente de aumento de estímulos fiscais e monetários.

“É a diferença desse desliga/liga, com toda essa quantidade de política fiscal e monetária para minimizar o efeito desse desligamen­to, que foi necessário na hora em que teve o surto de Covid”, afirma.

Para a economista, não é possível, nem sustentáve­l, manter o ritmo de cresciment­o do terceiro trimestre.

“O que tem de acontecer no Brasil e no restante dos países é a economia voltar ao ritmo que é condizente com o seu PIB potencial e tentar melhorar esse ritmo de cresciment­o, mas não artificial­mente.”

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, também diz que não é possível sustentar o ritmo do terceiro trimestre. Ele projeta cresciment­o 8,5% no trimestre, com retração de 4,5% no acumulado do ano e expansão de 4% em 2021.

Segundo Padovani, as projeções pessimista­s do início da pandemia foram revertidas a partir da reação de praticamen­te todos os países no mesmo sentido.

“O que aconteceu foi uma surpresa. A gente viu todos os países dando incentivos fiscais e monetários. Você teve um impulso externo e um câmbio favorável que ajudou a exportação. Os preços de commoditie­s subiram. Uma parte dessa surpresa nós mesmos criamos, com taxas de juros muito baixas e gastos públicos elevados”, afirma Padovani.

“A gente não continuará com o mesmo impulso fiscal. As taxas de juros no mercado futuro vêm subindo há algum tempo. O impulso externo vai ser menor, a gente está vendo uma segunda onda de contágio importante nos EUA e na Europa. Tudo sugere que os motivos que levaram a gente a ter uma recuperaçã­o muito intensa e rápida não estarão presentes nem no quarto nem no primeiro trimestre do ano que vem.”

Segundo o economista, a pandemia deixa duas coisas boas, o início de um ciclo global de commoditie­s e taxas de juros ainda baixas. Por outro lado, o país terá de lidar com um desemprego elevado e uma dívida pública que limita impulsos fiscais adicionais.

A projeção mais pessimista na coleta da Bloomberg é do FGV Ibre, que espera cresciment­o de 7,3% no consumo das famílias, fortemente influencia­do pelo auxílio emergencia­l, e de 15,6% nos investimen­tos, que contam com a ajuda da construção civil, que deve crescer 8,1%.

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